A esperança de um resgate

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Já faz quase cinco meses que descobri que estava grávida. Naquela época eu imaginava que nesse momento eu fosse estar na minha casa, descansando confortavelmente, cheia de médicos ao meu redor fazendo o máximo que podem para deixar meu bebê o mais saudável possível. Eu já saberia se é um menino ou uma menina e eu provavelmente não teria contado para Maxon a verdade. A ideia de ser resgata logo era tão clara em minha mente, que nunca consegui imaginar ficar mais cento e sessenta dias nessa ilha. Tinha a esperança de que, só com a força do meu pensamento, as coisas boas começariam a acontecer.

A ideia de ter uma pessoa, um ser humano dentro da sua barriga, é estranho. Carregar uma vida dentro de você é a tarefa mais difícil que já aconteceu. A responsabilidade e a culpa, caso algo aconteça, é gigante, mas extremamente recompensadora. É a única coisa me mantém ativa nesses últimos dias. A única coisa que me faz levantar do chão duro e procurar comida. Os dias que se seguiram depois que descobri a verdade foram emocionalmente exaustivos. Cada vez mais eu necessitava de ajuda externa, e cada vez mais eu perdia a esperança de que poderia sair daqui algum dia. Alex tentou de tudo para me ajudar, me fazer acreditar, mas nada fazia mais sentido. Pode-se dizer que foi minha fase sombria, se isso existir. Até que comecei a sentir os chutes e as coisas pareceram melhorar. Não importa onde estou, em Illéa ou aqui, portanto que eu esteja com o meu filho ou filha, tudo ficará bem.
Estamos na cachoeira, Alex acha que eu preciso relaxar e parar de me preocupar por um instante e esse é meu lugar favorito na ilha. Ele tem estado mais cauteloso do que o normal. Sempre faz o trabalho sozinho, para que eu não corra nenhum perigo. Traz comida extra, não me deixa ficar no sol por muito tempo, enfim, essas coisas. Não temos muito o que fazer além de esperar, então ele teve a brilhante ideia de trabalhar no rádio e quem sabe, conseguir utilizá-lo. Não levo muita fé de que ele conseguirá. Pelo o que ele me disse ele não sabe nem mesmo ligar uma televisão, então eu só rio da sua tentativa frustrada.
Passo a maior parte dos meus dias analisando minha barriga. Nunca tem nada de diferente, mas do mesmo jeito, é minha distração favorita. Ela cresceu em tão pouco tempo que eu me impressiono. Fico imaginando como ele ou ela será quando crescer. Se terá o meu cabelo ruivo, ou os olhos castanhos de Maxon. Estou tão absorta em meus pensamentos que nem percebo Alex me olhando.

_ Sei que estou gorda e horrível, pode parar de olhar.- digo de cabeça baixa.

_Você não está horrível, está linda.- ele diz com um sorriso sincero.

_Não.- eu teimo- Estou inchada e parece que eu engoli uma bola! Estou horrível!- digo chorosa. Meu Deus, o que está acontecendo comigo nesses dias? Eu não choro assim. Alex larga o rádio em cima da mesa e vem em minha direção. Segura minha mão e olha em meus olhos.

_Você está carregando uma vida.- ele começa e limpa uma lágrima solitária.- Você está linda.

_Só você mesmo Alexander.- digo com uma risada e ele fecha a cara. Ele não gosta de ser chamado de Alexander, e por isso o chamo assim. Com um meio sorriso, ele volta para o rádio.

_O que está fazendo "Alex"?- pergunto mesmo já sabendo a resposta. Ele sorri orgulhoso pelo apelido.
_Consertando o rádio.

_Você não vai conseguir fazer isso.- eu digo e ele me olha como um falso ofendido - Você ao menos sabe o que está fazendo

_Claro que sei! Estou consertando o rádio.- ele responde feliz e eu reviro os olhos. Continuo analisando minha barriga gigante quando o ouço o barulho. Um chiado, misturado com vozes indecifráveis e mais chiados._Ames! Vem aqui.- Alex grita e eu vou até ele o mais rápido que posso nessa condição.

_O que houve?- pergunto preocupada e divido meu olhar entre ele, o rádio, e ele novamente.

_Eu acho que consertei o rádio.- ele diz impressionado, sem acreditar que realmente fez isso. O chiado continua e Alex aperta alguns botões e começa a falar em russo. Não tenho ideia do que ele disse, mas espero que tenha sido algo como "Estou preso em uma ilha no mediterrâneo com uma grávida. Nosso avião caiu, por favor mande reforços e nos salve." Mas se for depender dele, tudo é possível.

_Chiau? Chi è questo? Dove sei?( Alô? Quem é? Onde está?)- A voz do rádio começa a dizer e eu me alegro imediatamente. Resgate! Enfim vamos ser resgatados! Alex parece não entender nada do que o homem diz, nem eu, mas ele continua dizendo coisas em russo que são totalmente sem sentidos para mim. - Cosa sta succedendo? (O que está acontecendo?) Chiau? Si prega di rispondere a me! Parli italiano? ¿Hablas español? Vous parlez français? Do you speak english? (Alô? Me responda por favor! Você fala italiano? Fala espanhol? Fala francês? Você fala inglês?) - o homem continua perguntando e o chiado se aumenta.

_Para de falar russo Alexander!- eu grito desesperada.- Ele não vai te entender. Me dá isso daí.- eu digo e tomo o rádio de sua mão. _Alô! Eu estou aqui. Estou aqui!- eu grito para o aparelho, mas o homem não me responde mais.- Ainda está ai? Por favor nos ajude!- eu continuo falando, mas o rádio não funciona mais.- Por favor me responde! Por favor! Eu preciso de ajuda!- grito desesperada e sinto as lágrimas correrem por minhas bochechas. Poderia ter continuado assim por bastante tempo se Alex não tivesse tomado o rádio da minha mão. Ele começa a praguejar e a xingar em todas as línguas possíveis. Agora ele resolveu falar outra língua? Seu rosto está vermelho e em questão de segundos ele ataca o rádio na parede da caverna. Um estrondo ecoa pelo lugar e destroços voam por todos os lados.

_O que houve? Porque parou de funcionar?

_Sem bateria.- ele responde baixinho.- Ficou sem bateria.- ele responde e eu me desespero. Rio. Rio alto e forte, uma risada de ironia e ceticismo. Depois de todo esse tempo e de tudo o que aconteceu, vou ficar presa nessa ilha por causa de uma bateria? As risadas são rapidamente tomadas pelas lágrimas.

_Ames! Se acalma, por favor, isso não é bom para o bebê.- ele diz e me pega no colo. Continuo chorando silenciosamente em seu peito. Ele me põe na minha cama e se senta ao meu lado.

_Porque isso tem que acontecer? Você está no fundo do posso e de repente alguém te dá perspectiva e esperança para tira-la no minuto seguinte! Eu não aguento mais isso! Não aguento mais sofrer!- digo entre os soluços.
_Tudo vai se resolver. Nós vamos sair daqui são e salvos- ele tenta me assegurar, mas o medo é visível em seus olhos. Alex mantém essa posa de durão, de calmo todos os dias. Sei que ele fica assim por minha causa, para que eu não perca mais a esperança e não fique pior do que estou. Eu aprecio isso. Quando ele percebe que minha crise não acabou, ele lentamente, se abaixa e beija minha barriga. Rio da cena.

- Vamos ficar bem, eu te prometo. Eu sou um parteiro melhor do que um piloto. -Porque essa ideia me aterroriza? Porque as coisas não podem ser simples? Porque minha vida não pode ser normal? Quando eu sair dessa ilha. Se eu sair, vou ser presa, meu filho vai ser retirado de mim e eu provavelmente nunca mais o verei. Penso nisso por um momento. As vezes ficar na ilha é a melhor opção. Talvez esse seja o meu destino, talvez seja por isso que não fomos resgatados até agora. Esse pensamento me dá náuseas.

POV Alex

Mesmo que a própria America não perceba, suas crises hormonais são mais constantes do que ela consegue lembrar. Eu nunca falo nada, porque só pioraria, mas é bastante exaustivo. Sei que não é sua culpa, tudo isso é normal, mas eu me preocupo com ela. Se não sairmos dessa ilha logo, eu não sei o que poderá acontecer conosco. Que vida teremos aqui? Se isso pode ser chamado de vida. Não existe nenhuma condição de criar um filho nessa ilha. Não temos comida, água, cobertores ou roupa, muito menos um berço! Ele não pode dormir no chão como nós. Em compensação, ela é bastante fácil de se lidar. Eu a abraço durantes suas crises e em pouco tempo ela está dormindo. Fico feliz em consegui acama-la, de ser seu porto seguro, pelo menos por agora. Eu tenho tentado esconder meus sentimentos por ela desde que percebi que eles são realmente verdadeiros, mas a cada dia que se passa, fica mais difícil. Eu só quero cuidar dela, quero que toda vez que eu diga que vamos fica bem, seja verdadeiro, quero lhe dar esperanças, impedir que ela desista. Assim que percebo que ela se acalmou e dormiu, eu relaxo.
Tento me manter esperançoso para ela, mas eu não aguento mais essa máscara. Então eu choro. Toda a angústia, o medo, a preocupação de todos esses meses parecem fluir com tamanha intensidade, que eu não conseguiria conter nem mesmo que eu quisesse. Eu só quero ir para casa.

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