Lucas desceu os três andares do prédio de dormitórios acompanhado pelo alfaiate e seus
assistentes. Ao chegarem ao pátio, recoberto por granito, os homens trataram de cercar o
guerreiro. Paulo vinha à sua esquerda e indicava o caminho. Teriam que caminhar um bocado
até chegar à residência do Bispo.
Lucas acostumava-se ao aspecto imposto pelo traje. O colete de couro dificultava que as
costas fossem arqueadas, obrigando-o a assumir uma postura ereta, altiva. Sem perceber, a
mão direita foi ao cabo da espada, fazendo com que a bainha não chacoalhasse tanto. A capa
vermelha ocultava ambos os braços. Lucas estava impressionado com a pureza do ar. Nada de
fumaça, nenhum traço do céu marrom-cinzento de São Paulo. Observou que caminhavam sobre
uma alameda larga e prédios de poucos andares, medianos, ocupavam a paisagem
espaçadamente, nada daqueles prédios empilhados, um colado ao outro, como no centro
urbano. Ao redor dos prédios havia bastante gramado, poucas pessoas cruzavam os caminhos
cimentados. Ao que parecia, todo o conceito arquitetônico conhecido tinha sido abolido após
o traumático evento que o doutor lhe descrevera. Com o colapso da sociedade, em meados do
século XXI, a superpopulação planetária havia desaparecido e agora espaço não parecia ser
grande problema. Como os sobreviventes tinham se virado até então? Queria era ter a sorte de
encontrar com um conhecido e sentar num bar para tomar chope a madrugada inteira, perguntar
tudo. Ouvir da boca de um amigo, alguém em quem pudesse acreditar, tudo o que havia se
passado enquanto dormia. Uma história fabulosa, certamente. Lucas percebeu que a alameda
estendia-se por centenas de metros e, na distância onde seus olhos começavam a falhar, podia
ver um borrão escuro subindo ao céu. O que seria aquele prédio maior que os outros?
—Isso aqui era o campus de uma universidade federal décadas atrás. — comentou o
alfaiate, como lendo o pensamento do guerreiro. — A maioria dos grandes centros foram
abandonados. Você era dc São Paulo, não era?
—Hum-hum.
Silêncio. Os passos dos homens ecoando.
—As principais metrópoles foram abandonadas. São Paulo, Florianópolis, Rio de
Janeiro, viraram redutos de malucos e de vampiros. Praticamente não dá para passar uma
noite com vida nesses lugares. Sorocaba, Presidente Prudente, Salvador, Aracaju, Ribeirão
Preto, Belo Horizonte, Campinas, Niterói, Campo Grande... todos esses lugares e tantos
nomes quanto você possa lembrar... já eram. Viraram cidades fantasmas.
—O que é aquele prédio no final da rua?
Os homens olharam adiante. Paulo respondeu:
—Não é um prédio, senhor. Aquilo é um muro. Se olhar ao redor do campus, verá que ele
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Bento
HororUma noite começada como outra qualquer entra para história da humanidade quando metade dos seres humanos adormece de forma inexplicável. Tratada como uma epidemia, a doença desencadeia um caos sem precedentes nas cidades do mundo. O pesadelo parece...