Capítulo 5

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Já tinham ultrapassado a metade do caminho. Adriano enxugou o suor da testa. As motos

estavam estacionadas no acostamento, onde existia uma grama rasteira que, gradativamente,

avançava para a pista. Sinatra, sentado numa rocha lisa, começava a desfiar seu repertório

exclusivo de flashbacks para os parceiros de estrada. Todos gostavam da voz do cantor do

grupo que embalara muitos acampamentos na estrada, distraindo um pouco o medo. Os

soldados tomavam água numa bica natural, que transbordava à beira do asfalto, ouvindo

Sonífera Ilha, dos Titãs. A bica formava ali um tanque cristalino, com uma circunferência de

quatro metros, aproximadamente. Apesar de pequeno, o lago era imensamente lindo. As

pedras ao fundo podiam ser vistas, mas não chamavam tanta atenção quanto a Mata Atlântica

ao redor. Não raro viam-se animais silvestres pulando entre as árvores, caçando frutas que

eram encontradas com fartura naquela época do ano. A voz de Sinatra era acompanhada pelo

guincho dos macacos e o piar de vários tipos de aves. O planeta todo sofrera gigantesca

alteração nas últimas décadas. Sem a interferência maciça da raça humana, destruidora, a

Terra respirava aliviada e retomava sua exuberância com o passar dos anos. As matas e

florestas voltavam com força. Excluindo aquelas que serviam de caça para fins de

alimentação. Os animais cresciam e espalhavam-se naturalmente, lutando exclusivamente

contra seus predadores silvestres. Nem os homens, nem os malditos noturnos, interessavam-se

pelas criaturas das florestas. As aves voltavam a reinar no céu. Alguém que tivesse vivido há

trinta anos estranharia imensamente aquelas novas paisagens. Eram lindas demais... em mais

de um sentido.

Adriano também tomou água gelada da fonte natural e abasteceu seu cantil. Ainda tinham

muito asfalto para comer até São Vítor. Restavam cerca de trezentos quilômetros, o que

consumiria quatro horas, em virtude das condições da estrada. Até ali já haviam se deparado

com cinco árvores na pista. As novas e de tronco fino eram ceifadas e davam passagem para

as motocicletas. Mas, três delas eram imensas, o que consumiu mais tempo para transpor o

obstáculo. Todas pareciam ter ido ao chão, em razão de tempestades com ventos

avassaladores. Nenhuma parecia ter sido derrubada pelos noturnos, mas eles bem seriam

capazes de plantar aqueles percalços no trajeto. Eram criaturas astutas, perversas, donas das

maldades. Capazes de truques como aqueles ou piores. Tudo para prender na estrada os que se

aventuravam de uma fortificação a outra. Queriam que os incautos viajantes ficassem

desprotegidos na noite, que fossem presas fáceis longe dos conglomerados cercados por

muros altos e vigiados por soldados acostumados a suas artimanhas. Quitutes para jogos

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