Uma luz forte nos olhos. Lucas levantou-se agitado. Tão repentinamente que a doutora
assustou-se, dando passos desequilibrados para trás.
Lucas, de pé, passou a encará-la com os olhos arregalados. Respiração rápida, ofegante.
Aproximou-se repentinamente da médica, segurou-a firme entre os braços. Cheirou os cabelos
e a pele da médica. Sem cheiro. Os olhos agitados vagaram pelo cômodo branco. Tudo limpo.
Nenhum corpo, nenhum sangue no chão. Teria sofrido uma alucinação?
— Cadê o Gabriel?
A doutora Ana abaixou as mãos, recuperando-se do susto.
— Você... eles já o tiraram daqui.
— Morto? Ana aquiesceu.
Lucas passou a mão no cabelo ondulado.
— Pensei que aquilo tivesse sido um pesadelo...
— Não foi. Você teve alta. Só estava fazendo uns exames...
— Alta?
Ana não respondeu, aproximando-se e voltando a examinar os olhos do paciente.
— Eu mato um cara e tenho alta? Por que não me disseram antes? Tinha acabado com ele
no primeiro encontro... já não ia com a cara dele mesmo.
— Vista as roupas limpas que estão debaixo da cama. Eles virão te buscar para falar com
o doutor.
— Doutora...
Ana olhou nos olhos de Lucas.
— Eu quero uma janela. Ana sorriu.
— Você vai sair daqui, Lucas, hoje ainda. Prometo. — respondeu, indo em direção a
porta.
— Doutora?
A médica reteve-se já no corredor, voltando-se para olhar o paciente.
— Diga.
Lucas manteve-se em silêncio um instante. Parecia relutar em falar.
Ana sorriu para o rapaz.
— Quando vou te ver de novo? — ele perguntou.
Ana abriu ainda mais o sorriso. Abriu mais os olhos, parecendo deixá-los mais verde-
acinzentados. Por fim soergueu os ombros.
— Não sei, Lucas. Não sei.
A porta deslizou, separando médica e paciente. Ana mordiscou o lábio e caminhou pelo
corredor. O paciente estava com uma aparência horrível, sangue cobrindo sua calça e tórax.
Magro, em conseqüência da inanição, cabelos maltratados, unhas horrorosas... mas tinha um
brilho nos olhos... um furor. Balançou a cabeça negando aquele frio na barriga. Não era à toa
que Lucas era o que era. Talvez só estivesse impressionada. Heróis sempre impressionam.
Dentro da cela branca, assim que a médica saiu, Lucas obedeceu, trocando a roupa suja
pela roupa limpa. Os olhos procuravam nos azulejos indícios do combate com aquele bicho
que se apossara do vizinho. Não encontrou nem sangue, nem espadas.
Terminando de vestir-se, Lucas sentou-se na cama, tirando os pés do chão e abraçando os
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Bento
TerrorUma noite começada como outra qualquer entra para história da humanidade quando metade dos seres humanos adormece de forma inexplicável. Tratada como uma epidemia, a doença desencadeia um caos sem precedentes nas cidades do mundo. O pesadelo parece...