Lucas tinha sido conduzido até um dormitório. Diferente da cela branca azulejada, o
dormitório lhe parecia um tanto mais aconchegante. A cabeça girava com as informações
recentemente adquiridas. Parecia dentro de um sonho ruim. Dentro de um roteiro de filme de
ficção. Mesmo assim não pôde deixar de sentir aconchego naquele quarto médio. A luz do sol
entrando pela janela e desenhando um trapézio no chão de madeira enchia o ambiente abstrato
com uma sensação de realidade. Sol, chão, móveis. Barulho de crianças brincando. Lucas
ficou de pé. Olhou a cama com o lençol desarrumado apenas onde estivera repousando o
traseiro. Não sabia exatamente o que fazer. O doutor dissera apenas que teria de esperar o
alfaiate. Coçou a cabeça. Dar-lhe-iam um terno? O doutor dissera que ele seria preparado
para conhecer alguém. Usara uma palavra que não se lembrava agora... torcia para não ser
outro médico, afinal de contas, depois de desperto, só havia conhecido médicos. A Dra. Ana e
o "doutor". Tinha lido o nome do doutor num dos diplomas. Parecia um daqueles nomes
eslovacos, que não se lembrava agora. Sua cabeça estava uma merda. Não conseguia se
lembrar de muita coisa. O passado, principalmente. O passado estava submerso numa névoa
tênue, mas suficiente para bloquear os detalhes cruciais para uma lembrança clara da vida. O
doutor comentara que ele fora corretor de seguros de automóveis. Lucas aproximou-se da
janela. Viu duas crianças brincando num pátio. O dormitório ficava num pequeno prédio de
três andares e localizava-se, justamente, no último deles. Podia ver muitos pássaros, muito
mais do que o habitual. O peito apertou-se. Tristeza. Nostalgia. O que seria habitual agora?
Seria comum encontrar uma onça-pintada no meio da rua? E aquela história de vampiros?
Mais uma vez passou a mão pela cabeça. Ah! Como queria acordar daquele sonho ruim! A
cabeça doía toda vez que a voz do doutor repetia a história em seu cérebro. Mas não tinha
como negar aquela realidade. Não podia duvidar sobre vampiros. Seu ex-companheiro de cela
tinha lhe saltado para cima com dentes compridos e rugidos monstruosos. Gabriel tinha
transformado-se num bicho... num vampiro. Não tinha como duvidar. Mas e todo o resto?
Seria também verdade? Encostou a testa no vidro da janela. As duas crianças tinham sumido
do seu campo de visão. O céu estava limpo e vestido num azul nunca visto. Lindo. Sorriu.
Ouviu passos no corredor. Tentou enxergar quem vinha pelo vidro. Sem conseguir, foi até a
porta e saiu para o corredor. A luz do sol chegava ao chão vermelho e cobria sua pele,
causando um repentino formigamento. Ouviu vozes. Quem vinha, não vinha sozinho. Os olhos
teimavam em procurar gente, mas a luz quase cegava. Lucas apoiou-se no balaústre. Apesar de
três andares, o complexo de dormitórios era baixo. Deixando-se guiar pelo barulho dos
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Bento
TerrorUma noite começada como outra qualquer entra para história da humanidade quando metade dos seres humanos adormece de forma inexplicável. Tratada como uma epidemia, a doença desencadeia um caos sem precedentes nas cidades do mundo. O pesadelo parece...