Capítulo 16

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Lucas desceu os três andares do prédio de dormitórios acompanhado pelo alfaiate e seus

assistentes. Ao chegarem ao pátio, recoberto por granito, os homens trataram de cercar o

guerreiro. Paulo vinha à sua esquerda e indicava o caminho. Teriam que caminhar um bocado

até chegar à residência do Bispo.

Lucas acostumava-se ao aspecto imposto pelo traje. O colete de couro dificultava que as

costas fossem arqueadas, obrigando-o a assumir uma postura ereta, altiva. Sem perceber, a

mão direita foi ao cabo da espada, fazendo com que a bainha não chacoalhasse tanto. A capa

vermelha ocultava ambos os braços. Lucas estava impressionado com a pureza do ar. Nada de

fumaça, nenhum traço do céu marrom-cinzento de São Paulo. Observou que caminhavam sobre

uma alameda larga e prédios de poucos andares, medianos, ocupavam a paisagem

espaçadamente, nada daqueles prédios empilhados, um colado ao outro, como no centro

urbano. Ao redor dos prédios havia bastante gramado, poucas pessoas cruzavam os caminhos

cimentados. Ao que parecia, todo o conceito arquitetônico conhecido tinha sido abolido após

o traumático evento que o doutor lhe descrevera. Com o colapso da sociedade, em meados do

século XXI, a superpopulação planetária havia desaparecido e agora espaço não parecia ser

grande problema. Como os sobreviventes tinham se virado até então? Queria era ter a sorte de

encontrar com um conhecido e sentar num bar para tomar chope a madrugada inteira, perguntar

tudo. Ouvir da boca de um amigo, alguém em quem pudesse acreditar, tudo o que havia se

passado enquanto dormia. Uma história fabulosa, certamente. Lucas percebeu que a alameda

estendia-se por centenas de metros e, na distância onde seus olhos começavam a falhar, podia

ver um borrão escuro subindo ao céu. O que seria aquele prédio maior que os outros?

—Isso aqui era o campus de uma universidade federal décadas atrás. — comentou o

alfaiate, como lendo o pensamento do guerreiro. — A maioria dos grandes centros foram

abandonados. Você era dc São Paulo, não era?

—Hum-hum.

Silêncio. Os passos dos homens ecoando.

—As principais metrópoles foram abandonadas. São Paulo, Florianópolis, Rio de

Janeiro, viraram redutos de malucos e de vampiros. Praticamente não dá para passar uma

noite com vida nesses lugares. Sorocaba, Presidente Prudente, Salvador, Aracaju, Ribeirão

Preto, Belo Horizonte, Campinas, Niterói, Campo Grande... todos esses lugares e tantos

nomes quanto você possa lembrar... já eram. Viraram cidades fantasmas.

—O que é aquele prédio no final da rua?

Os homens olharam adiante. Paulo respondeu:

—Não é um prédio, senhor. Aquilo é um muro. Se olhar ao redor do campus, verá que ele

BentoOnde histórias criam vida. Descubra agora