A Torch

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Já faziam 2 meses desde que Josh começara a seu tratamento de quimioterapia. Ele não podia estar mais feliz com a companhia de Tyler que estava com ele a todo momento, mas ele sabia que algo estava errado. Tyler começou a passar muito tempo e dormia quase todos os dia na casa de dele. Joseph estava claramente evitando os pais.
Mesmo com Ty tendo se tornado muito mais ouvinte e agora realmente estar DIZENDO coisas, ele ainda estava evitando o assunto.
Mesmo com os pequenos bons e os um tanto quanto incômodos detalhes, tudo corria "bem".

Era um sábado a tarde, Josh estava já com a lateral da cabeça cheia de pontos falhos.
Tyler e Josh estavam no banheiro que a 2 meses estivera manchado de azul, ambos em frente ao espelho, porém, Josh estava sentado em um banquinho e Tyler com a maquininha na mão.

- por incrível que pareça - começou Ty - seu cabelo fez a proeza de cair apenas nas laterais!

- é eu sei - sem graça mas com um sorriso respondeu Josh - mas depois que você raspar as laterais a gente vai fazer uma coisa.

Josh se levantou num pulo correu para o quarto, ele revirou sua cômoda até achar a pequena caixa vermelha.
Ele a pegou e voltou para o banheiro.

- pronto - disse se sentando no banquinho novamente e colocando a caixinha na pia - vamos pintar o que sobrar de vermelho e você vai me trazer uma daquelas toucas vermelha que você tem okay?

- ahhhhhhh! Vou ter que ir andando até em casa?! - Ty bufou e caiu na gargalhada - okay eu vou! É melhor do que usar um desses seus bonés super abertos! Pelo menos esse seu cabelo vermelho vai ficar sinistrø!

Então todo o processo se deu início. Tyler raspou as laterais deixando Josh com um moicano e depois juntos eles pintaram o cabelo de Josh de vermelho.

Eu olhava para o rapaz que deixava de ser azul para se tornar vermelho, cor da dor. Eu o conhecia melhor que qualquer pessoa. Seus olhos mocha eram profundos e gentis, ele não merecia o fim... não agora... o que era isso? Uma ponta de... empatia talvez? Algo mais forte? Não sei... eu me vi no espelho enquanto os admirava, cabelos volumosos, pele morena porém morta, eu era a face do fim.

Naquele dia tudo ocorreria bem para a dupla de migos, mas para mim o trabalho apenas começava.
Naquela noite a vida de Josh seria ou não poupada.

Já era noite quando voltaram. Eu olhava para os dois garotos sorrindo e apreciando a simples presença um do outro. Mas o fim eu já sabia. Era como Joseph havia dito "ele estava destinado ao fracasso", mas não era só ele, mas ambos. Um dependia do outro, um estava preso ao outro. Os dois estão caindo, apenas curtindo a queda, a queda até o vazio.

Tyler voltou com Josh de carro, um velho Nissan prata que Ty comprara com o salário de meses de trabalho no Taco Bells em suas ferias de verão no segundo ano do ensino médio. Josh havia comprado um radio novo para Ty depois que o roubaram no ano seguinte.

Tyler estacionou o carro na saida da garagem e desligou o rádio. Josh foi o primeiro a descer. Eu estava parada em frente a casa e estava segurando minha pequena tocha, pois a noite era escura e cheia de temores. Naquela noite eu guiaria alguém junto comigo para o vazio.

Josh passou direto por mim, subiu a varanda para abrir a porta e Tyler veio vindo logo atrás. Quando Ty estava a 3 passos de mim ele olhou diretamente em meus olhos. Ele olhou no fundo no meu ser. Eu senti algo rasgar em mim ma Ty ficou ali me encarando. Seus olhos brilhavam de uma maneira doentia.

- Josh!- ele elevou sua voz chamando a atenção do menino que agora era vermelho.

- o que foi? - retrucou Josh se virando, ele estava muito mais magro, também com profundas olheiras e a pele bem pálida.

- Josh... Você... você não está vendo ela?

Tyler apontou diretamente para mim. Eu tremi. Como ele podia me ver? Apenas pessoas a beira da morte podiam me ver e Josh era o que estava doente e não me via, como Ty poderia?

Josh veio devagar até o lado do amigo olhando através de mim. Ele não me via mas estava claramente abalado.

- Josh, a garota - Tyler olhou rapidamente para Josh e me fitou novamente - a garota de preto, cabelos cacheados e volumosos, pele morena mas pálida como se tivesse doente ou sei lá

Tyler me descrevera. Ele realmente me vira.

- Tyler - Josh parou na frente de Ty e o encarou - não há nada ali. Vamos para dentro. Vem.

Josh o puxou consigo enquanto ele me encarava e então ambos entraram na casa.
Eu não fazia ideia do que acabara de acontecer, mas definitivamente também estava confusa. Essas não eram as regras. Ele não poderia me ver a não ser que fosse a hora dele.

Eu então me vi junta com eles novamente. Sou sua Ceifadora estava ligada a Josh.

Era tarde da noite e os meninos já dormiam. Minha consciência via o que Josh sonhava e isso me alegrava, saber que ele ainda tinha sonhos. Eu então fui fazer uma pequena visita a Ashley. Fui até seu quarto ainda com minha pequena tocha e olhei para ela. Tão jovem e pura, gentil e cheia de amor. Essa era a vida que substituiria a de Josh, a única que poderia. Eu por um momento pude ver seus sonhos e algo me atingiu... senti gotas rolarem de meus olhos. Eu estava... chorando? É muito raro um Ceifador chorar, nunca foi visto tal coisa acontecer, era quase como apenas uma lenda. Mas ali estava eu chorando lágrimas de puro sangue. Lágrimas de dor. Nesse momento alguém entrou no quarto.
Era Tyler com sua touca vermelha, ele estava me vendo, era claro. Eu tentei secar as lágrimas mas o que fiz foi espalha-las mais, formando olheiras vermelhas ao redor de meus olhos.

- Eu consigo te ver, Josh não - ele começou - não se assuste eu só quero saber quem ou o que você é...

Ele começou a andar em minha direção e esticou sua mão até a minha segurando-a.

- apenas venha comigo, converse comigo. Só...

Eu me deixei ser conduzida por ele que andava levemente e cordialmente, saindo da casa e me levando para a floresta. Quando chegamos perto da casa de ouro ele soltou minha mão. Sua mão era tão quente e viva tocando a minhas, me esquentava e quando ele a soltou senti o calor se esvair de imediato.

- Me diga moça...

- Sou uma ceifadora, Tyler - eu o interrompi. Ele pareceu atônito - estou aqui por Josh. Ele é meu elo. Sou dele e ele é meu e meu trabalho é leva-lo comigo.

Tyler congelou por um momento. Ele deu dois passos para trás.

- não tema, não é chegada a sua hora, e nem a de Josh, por enquanto. Não entendo o porque me vê mas saiba que apenas faço meu trabalho.

- mas você tava no quarto da Ashley, o que você tava fazendo lá?

- apenas vendo os sonhos de uma bela garotinha que viverá por décadas...

Tyler empalideceu. Ele se aproximou de mim. Eu era um pouco mais baixa que ele. Ele estava a meio metro de mim quando levantou o braço direito e tocou com as costas da mão em meu rosto. O calor irradiou por todo meu rosto e eu deixei a tocha cair, assustando-o e quebrando o contato.

- então é assim que a morte é?

Eu apenas o olhei nos olhos e toquei com a ponta dos dedos em sua testa.
Fomos transportados para onde ele dormia no quarto de Josh e de repente Ty estava em um sono profundo.

Ali eu fiquei observando ambos dormirem. E então me perdi em pensamentos.
Tyler não poderia me ver, não antes da hora. Isso era um sinal. A hora havia chegado, e naquele domingo eles me acompanhariam.

A Car, A Torch, A DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora