Capítulo 2

51 0 2
                                    


Acordou com barulho novamente. Passos aproximando-se. Fachos de luz dançando no seu

campo de visão. Luz de lanterna. Fatores de risco. Pensava em fatores de risco. Tentou manter

os olhos abertos. Alcoolismo? Ninguém era trouxa de preencher esse campo com um sim. Ano

da habilitação? Família? Apertou os olhos. As luzes perto. Moveu a cabeça, estirando-a

completamente para trás. A pele do pescoço tesa. O gogó saliente. O cabelo crispado contra o

leito. Tentava ver quem vinha. Pareciam dois. Dois homens. Podia ver, de ponta-cabeça, a luz

batendo nas paredes. Pareciam recobertas por azulejos brancos. Do chão ao teto. Um hospital?

Só podia ser. Não ouvia vozes desta vez. Eles vinham em silêncio. Seriam os mesmos homens

de antes? Possivelmente. Lembrou-se que o modelo era importante. O ano. As vezes, o modelo

diferia do ano, então alterava o valor. Apertou os olhos. Por que pensava nisso agora?

Modelo? Ano? Tinha que se concentrar nos homens chegando. Tinha que se concentrar. Duas

lanternas em seu rosto. Não conseguiu manter os olhos abertos. A claridade incomodava

absurdamente. Não eram os mesmos homens. Usavam os mesmos aventais, mas não eram os de

antes. Eram mais altos e mais fortes. Usavam óculos grossos... óculos de segurança, todo feito

em acrílico. E tinham máscaras para respirar. O paciente voltou a respirar rapidamente, aflito.

Estavam tão protegidos, tomavam tantos cuidados... logo, só podia estar doente. Só podia ser

isso. Tinham os olhos diferentes. Olhos verdes. Sentiu a cama ser deslocada. Era uma maca

com rodas. Passou a deslizar pela sala. Podia ver outras macas. Deus! Sentiu um arrepio

percorrer-lhe a espinha. Apesar da penumbra... podia estar certo. Pouca luz vazando do foco

das lanternas, mas podia ver outros corpos! Mais gente... parecia gente morta. Quantas camas

existiriam? Passou por dezenas. Dezenas. E a luz das lanternas era tão fraca, não conseguia

ver muito, não conseguia ter certeza de muita coisa. Os olhos voltaram-se para o teto.

Nenhuma lâmpada. As luminárias estavam vazias. Não estavam apagadas. Estavam vazias. A

luz nunca chegava ali. Só por aquelas lanternas daqueles homens estranhos. Para onde estava

sendo levado? Pigarreou, preparando a garganta seca e teimosamente dolorida.

— Onde estou?

Os homens olharam ligeiramente para o recém-desperto. Voltaram a prestar atenção no

caminho.

— Pelo amor de Deus, não me ignorem. — reclamou o homem, pigarreando novamente. —

Onde estou? O que aconteceu comigo?

— Não podemos falar. Ainda não é hora.

— Só queria saber onde estou... por que não podem me dizer?

— Você não está preparado. Calou-se.

Continuou sendo conduzido por um extenso corredor, igualmente recoberto por azulejos

BentoOnde histórias criam vida. Descubra agora