Adriano deu um graveto para Gaspar. Os homens estavam em volta. Todos silenciosos. O
único barulho existente era o som da água descendo e dos gemidos intermitentes do velho
soldado ferido.
Gaspar colocou o graveto entre os dentes, mordendo-o firmemente. Sabia que Adriano ia
tentar minimizar os ferimentos. Não traziam anestésicos... ia doer.
Adriano via dois gravetos cravados no abdome firme de Gaspar. Provavelmente tinha
atravessado a pele, os músculos abdominais e afundado para dentro. A cada respiração, o
sangue esvaía pelas bordas das lacerações. Com um golpe só arrancou o primeiro pedaço de
galho. Gaspar contorceu-se. O sangue jorrou abundante. Adriano balançou a cabeça. Aquilo
não era bom. Com a mesma frieza arrancou o segundo. O amigo gemeu e protestou, esmagando
o máximo que podia o graveto nos dentes. Mais sangue escorrendo pela barriga. Adriano tirou
um pano da mochila e limpou as feridas do amigo. O subir e descer da barriga bombeava
sangue para fora. Estaria sofrendo uma hemorragia? Passava uma artéria importante próximo
ao umbigo? Não conseguia lembrar. Não era médico. Nenhum médico no grupo. Olhou para os
soldados. Estavam com os semblantes preocupados. O tempo correndo. Novamente lembrando
do tempo. Tinha que se preocupar em construir um abrigo para a noite. Tinha que pensar nisso
agora. Ainda mais com esse novo contratempo. Levar um homem ferido não era fácil. Olhou
para os homens. Tinha que dar abrigo para os guerreiros. Vasculhou a mochila e apanhou
gazes. Retirou um estojo. Agulha e linha. Costurou os pequenos cortes para bloquear o
sangramento. Os buracos eram pequenos, mas pareciam profundos. Rezar para que parasse de
sangrar. Rezar para que Gaspar não morresse até o nascer do sol. Dois pontos em cada
abertura. Estava fazendo a coisa certa? Era bom quando tinham um médico no grupo ou alguém
que entendesse de medicina, do corpo humano. Se Francis estivesse com ele, talvez, o ferido
tivesse melhores chances. Pediu que levantassem Gaspar e o apoiassem pelas axilas,
afastando os braços de seu tronco. Enrolou as bandagens com firmeza, formando uma faixa de
um palmo. Gaspar ainda arquejava, parecia não estar pronto para ficar de pé sem ajuda.
Adriano notou que o ombro direito do soldado estava bastante inchado e que filetes de sangue
também corriam nas costas esfoladas. Os fios de sangue estavam marrons, pois o corpo de
Gaspar estava coberto por bastante poeira.
— Vamos levá-lo ao rio. Lavar essa sujeira toda. Deixe-o tentar andar sozinho.
Aos poucos, soltaram Gaspar.
— Eu consigo. Pode deixar. Só tô um pouco tonto.
Gaspar curvou-se e, mancando, tentou aproximar-se do rio. O corpo doía. Que besteira!
Droga de pedra! Tinha quase conseguido. Agora estava com aqueles buracos na barriga.
Olhou para trás, Adriano o acompanhava. Os outros começavam a subir o morro para trazer
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Bento
HorreurUma noite começada como outra qualquer entra para história da humanidade quando metade dos seres humanos adormece de forma inexplicável. Tratada como uma epidemia, a doença desencadeia um caos sem precedentes nas cidades do mundo. O pesadelo parece...