Capítulo 9 - Saciando vontades

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 Aquele jantar provavelmente era o mais desconfortável na história da família Martins. Bem, pelo menos durante o tempo em que estou aqui.

 Rebecca e Verônica não pareciam estar numa boa, se alfinetando sempre que havia uma oportunidade, por mais absurda que parecesse. Cadu e Jonathan não entendiam nada. Clarisse reprovava as duas com o olhar, e Tio Fernando... Bem, o poderoso analisava tudo. Inclusive Alexandre e eu. Estava com uma expressão parecida com a que adquiriu quando nos deu uma bronca no escritório ontem.

Cruzes, eu nem podia me lembrar do trabalho. Alexandre e eu não conseguíamos mais nos encarar nos olhos por causa daquilo, o que certamente estava ganhando a atenção do meu tio.

Eu estava com peso na consciência depois de jogar um sapato na cabeça do meu quase primo, como a boazinha idiota que eu era. Divaguei sobre isso por toda a noite, mas sempre me lembrava que não podia pedir desculpas. Estava fora de cogitação.

No outro dia eu saí mais cedo de casa e cheguei antes dele ao escritório. Precisava de algo para me retratar. Decidi que faria um café pra ele. Pode parecer pouco mas faz sentido na minha cabeça. Se eu estivesse com raiva de uma pessoa e ela fizesse café pra mim como desculpa, eu certamente amoleceria um pouco.

Enfim, fiz o bendito café e levei até a sua sala. Só que dessa vez, não o derramei (Glória!). Mas como nada fica ileso à minha mão... Acabei derrubando os biscoitos que estava levando pra ele.

Abaixei-me no tapete para pegá-los, quando na mesma hora ouvi a porta se abrindo e em seguida, uma exclamação de Alexandre.

Foi aí que eu me toquei que eu estava de saia, praticamente de quatro no meio da sua sala. Juro, naquele momento mais do que nunca eu quis ser um avestruz, enfiar a cabeça de baixo da terra e nunca mais sair. Mas como toda a minha vergonha não podia sumir, eu sumiria de vista.

Saí correndo de sua sala, a vergonha se espalhando por todo meu corpo, mas certamente concentrada nas minhas bochechas. Não nos falamos direito pelo resto do dia, não olhávamos nos olhos um do outro — até agora — e tudo estava bem superficial. E constrangedor.

Despertei das lembranças ouvindo colheres batendo fervorosamente nos pratos. Observei todos à mesa.

Rebecca tinha uma expressão furiosa enquanto estávamos terminando o jantar. Era ela quem estava maltratando os pobres pratos. Aquilo não combinava em nada com toda a sua elegância e beleza, eu me perguntava o que estava acontecendo para que ela ficasse assim, além de Verônica sendo uma megera.

Pedi licença e levantei para levar o prato a cozinha quando ouvi a voz de Verônica:

— Além de Biscate é mal educada. O que você faz nessa família, querida?

 E então ouvi um barulho, parecia uma batida. Quando passei de novo pela sala de jantar, Rebecca estava em pé com o rosto vermelho. Todos a encaravam, menos Alexandre, que deve ter pensado o mesmo que eu (fugir!) e já estava levando seu prato a cozinha também.

— Olha aqui, você faz esse tipo de coisa com a Helena, mas comigo o buraco é mais embaixo!

— Uh, que medo. — Verônica debochou.

Daí pros gritos não demorou muito. Preferi não ficar pra ver no que ia dar. Rebecca sabia se cuidar muito bem sozinha, com certeza teria coragem de dar uns murros na cara da Verônica — coisa que eu não tinha.

Fui para o meu quarto, tomei um banho e coloquei um pijaminha rosa. Era bonitinho, até, shorts e blusinha, um pouco indecente para caminhar pela casa, eu acho... Mas era refrescante.

Estava quase deitando na cama quando me assustei ao ouvir a porta sendo aberta abruptamente, porém sendo fechada devagar por uma figura gigantesca.

O que eu sempre quisOnde histórias criam vida. Descubra agora