Lucas acordou no piso frio. A impressão de ouvir um sinal sonoro. Impressão. A imagem
da Dra. Ana veio à sua cabeça. Estava no chão por causa de uma injeção. Por causa de um
ataque. A porta que separava o quarto vizinho continuava aberta. Piscando os olhos podia ver
a cama de Gabriel. Ele não estava lá. Não estava em seu campo visual. Lucas engatinhou até
seu catre. Deitou-se no colchão. O pescoço dolorido. Onde estava Gabriel? Já teria sido
libertado daquela gaiola de loucos? Provavelmente. Ficou deitado um tempo, esperando a
tontura passar. Seria dia ou seria noite? Sentia muito sono, o que deveria ser efeito da
medicação. Estava perdido sensorialmente. Notou que a calça azul estava empapada de suor.
O que seria aquilo? Outro efeito da droga? Apanhou a camisa hospitalar debaixo da cama e
passou sobre o peito. Estava todo suado. Ouviu um ranger. Ergueu a cabeça. Não viu nada. O
ranger continuou, como um dispositivo mecânico acionado. Sentou-se e olhou para o grande
vidro. Viria de trás daquele espelho? Não. Não vinha. Vinha da parede, ao lado do catre.
Onde costumava se recostar para ser preso pela garganta e braços. Havia surgido ali um braço
mecânico. Uma garra que sustentava uma espada curta. Que porra era aquela agora? Uma
espada?! Para quê? O mecanismo parou de ranger, mantendo a espada de pé, presa num
encaixe de borracha. Lucas olhava compenetrado para aquele novo personagem em sua louca
aventura naquela cela de hospício. Um sinal sonoro contínuo, como os alarmes emitidos nos
corredores das escolas na troca de aulas. Tomou tamanho susto que quase caiu da cama. O
suor escorria em bicas. Estava sentado. As espáduas retas e tesas. Ouviu uma risada vinda do
quarto ao lado. Uma risada macabra. Assombrada. Olhou para a espada presa na garra. Olhou
para o vidro espelhado. O que estava acontecendo? A voz de Gabriel chegou ao seu ouvido.
— Eles deram uma para você também? Há!Há!Há! Eles estão deixando a gente louco,
sabia? Seu maluco! — gritava o vizinho.
Lucas apertou os olhos. Aquela voz. A imagem de Gabriel vindo na sua cabeça. O vizinho
estúpido. O ódio queimando no peito. Cara idiota. Lucas levantou. Gabriel surgiu na porta.
Trazia uma espada curta.
— Não pega essa faca. — advertiu o vizinho.
Lucas parou. O cabelo desgrenhado do vizinho parecia formar uma auréola no topo da
cabeça de Gabriel. Um santo. São Gabriel. Lucas rilhou os dentes.
— Não pega essa faca, senão eu te furo com a minha. Ameaça. Lucas continuou imóvel. O
suor descendo pelo rosto.
— Cadê a Dra. Ana? Esse homem precisa de remédio. Ele está louco! — gritou para o
espelho.
Nenhuma resposta.
Gabriel avançava em direção à espada da cela de Lucas com sua lâmina em riste, pronta
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Bento
HorrorUma noite começada como outra qualquer entra para história da humanidade quando metade dos seres humanos adormece de forma inexplicável. Tratada como uma epidemia, a doença desencadeia um caos sem precedentes nas cidades do mundo. O pesadelo parece...