O embarque

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  Aguardei uma semana com nervosismo e ansiedade. Minha família tentou me ajudar de todos os jeitos que podiam. Compraram doces, me deram um novo violino e o antigo kit de pintura do papai, mas nada conseguiu me alegrar. Chegou uma hora que já nem sabia porque chorava, eu simplesmente tinha vontade.

_Ames, não chora, por favor. Você vai encontrar outro príncipe super gato na Itália e vai jogar na cara de Maxon o que ele perdeu. Sua vida não acabou. - May tenta me consolar e rio de sua tentativa.

_Eu não quero um príncipe super gato, quero Maxon.- digo choramingando

_America Singer, se você conhecer um príncipe super gato e não ficar com ele, eu te expulso da família!- ela diz autoritária.

_May!- a repreendo- As coisas não funcionam assim.

_Lógico que funcionam! O homem é bonito, você beija, se ele não for, você não beija. Simples assim.- ela diz como se eu fosse idiota por não ter entendido da primeira vez.

_Acho que já deu por hoje para você.- digo e a arrasto até a porta.

_Mas você entendeu não é?- ela me pergunta antes que eu feche a porta em sua cara. Deito em minha cama e bufo de cansaço. Amanhã irei para o aeroporto e não me sinto no humor de despedidas.

Os últimos dias tem estado melancólicos e impressionantemente cinzas, simplesmente não estou com vontade de mais despedidas, de choros e de saudade. Até hoje me pego gritando por papai, acordo com o pensamento de que ele estará na garagem pintando, mas nunca o encontro. Lembro das aulas de história de Silvia e meu primeiro instinto é correr até ele e contar todos os detalhes. Não resisto ao impulso de chamar por ele toda vez que me sinto mal e isso me quebra cada vez mais, porque ele não responde. Apesar de toda a tristeza, estar em casa possui um gosto diferente. Posso fingir que as coisas nunca aconteceram, que sou uma simples 5 trabalhando para ganhar a vida. Me sinto em segurança, um sentimento que há muito tempo não sentia. E principalmente, não me sinto sozinha. Sei que existem pessoas aqui que farão tudo o que puderam, e até mais, pela minha felicidade. Pessoas que sacrificariam tudo para me ver bem. Com um sorriso no rosto, adormeço.

Sou a última a acordar, como nos outros dias. Ando passando bem mais tempo na cama do que de costume. Acho que simplesmente não tenho mais o que fazer além de deitar e pensar na vida. Mas hoje, pela primeira vez em uma semana, tenho motivos para me levantar. Desço as escadas e minha família me espera na mesa. Até Kenna, James e minha sobrinha estão aqui. Astra é a coisinha mais linda desse mundo. Ela foi minha única distração durante esses dias em casa. Sua presença me dá um ar de alegria e vida nova, exatamente o que eu preciso.

_De onde veio esse bom humor todo? Definitivamente não da sua mãe.- Mamãe diz emburrada.

_Dona Magda, de onde veio esse mau humor todo?- pergunto e a abraço.

_Minha filhinha acaba de chegar e já vai embora.- ela diz chorosa.

_Sem lágrimas mãe, por favor. Eu só não consigo aguentar.

_Claro, claro. Sem constrangimentos. - ela diz e seca as gotas salgadas que escorrem por sua bochecha.

O café se passou tranquilamente. Como se eu nunca tivesse ido para o palácio, como se Kota não tivesse nos abandonado e como se papai não tivesse partido.

Por um segundo cogito a possibilidade de ficar aqui, esquecer de pegar o voo e construir uma vida em Carolina, ao lado das pessoas que amo. Virar uma professora e me casar com um colega de trabalho. Mas do mesmo jeito que a ideia se instalou em minha mente, ela se foi e me lembrei de todos os motivos para não querer ficar aqui.

Plane CrashOnde histórias criam vida. Descubra agora