Capítulo 12

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Uma luz forte nos olhos. Lucas levantou-se agitado. Tão repentinamente que a doutora

assustou-se, dando passos desequilibrados para trás.

Lucas, de pé, passou a encará-la com os olhos arregalados. Respiração rápida, ofegante.

Aproximou-se repentinamente da médica, segurou-a firme entre os braços. Cheirou os cabelos

e a pele da médica. Sem cheiro. Os olhos agitados vagaram pelo cômodo branco. Tudo limpo.

Nenhum corpo, nenhum sangue no chão. Teria sofrido uma alucinação?

— Cadê o Gabriel?

A doutora Ana abaixou as mãos, recuperando-se do susto.

— Você... eles já o tiraram daqui.

— Morto? Ana aquiesceu.

Lucas passou a mão no cabelo ondulado.

— Pensei que aquilo tivesse sido um pesadelo...

— Não foi. Você teve alta. Só estava fazendo uns exames...

— Alta?

Ana não respondeu, aproximando-se e voltando a examinar os olhos do paciente.

— Eu mato um cara e tenho alta? Por que não me disseram antes? Tinha acabado com ele

no primeiro encontro... já não ia com a cara dele mesmo.

— Vista as roupas limpas que estão debaixo da cama. Eles virão te buscar para falar com

o doutor.

— Doutora...

Ana olhou nos olhos de Lucas.

— Eu quero uma janela. Ana sorriu.

— Você vai sair daqui, Lucas, hoje ainda. Prometo. — respondeu, indo em direção a

porta.

— Doutora?

A médica reteve-se já no corredor, voltando-se para olhar o paciente.

— Diga.

Lucas manteve-se em silêncio um instante. Parecia relutar em falar.

Ana sorriu para o rapaz.

— Quando vou te ver de novo? — ele perguntou.

Ana abriu ainda mais o sorriso. Abriu mais os olhos, parecendo deixá-los mais verde-

acinzentados. Por fim soergueu os ombros.

— Não sei, Lucas. Não sei.

A porta deslizou, separando médica e paciente. Ana mordiscou o lábio e caminhou pelo

corredor. O paciente estava com uma aparência horrível, sangue cobrindo sua calça e tórax.

Magro, em conseqüência da inanição, cabelos maltratados, unhas horrorosas... mas tinha um

brilho nos olhos... um furor. Balançou a cabeça negando aquele frio na barriga. Não era à toa

que Lucas era o que era. Talvez só estivesse impressionada. Heróis sempre impressionam.

Dentro da cela branca, assim que a médica saiu, Lucas obedeceu, trocando a roupa suja

pela roupa limpa. Os olhos procuravam nos azulejos indícios do combate com aquele bicho

que se apossara do vizinho. Não encontrou nem sangue, nem espadas.

Terminando de vestir-se, Lucas sentou-se na cama, tirando os pés do chão e abraçando os

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