Capítulo 9

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Adriano deu um graveto para Gaspar. Os homens estavam em volta. Todos silenciosos. O

único barulho existente era o som da água descendo e dos gemidos intermitentes do velho

soldado ferido.

Gaspar colocou o graveto entre os dentes, mordendo-o firmemente. Sabia que Adriano ia

tentar minimizar os ferimentos. Não traziam anestésicos... ia doer.

Adriano via dois gravetos cravados no abdome firme de Gaspar. Provavelmente tinha

atravessado a pele, os músculos abdominais e afundado para dentro. A cada respiração, o

sangue esvaía pelas bordas das lacerações. Com um golpe só arrancou o primeiro pedaço de

galho. Gaspar contorceu-se. O sangue jorrou abundante. Adriano balançou a cabeça. Aquilo

não era bom. Com a mesma frieza arrancou o segundo. O amigo gemeu e protestou, esmagando

o máximo que podia o graveto nos dentes. Mais sangue escorrendo pela barriga. Adriano tirou

um pano da mochila e limpou as feridas do amigo. O subir e descer da barriga bombeava

sangue para fora. Estaria sofrendo uma hemorragia? Passava uma artéria importante próximo

ao umbigo? Não conseguia lembrar. Não era médico. Nenhum médico no grupo. Olhou para os

soldados. Estavam com os semblantes preocupados. O tempo correndo. Novamente lembrando

do tempo. Tinha que se preocupar em construir um abrigo para a noite. Tinha que pensar nisso

agora. Ainda mais com esse novo contratempo. Levar um homem ferido não era fácil. Olhou

para os homens. Tinha que dar abrigo para os guerreiros. Vasculhou a mochila e apanhou

gazes. Retirou um estojo. Agulha e linha. Costurou os pequenos cortes para bloquear o

sangramento. Os buracos eram pequenos, mas pareciam profundos. Rezar para que parasse de

sangrar. Rezar para que Gaspar não morresse até o nascer do sol. Dois pontos em cada

abertura. Estava fazendo a coisa certa? Era bom quando tinham um médico no grupo ou alguém

que entendesse de medicina, do corpo humano. Se Francis estivesse com ele, talvez, o ferido

tivesse melhores chances. Pediu que levantassem Gaspar e o apoiassem pelas axilas,

afastando os braços de seu tronco. Enrolou as bandagens com firmeza, formando uma faixa de

um palmo. Gaspar ainda arquejava, parecia não estar pronto para ficar de pé sem ajuda.

Adriano notou que o ombro direito do soldado estava bastante inchado e que filetes de sangue

também corriam nas costas esfoladas. Os fios de sangue estavam marrons, pois o corpo de

Gaspar estava coberto por bastante poeira.

— Vamos levá-lo ao rio. Lavar essa sujeira toda. Deixe-o tentar andar sozinho.

Aos poucos, soltaram Gaspar.

— Eu consigo. Pode deixar. Só tô um pouco tonto.

Gaspar curvou-se e, mancando, tentou aproximar-se do rio. O corpo doía. Que besteira!

Droga de pedra! Tinha quase conseguido. Agora estava com aqueles buracos na barriga.

Olhou para trás, Adriano o acompanhava. Os outros começavam a subir o morro para trazer

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