PARTE 02 - Parceria

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A/N: Primeiro POV da Camila *u*


POV Camila "Cabello" Estrabao

E quando você pensa que tudo está, finalmente, prestes a ficar calmo, quando você pensa que finalmente vai poder se encaixar em algum lugar, que finalmente vai poder abraçar a mulher que ama, sem ter que se preocupar com as pessoas que estão em volta, vem alguém e tenta te enfiar uma bala na cabeça.

Eu entendia a raiva que Ariana tinha. Eu sabia que ela iria vir atrás de mim, eventualmente. Mas não achava que ela iria vir até a Austrália apontar uma arma na minha cabeça.

Na verdade, eu já tinha meio que me esquecido da existência daquela mulher. Não que eu fosse esquecer-me de Sarah. Não... Afinal, o nome dela tatuado no meu pulso não deixaria. É que apenas... eu tinha me envolvido tanto nesta nova concepção de vida que acabei me desapegando das outras coisas. Como, por exemplo, a própria máfia. Criação de meu pai, passada para o meu comando como um último presente antes de ele deixar a vida.

Eu tinha dinheiro o suficiente para passar o resto da minha vida morando em uma cobertura de frente para o mar. Mas ainda assim não queria simplesmente largar tudo. Aquilo foi por um tempo. Aqueles quatro ou cinco meses que passei viajando de país em país, fugindo de tudo o que me ameaçava, aquilo tudo tinha acabado. Tinha que acabar eventualmente, afinal. Eu só não queria que fosse tão rápido. Eu só queria ter mais tempo com Lauren...

Lauren... Outra de minhas preocupações, senão a maior. A mulher dos encantadores olhos verdes. Tão brilhantes e apaixonantes. Tão claros ao Sol e tão hipnotizantes que acabam por ser indescritíveis.

Estes olhos nem de longe se pareciam com aquele verde escuro que me encarava com raiva. Suas sobrancelhas estavam levantadas logo acima deles, e um pouco abaixo, eu podia notá-la prender a mandíbula. A encarei por um instante. Ela pôs as mãos na cintura e comprimiu os olhos.

Lá vem.

— Quando é que você pretendia me falar que a Sarah tinha uma mulher antes de você? — ela indagou, ainda com as mãos na cintura.

Respirei fundo.

— Bem... nunca!? — eu falei, com uma das mãos coçando a nuca. Aposto que minha cara de culpada devia estar impagável.

Não foi a resposta que ela queria.

Ela bufou e se aproximou de mim, ficando há menos de um metro de distância.

— Nunca? NUNCA? COMO VOCÊ PODE SIMPLESMENTE IGNORÁ-LA?

— Lolo, eu não achei que ela fosse alguém importante — eu disse numa tentativa falha de acalmá-la.

Tentativa bem falha mesmo. Ela levantou os braços, exasperada e virou de costas pra mim, andando de um lado pro outro no pequeno quarto do hotel em que estávamos hospedadas já se fazia uma semana.

— Como uma pessoa dessa não é importante? Ela simplesmente veio até a porra da Austrália pra tentar te enfiar uma bala na cabeça — ela tagarelou. Eu sentei na cama, a observando andar de um lado para o outro. Eu estava tão cansada. — E afinal de contas, por quê diabos ela tem uma arma? Como ela te achou aqui? Quem é ela? O que ela faz? Como você nunca me contou isso? Você não tem a mínima consideração comigo ou com esse relacionamento ou com o que está acontecendo agora. Você só está aí sentada me olhando falar igual a uma idiota e sequer deve estar prestando atenção no que eu digo...

Lauren continuou falando, mas eu realmente tinha começado a divagar enquanto isso. Ela havia sido a pessoa com quem eu me relacionara por mais tempo e estava começando a me perguntar se um relacionamento devia ser daquela forma. Claro que eu e Lauren não estávamos namorando nem nada. Ou estávamos?

Qual é, Mila, você já ta quase um ano com ela. — minha cabeça me disse. — Eu acho que se isso não pode ser chamado de namoro, não sei o quê é. Vocês estão praticamente casadas.

Eu amava Lauren, isto era óbvio, mas eu sempre lidei com tudo sozinha na minha vida, principalmente quando o assunto era salvar a minha própria pele. Claro que sempre tive a ajuda de Angus – meu braço direito quando o assunto era a máfia –, que provavelmente aquele horário deveria estar cuidando muito bem de tudo nos EUA enquanto eu tirava essas "férias" com Lauren, mas ainda assim, eu sempre fui muito sozinha com relação a minha própria vida. Eu não estava realmente acostumada com alguém se importando tanto assim em me deixar viva. Geralmente essa preocupação era única e exclusivamente minha. Nunca tinha cogitado uma "parceira", e não tenho certeza se queria cogitá-lo agora... Lauren era o amor da minha vida. A não se por Sarah, eu nunca tinha sentido nada por alguém antes, mas eu não queria fazê-la correr mais perigo do que já estava correndo andando por aí comigo. Eu não a queria como minha parceira, eu a queria como minha mulher. Só isso.

— Camla? CAMILA? — Lauren gritou, me tirando do meu devaneio e me olhando de cima a baixo com as mãos presas na cintura e um olhar feroz.

— Ahn... O que foi? — falei meio sem pensar.

— "O que foi?"? "O QUE FOI?"? Eu disse! Você sequer presta atenção no que eu falo! Não é possível que você não me escute! Eu estou falando pro seu bem, Camila! Mas se você não quiser me ouvir, tudo bem, vai lá e morre pelas mãos daquela... — Continuou o monólogo e voltou a andar pelo quarto.

Respirei fundo. Aquele comportamento de Lauren estava me fazendo pensar seriamente se ela estava naqueles dias.

— LAUREN! — gritei, a interrompendo e fazendo-a parar de andar pelo quarto. — Você vai fazer um buraco no chão se continuar andando desse jeito. E afinal, por que esse sermão agora? O que há com você?

Ela pareceu voltar a si e eu agradeci mentalmente por isso. Aquela Lauren desesperada era insuportável. Seus olhos encararam o chão, como se estivesse envergonhada pelo comportamento.

— Desculpe... — ela disse com o tom de voz mais calmo que ela usara desde que tínhamos entrado no quarto do hotel. — É só que... eu estou preocupada com você, não entende?

Um sorriso involuntário surgiu em meu rosto.

Inclinei-me na cama e fui praticamente engatinhando até a ponta dela. Quando cheguei na frente de Lauren, me equilibrei nos joelhos em cima da cama e levantei seu rosto para me encarar. Seus olhos estavam mais claros e um pouco marejados.

— Laur, amor, calma! Nós já tivemos turbulências antes nesse relacionamento, certo? — perguntei, e ela assentiu com a cabeça. — E conseguimos sair. Eu consegui sair porque tinha você comigo. E é isso que importa. Estamos as duas juntas. Vai dar tudo certo.

Lauren esboçou um sorriso tímido para mim e se inclinou para me dar um selinho e me abraçar forte em seguida.

Separamos-nos e ela andou até a mesinha ao lado da cama. De início eu não entendi muito bem o por quê, mas vi que de lá, ela tirara duas armas, e um colete. Jogou o colete na cama, e quanto às armas, colocou uma no tornozelo, em um coldre especial que a pertencia desde a época em que era delegada do condado de Belmont, em Ohio, Estados Unidos. Quanto à outra arma, ela carregou e destravou, olhando para mim com os olhos verdes brilhantes e um sorriso nos lábios.

E eu não pude evitar o sorriso que surgira em meus lábios. A Lauren determinada e sangue-frio tinha voltado ao corpo dela. Aquela Lauren pela qual eu me apaixonara de cara quando a conheci naquele fim de mundo dos EUA. Aquela Lauren que era firme e mandona. Aquela Lauren, sim. Era apaixonante.

— Então, qual o plano? — ela perguntou.

E o pensamento de ter uma parceira não me pareceu mais tão ruim assim.

Entre o Certo e o ErradoOnde histórias criam vida. Descubra agora