Alguns dias se passaram até que finalmente meu tio sairia do hospital. Alexandre e eu fomos os intimados a ir buscá-lo. Não achei ruim. Estávamos numa boa nos últimos dias. Certa noite chegamos a dormir sentados no sofá, por ficar até tarde conversando besteiras depois que Jonathan e Rebecca foram dormir.
Foi legal, serviu para nos conhecermos melhor... Estranho mesmo foi acordar no meio da noite e constatar que estávamos deitados numa posição bem estranha, já que provavelmente nos mexemos durante o sono. Torci para que ninguém tivesse acordado no meio da noite e passado por ali. Acordei-o e cada um foi para o seu quarto, meio acabados, já que o sofá não estava confortável.
Tio Fernando estava bem animado quando o vimos, o que me espantou de qualquer outro pensamento.
— Até que enfim o casal chegou! — comemorou.
— Pai, não fala besteira. — Alexandre pediu enquanto pegava uma pequena mala com as coisas dele, que estava com o braço na tipóia, mas apenas por mais uns dois dias.
— Acho que esses remédios estão afetando demais o senhor. — brinquei.
— Besteira. Vocês são dois, duas pessoas formam um casal, oras.
— Sim ,mas pra isso elas tem que ter envolvimento amoroso. — nós já estávamos indo para o carro quando o ouvi murmurar algo, mas quando pedi que repetisse, ele riu e disse:
— Nada. Estou feliz porque vou pra casa.
— Já era hora. Estamos animados com a sua recuperação. — Alexandre acelerou e ganhamos a estrada.
— E já que estamos falando disso... Preciso falar com vocês sobre umas coisas que andei pensando nos últimos dias. Não sei, isso tudo que aconteceu, percebi como a vida é efêmera, garotos. E eu gostaria, do fundo do coração, que vocês fossem amigos. Sabe, brigar é perda de tempo, agora mais que nunca eu percebi isso. E sempre desejei que vocês fossem próximos... E esperava que fizessem isso por mim.
— Por mim tudo bem. — não hesitei em concordar.
Alexandre ficou alguns segundos mudo antes de responder.
— Tudo ok.
Olhei tio Fernando, que sorria, e aquilo me doeu um pouco, de certa forma. Se ele tivesse morrido naquele acidente, nós dois carregaríamos a culpa de desagradá-lo com nossas brigas por todo esse tempo. Ainda bem que da tempo de reparar... Eu acho.
***
Mais uns dias e meu tio estava com o braço recuperado. Tirar a tipoia deu um ânimo louco a ele. Foi engraçado vê-lo convocando a família em peso para uma reunião na sala.
Todos se sentaram e ele começou a falar...
— Bem, os últimos dias foram de muito estresse, e eu acho que a família inteira merece um descanso.
Cadu comemorou. Tio Fernando o olhou feio.
— Você não é da família. — eu ri. Cadu pareceu extremamente ofendido, e meu tio emendou — é brincadeira. Enfim, eu acho que todos nós deveríamos ir aquele sítio do meu amigo, o Camargo, nós já fomos uma vez, se lembram?
— É aquele onde nós cavalgamos? — tio Fernando concordou. — Nós precisamos voltar lá! É incrível!
— A piscina é demais, a casa é demais, eu topo. Uma semana? — Jonathan questionou.
— Isso! Eu decreto férias ao Cadu e a Helena, e aí está feito.
— Férias... Sinto o gosto dessa palavra na boca. — brinquei.
— E a Ruth, Alexandre? — gelei ao ouvir esse nome.
— Está viajando.
— Ui, pra onde ela foi? — Verônica questionou.
— Paris. — chique!
— Enfim, somos só nós, partimos amanhã de manhã, tudo bem pra vocês? — a concordância foi geral. — Então vão fazer as malas!
Todos correram da sala. Foi engraçado. Um pouco de sossego seria bom, eu supus.
***
Mala pronta com tudo que eu precisaria: biquínis, roupas confortáveis, protetor e óculos de sol. Depois de terminar de arrumar tudo e pôr o celular para despertar eu me joguei na cama, porém não consegui dormir direito. Fiquei virando de um lado para o outro por um bom tempo... Não sei se a ideia de viajar me deixava ansiosa, embora eu não fosse mais criança, ou se... Se a menção a Ruth me deixou daquele jeito. Foi duro admitir para mim mesma que estava com ciúmes e que ficava mal por saber que Alexandre já tinha alguém... E que cada vez mais eu me convencia de que tinha sentimentos por ele. Uma merda. Um raio já podia cair na minha cabeça e me levar daqui.
Não vi quando o dia amanheceu porque finalmente consegui cochilar. Meus sonhos foram estranhos e sem sentido, mas não pude lembrar dos detalhes. Levantei mais cedo que o despertador e o desativei, tomei um banho e fui para a cozinha. Clarisse já estava lá preparando alguns sanduíches.
— Bom dia... — Minha voz saiu um pouco sonolenta. Só de olhar para os lanches eu estava sentindo a minha barriga doer de fome. — Você precisa de ajuda?
Ela sorriu.
— Claro.
Comecei a trabalhar ao lado dela. Era estranho como ela estava amistosa comigo nos últimos dias, quase carinhosa... Para alguém que evidentemente me detestava antes, era uma mudança e tanto.
Nós acabamos rapidamente, eu coloquei meu café e roubei um dos sanduíches. Ela riu.— Ficou bom?
Concordei e continuei comendo. Continuamos em silêncio,mas ela estranhamente me observava atentamente, fiquei um pouco envergonhada. Seu sorriso diminuiu um pouco antes que ela começasse a falar.— Sabe Helena, eu... — suspirou — Não sei como dizer direito, não sou muito boa com as palavras, já deve ter percebido. Mas queria agradecer pelo que fez por nós durante todos esses dias que o Fernando ficou no hospital. Segurou a barra quando ninguém estava tão bem assim emocionalmente, não nos deixou brigar, ajudou muito aqui em casa, enfim... — seus olhos estavam marejados e os meus instantaneamente ficaram também — Ser manteiga derretida é uma droga. — nós rimos. — Você nos manteve unidos. Foi bem importante.
— Foi o meu papel como membro da família... bem, pelo menos eu acho que eu sou. — sorri timidamente.
— Claro que é!
Fiquei feliz com sua resposta.Talvez aquele fosse um recomeço. Ter sua aceitação me faria ficar mais à vontade naquela casa.
— Bom, eu vou terminar de guardar os sanduíches aqui, logo os Martins vão acordar. Imagino a cara que vão fazer por acordar cedo... Prepare-se pra rir.
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O que eu sempre quis
RomantikSempre há uma pessoa que desgostamos sem um motivo plausível... Mas Helena Vasconcelos jurava que tinha todos os motivos do mundo para odiar Alexandre Martins. Era simplesmente o ser mais rude que já tinha conhecido, e parecia sentir prazer em atorm...