17. Magiocatex: amores (parte 2)

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Os movimentos, os sons e os ritmos intensos cresciam no pátio. O casal foi transportado para o local na liteira real de Bohechío. Se sentaram sobre os tecidos de algodão no lugar preparado para eles. Espaço que que ocupariam por horas, observando e participando da festa que continuaria noite adentro e por dias. O rapaz observava discretamente sua noiva Tímina. Não tinha como negar sua beleza bem distribuída em um rosto lindo e um corpo sensual e cheio de curvas. Ele a desejou e não negou a si mesmo que queria sair dali e consumar o casamento logo. 

Mas de repente ele a viu. Na roda de dança e na companhia de um rapaz desconhecido dele, provavelmente um nabória como ela, estava Manaya. Ainda mais linda, ainda mais atraente. Um sentimento intenso invadiu seu ser. Sentiu-se incomodado e com ciúmes, desejou estar com ela e não com a jovem que estava ao seu lado. Queria saber quem era o rapaz que estava com ela e teve raiva dele. Sabia que não podia fazer nada, mas não se conformava que Manaya estivesse em um novo relacionamento tão rapidamente. Estiveram juntos havia poucos dias, quando juraram mais uma vez o amor um para o outro, ainda que ele estivesse de casamento marcado. Mas agora ela estava ali, dançando com outro.

Seus olhares se cruzaram. Magiocatex não tinha como disfarçar sua tensão e nem como fugir daquele olhar. A reação foi tomar sua esposa pela mão e a puxar para a roda de dança onde Manaya estava. Queria estar perto de Manaya, se possível tocar nela nos movimentos da dança em que os casais se revezavam. E isso não demorou muito. Logo, em uma troca de casais, ele a teve em suas mãos. Seus olhos se prenderam um no outro. Ela tremeu ao seu toque e ele percebeu.

— Quem é ele? — Magiocatex perguntou em um misto de raiva e indignação.

Ela respirou fundo antes de responder. Havia tristeza em sua voz.

— Ele é o rapaz com quem minha família quer que eu me case.

— Você não pode se casar com ele!

— Não?! Por que não? — sua voz não escondia sua raiva e sua decepção em presenciar o jovem que ela amava se casando com outra. — Você pode se casar e eu não?

— Você prometeu que me esperaria.

— Existem coisas sobre as quais não temos domínio, não é mesmo? Não é isso que você sempre diz? Se a família determina, no meu caso meu pai, não há como fugir disso.

Ele percebeu que ela, ainda que tentasse ser irônica, estava sofrendo muito. Como ele também estava. Queria tirá-la dali, levá-la para um lugar só dos dois, beijá-la e amá-la. Mas tudo que pôde fazer foi se contentar com um toque singelo em suas mãos.

— Não faça isso! Por favor não faça isso — ele implorou. — Eu vou te buscar para ser minha esposa em um mês. Me dê só esse tempo! Eu já te jurei que faria isso e vou fazer.

Magiocatex não teve como ouvir sua resposta. A dança mudou, os casais foram trocados mais uma vez e depois mais outra. Em uma sequência, os passes e movimentos da dança continuaram até que cada um estivesse novamente se posicionando ao lado de seu par inicial. Ele estava com sua esposa. Continuou mais um pouco ali e depois a retirou da roda, voltando para o local onde estavam antes. Não demorou muito e ele pediu aos jovens que o cercavam, e que tinham ordens de transportá-los na liteira real, para se retirarem. Se posicionou ao lado de sua esposa no transporte e foram levados para a casa onde morariam.

O rapaz tomou a esposa pela mão e a conduziu para o interior da residência, ao local designado a ser o quarto do casal. Se deitaram na rede nova, elaborada e trançada especificamente para eles. A luminosidade produzida pelas lamparinas de óleo vegetal era leve. Mas ainda assim ele podia visualizar o corpo dela. Deslizou na rede se posicionando ao lado dela. Não era a primeira vez dele, mas com certeza era a dela. Ele sabia que ela era virgem e seus corpo tenso denunciava seu temor pelo momento. O rapaz deveria ser delicado e cuidadoso. Deslizou suas mãos sobre o corpo dela, se deliciando com o arrepio provocado. Tocou seus seios e os sentiu se entumecerem sob suas mãos. Desceu seus lábios sobre eles e os beijou, enquanto suas mãos se dirigiram à sua região mais sensível, acariciando-a suavemente. Ela estremeceu. Seus dedos continuaram seu caminho e ele confirmou que ela estava pronta.

Sua boca se dirigiu à dela e a beijou delicadamente enquanto se posicionou sobre ela. Se moveu no sentido de conseguir concretizar o ato. Ela sussurrou assustada sob ele, o prazer se sobrepondo à dor que sentia. Ele se inseriu delicadamente à princípio, mas depois de maneira forte, profunda e insistente. Ela se movimentava conforme o ritmo dele. Experimentaram juntos o prazer da concretização do matrimônio.

Então ele saiu de cima dela e se colocou ao seu lado. Tomou sua mão entre as suas sobre sua barriga, prendeu e acariciou. Ela passou a respirar de forma controlada após alguns instantes e adormeceram assim.

***

Em menos de um mês, conforme prometera a Manaya, ele a procurou. A encontrou no lugar onde tantas vezes se encontraram antes do casamento dele. Ela tinha se banhado no rio e estava ainda molhada recostada em uma árvore. Sabia que ele a tinha seguido. Tinha percebido que ele a vira quando saiu em direção ao rio. Ele também mergulhou na água, saindo em seguida e indo ao encontro dela.

— Você me esperou? — ele disse beijando-a. Seus lábios ansiosos pelos dela e sendo correspondido.

— Sim. Ainda não me casei. Se é isso que quer saber — ela respondeu assim que conseguiu se desvencilhar do beijo cheio de desejos. Respirava de forma ofegante.

— Você vai ser minha hoje, aqui, agora. E depois a levarei para morar comigo.

Ela não disse nada. Não se opôs e nem impôs nada. Somente se deixou ser conduzida por ele. O amava e o queria.

Se deitaram ali mesmo, sobre a relva. Ela estava nua, e úmida da água do rio. Do cabelo dele escorriam gotas que caíram sobre o corpo moreno dela, fazendo-a se arrepiar. Ele adorou ver isso. Sua mão tocou suavemente seu corpo. Os lábios dele tomaram os dela com uma agonia de posse. A mão dele desceu sobre o seu corpo, acariciando-a de forma suave, produzindo diferentes sensações nela. O prazer e alegria experimentados pelos dois foi o maior em suas vidas. Estavam intensamente felizes.

***

Naquele mesmo dia Magiocatex levou Manaya com ele. Primeiro a conduziu ao seu tio cacique e ao bohique da família que já haviam sido comunicados. Eles e seus pais abençoaram essa sua nova união. Depois o casal foi para a casa dele, onde ele vivia com sua primeira esposa. Um novo quarto já esperava por Manaya.

Tímina não se surpreendeu muito. Já sabia que seria para isso o novo quarto construído. Ela nunca chegou a ter a ilusão de que seria a única esposa, mas sentiu uma dor intensa no coração quando viu a rapidez com que ele fez tudo. Tinha pouco mais de um mês que haviam se casado.

Quando Magiocatex introduziu Manaya no seu novo quarto e Tímina a viu, soube que jamais poderia competir com ela. Teve a certeza de que eles já eram um casal muito antes dela entrar na vida dele e se entristeceu. Ele nunca a amou. Não como amava a jovem que conduziu ao quarto e ficou lá com ela, à portas fechadas. Naquele momento ela pediu à Deusa e à Grande Mãe Zuimaco que lhe desse um filho antes que a outra engravidasse e lhe tirasse a única forma que ela tinha de atraí-lo.

No quarto, Magiocatex e Manaya se amaram mais uma vez. Eles não fizeram nenhum esforço para esconder o quanto foram dominados pelo prazer daquele momento.   

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Taínos: os herdeiros da invasão - WATTS2019Onde histórias criam vida. Descubra agora