Cerimônia

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— Receio que não posso fazer nada pela senhorita, delegada — o policial Philip Menard dizia enquanto remexia em alguns papeis e me observava do outro lado do balcão que havia me recepcionado na primeira visita.

Lindsay estava do lado de fora do Sub-Distrito, esperando por mim dentro do carro, provavelmente ouvindo alguns dos meus CDs, talvez tivesse fuçado minha mochila e pegado aquele CD da The Veronicas que eu tinha ganhado dela.

Retirei meus óculos de descanso que havia colocado quando estava no avião para ler um livro que eu levara e observei o policial. Ele estava ligeiramente suado, seus olhos não paravam nos meus por mais de dois milésimos de segundo. Ele iria ceder.

— Olhe, Senhor Menard, eu sei que seu delegado ou o subdelegado não estão aqui, mas eu só preciso de cinco minutos. Cinco minutos, Philip.

— Não posso deixar que faça isso, senhorita Jauregui. Isso arriscará meu emprego.

— Não, não arriscará. E se arriscar, eu te coloco de volta, prometo.

De fato, eu poderia fazer isto. Além de ser delegada-geral de uma cidade, ainda era mulher. E esses delegados babacas cairiam na minha lábia sem nem pensar duas vezes. Ele me observou, depois levantou sua mão direita e esfregou levemente os olhos.

Suspirou.

— Cinco minutos — Philip disse.

— É só o que eu preciso.

Ele saiu da bancada e olhou em volta do Sub-Distrito, e, assim que constatou que ninguém estava por perto, fez um gesto com a cabeça para que eu o acompanhasse. O acompanhei até um corredor ligeiramente escuro. Alguns policiais que estavam de guarda ali nos observaram com curiosidade. Uma mulher indo conversar com uma criminosa procurada no país inteiro às quatro da manhã não era uma cena comum.

— Terei que te levar diretamente à cela. Estamos procurando discrição, e a sala de interrogatórios não é muito discreta para um encontro às escuras.

Apenas acenei com a cabeça e observei enquanto ele abria uma porta no fim do corredor, a deixando escancarada para que eu entrasse.

— Cinco minutos — ele repetiu para mim.

Acenei novamente com a cabeça e entrei pela porta. Estava completamente escuro e eu não enxergava um palmo à minha frente. Philip ligou uma única lâmpada perto da primeira cela onde Camila estava, para não acordar as outras pessoas que ali estavam, e fechou a porta, ficando do lado de fora.

Camila se encontrava em uma cama miserável, com um colchão fino e coberto por um lençol sujo. A cama era frágil e parecia que iria quebrar a qualquer momento. Do lado direito da cela, tinha uma pia pequena e um vaso sanitário cinza. Apesar de saber muito bem como eram as celas provisórias de sub-distritos e delegacias, ainda assim me senti mal. Me senti mal por saber que Camila tinha passado quatro dias infernais naquele cubículo, sem nenhuma privacidade.

Ela estava com um short curto azul-claro e uma camiseta baby-look branca. Fiquei feliz de saber que pelo menos a deixavam vestir suas próprias roupas.

Não estava dormindo, e eu sabia disso. Apesar de seus olhos não se moverem um centímetro e de estarem cobertos por seu braço direito, eu sabia que ela podia me ouvir, ver que alguém estava indo vê-la no meio da madrugada. O que podia significar só uma coisa: eu.

Abri a cela com a chave que Philip havia me dado e entrei na cela dela, a observando de longe. Seus lábios estavam carnudos e convidativos como sempre foram, seus cabelos negros estavam bagunçados e sua pele estava mais pálida que o normal.

Eu simplesmente não consigo ficar brava com você.

Não me contive e desci meus lábios até os seus, dando-lhe um selinho rápido. Ela não se moveu enquanto meus lábios tocavam os seus. Seus lábios continuavam doces e uma vontade imensa de abraçá-la me pegou.

Entre o Certo e o ErradoOnde histórias criam vida. Descubra agora