O atentado

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Eu sempre apreciei o silêncio. O zumbido vibrando nos meus ouvidos em um claro sinal de paz, um sentimento de descanso e de fim. Quanto toda a confusão e toda a gritaria já acabaram e agora só resta o final da guerra, quando nos deitamos em nossas camas, exaustos, mas ao mesmo tempo alegres por saber que quando acordarmos na manhã seguinte, tudo será mais simples. Mas ao mesmo tempo, eu adoro a gritaria. O barulho de alegria enchendo o meu coração com um sentimento de pertencimento. Sabendo que lutamos por algo que acreditamos e independe do que aconteça ao nosso redor, as pessoas chorando e gastando as suas vozes estão ao meu lado. Desço do avião com esse sentimento estranho no peito, de paz não pertencida. O jato particular para na pista isolada, onde a única coisa visível é o mato ao redor e o carro preto nos esperando.

Passei a viagem me preparando para como receberia meu súditos, como botaria uma máscara em meu rosto e como explicaria para a imprensa o desaparecimento de Kriss. Mas não precisei. Não tinha ninguém ali. Meu pai e minha mãe simplesmente não pareciam estar de humor para conversas, e em parte eu agradecia, nada do que ele ou ela pudessem falar nesse momento poderiam de alguma forme ajudar o que sinto. Papai escolheu uma pista de pouso longe do centro de Angeles, com o devido cuidado e segurança contra os rebeldes, portanto a viagem até o palácio ainda é grande e devo me contentar com a vasta vista de casas destruídas e miséria no longo caminho pela parte rural da província.

Minha testa estava encostada no vidro gelado, totalmente alheio a toda a tensa presente no veículo, mas eu não me importava, meu coração estava mais leve do que jamais me lembro de estar e mesmo não conseguindo dormir no banco desconfortável, não me deixo abalar. Observo a pequena cabana na beira da estrada. O teto estava parcialmente quebrado e os sinais da recente chuva era visível por toda a pequena casa, se é que se podia ser chamada assim. Ela não aparentava ser maior do que o meu banheiro e pedaços de madeira e entulhos em gerais se encontram jogados ao redor da parede mofada. Não há janelas, só o pequeno cubículo da prisão onde a família é obrigada a viver, sem a oportunidade de ver o mundo através dos vidros na parede, com a única imagem do tijolo alaranjado e do céu estrelado, os relembrando do fim de suas esperanças e da impossibilidade de mudança, como uma estrela, que mesmo se morrer nesse exato instante, sua falta só será sentida centenas de anos depois, e até esse destino parece melhor do que o que é os incumbido. As plantações de milho e trigo se estendem até onde não se pode ver, uma mistura de beje, amarelo e verde até onde o horizonte some, com uma única exceção: o marrom da lama ao redor do quadrado maltrapilho, onde dois porcos se deliciam e, na frente do lugar onde deveria ser a porta, uma garota, com não mais do que quinze anos, vestida com uma combinação de panos de cores fechadas em uma tentativa malsucedida de roupa.

Seu rosto pálido está sujo de poeira e ferrugem, o cabelo maltratado preso em uma trança desgrenhada e em seus braços finos, um bebê chora. Não consigo ver se é homem ou mulher antes que o carro passe em baixa velocidade pela mãe na beira da estrada. Foi como se tivessem freado com o único intuito de vê-la sofrer.

_Parem o carro. -ordeno sem tirar os olhos da garota, que encara o automóvel como se fosse algo de outro mundo, uma mistura de excitação e esperança. Consigo, pela primeira vez, ver o pequeno bebê em seus braços, a divina menina que ainda não tem noção da vida e da dor.

_Não parem! Não ouse parar. - meu pai grita ao meu lado e suspiro. Continuo olhando para a menina e a vejo retirar algo do bolso, não consigo identificar devido a distância, mas ela lentamente se abaixa, deixa o bebê no chão, se levanta e ergue o braço direito lentamente, olhando em meus olhos, como se pudesse me ver através do vidro preto.

Primeiro para cima, na horizontal e em seguida nas duas diagonais. Ergo a sobrancelha, tentando entender o que aquele símbolo pode parecer, mas sou interrompido quando ela abaixa o braço, e vejo, em sua mão esquerda, a chama se ascender para no segundo seguinte, ser jogada em direção da casa e vê-la virar cinzas. Grito, pedindo desesperadamente que parem, mas ninguém parece ter visto o mesmo que eu.

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