O sol mostrava claramente seu perigoso movimento descendente e cadente para os que
estavam fora do portão. Mesmo assim, os soldados mostravam-se contentes pois, apesar da
gasolina de Marcel ter acabado bem antes do posto de abastecimento, os demais alcançaram a
meta e puderam socorrer o novato com rapidez. O posto de reabastecimento era um lugar
conhecido apenas dos soldados mais experientes. Uma rocha apelidada de "O Grande Sofá",
por causa do seu inusitado formato, indicava a proximidade do local. Parando alinhado com a
rocha, era ainda preciso caminhar cerca de cento e cinquenta metros em mata fechada, sem
abrir passagem com facão para não denunciar o sítio estratégico. Guiando-se ainda pela rocha
e por algumas árvores características do lugar encontrariam a picada já aberta, bem
escondida, que terminaria num encerado camuflado por galhos. Debaixo do encerado, três
folhas de madeirite tapavam a entrada para o buraco escavado, onde eram acondicionados
dezenas de galões somando centenas de litros de gasolina, que era reposta periodicamente.
Depois de reabastecidas as máquinas e recuperado o soldado, os motoqueiros rasgavam pela
rodovia. Continuando nessa velocidade, venceriam a descida do sol.
A confiança dos motoqueiros desfez-se quando viram a moto do puxador parada em frente
a uma muralha de folhas verdes. Um obstáculo plantado no meio do caminho. Estavam a duas
horas de São Vítor e chegavam agora às quatro horas da tarde. Não precisava ser um expert
em matemática para concluir que a sorte não estava do lado daquele grupo naquela missão.
Mesmo sem aquela árvore, chegariam com a noite começando... agora, teriam que rezar para
chegar com vida.
Ao encostarem ao lado do líder, um após o outro, foram retirando seus capacetes. Não
havia outra palavra melhor para descrevê-los naquele instante do que decepcionados. A
camada verde era compacta, mostrando existir ali muito mais do que um par de árvores
frondosas cruzando a pista.
Marcel saltou da moto, tão desnorteado, que a mil e cem foi ao chão. O novato correu até
a muralha e começou a chutar os galhos mais próximos.
— Merda! Merda! Malditos filhos de umas putas!
— O Chorão vai começar de novo... — brincou Joel. Zacarias e Paraná não puderam
conter o riso. Ao menos para
isso serviu o desatino do novato.
— Cala a boca, novato! — berrou energicamente o líder. Todos olharam para Adriano,
espantados com o nervosismo. Marcel parou de atracar-se com os galhos e com os
inúteis
xingamentos.
Adriano repetiu o sinal de silêncio. Todos entenderam. Um barulho bem alto. Uma
máquina. Um zumbido de um pequeno motor. O ruído aumentou de volume como se outra
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Bento
HororUma noite começada como outra qualquer entra para história da humanidade quando metade dos seres humanos adormece de forma inexplicável. Tratada como uma epidemia, a doença desencadeia um caos sem precedentes nas cidades do mundo. O pesadelo parece...