Jennifer
Acordo com a luz do sol em meu rosto, abro os olhos e vejo o quarto completamente iluminado. Percebo o local estranho no qual me encontro e lembro da maravilhosa noite que tive ontem, viro-me para o centro da cama e vejo Lana dormindo como um anjo, cabelos desengonçados, lábios levemente curvados em um sorriso e uma expressão leve de conforto e paz. Levo minha mão de encontro a sua bochecha e acaricio com o dedão, levo um susto quando ela se mexe e quase acorda, virando para o outro lado e ficando de costas para mim. De inicio fitando suas costas nada de estranho me ocorreu, olhei para cada marca, arranhão e pinta que havia naquele espaço fabuloso dela, mas então algo me chamou a atenção, e quando parei para prestar mais atenção achei mais.
Cicatrizes, várias delas. Todas bem cicatrizadas, quase imperceptíveis mas ainda assim existentes. Meu coração se apertou com todas aquelas marcas expostas para mim. Passaram na minha cabeça vários tipos de acidentes que poderiam ocasionar várias dessas marcas, mas nenhum deles explicaria uma em especial. Um circulo pequeno como se fosse de queimadura, era quase imperceptível mesmo, mas podia ver o quão doloroso foi para ter aquilo em seu corpo. Toco na marca e levo um susto quando ela pula assim que meus dedos encontram sua pele, ela se vira para mim rápido com olhos arregalados e fica mais calma quando me vê.
-Oi.-Abro um sorriso largo e sem graça.-Bom dia.
Ela se vira para mim com a expressão calma e sorri de canto do rosto.
-Bom dia Jen.-Ela era tão perfeita que até a pronuncia de meu nome nos lábios dela ficava mais bonito.
-Eu não queria te acordar, me desculpa.-Sorrio sem jeito.
-Acho que você viu algumas coisas na luz que a escuridão não poderia mostrar.-Ela diz um pouco melancólica.-Mas não se preocupe, eu não me importo com elas mais. Já me acostumei.
-Como conseguiu isso?-Digo sem perceber e me arrependo assim que vejo a expressão triste se formar em seu rosto.-Não precisa...
-Eu sou bem fodida, você não vai querer saber.-Ela diz com humor.-Irá correr depois da primeira história.
-Acho isso impossível de acontecer. Por nada nesse mundo eu te deixaria agora, nem com você me implorando.-Digo e passo um braço por sua cintura puxando-a para mim, ficando cara a cara com ela.-E eu adoro quando você implora.-Sussurro.
-Eu percebi isso ontem a noite.-Ela ri e eu rio junto, colando nossas testas uma na outra e entrelaçando nossos dedos.
Ficamos alguns segundos nos encarando até ela começar a falar.
-Eu tenho dois irmãos, Eric que você conheceu e Mark o caçula.-Ela sorri por um segundo ao pronunciar sobre Mark, provavelmente ele era especial para ela.-Minha mãe morreu quando eu tinha 5 anos então eu praticamente criei o Mark, enquanto meu pai e Eric ficavam fazendo vários nadas nas companhias.-Ela olha para cima e vejo lágrimas surgirem em seus olhos.-Meu pai morreu a dois anos atrás.-Ela disse e pude sentir a dor dela emergir para mim, balanço a cabeça e fecho os olhos como em um sinal de "sinto muito".-Em um acidente de carro. Comigo.-Ela faz uma pausa.- A maioria dessas cicatrizes vieram desse acidente, foi bem terrível, quase me matou. Fiquei duas semanas em coma e três meses internada, não pude nem ir ao enterro dele.
-Porque você e Eric não se dão muito bem?-Pergunto baixinho.
-Eu e Eric somos um caso perdido a muito tempo. Brigávamos o tempo todo desde pequena e quando meu pai me colocou como CEO das companhias e empresas da família ele praticamente pirou. Por ser o primogênito do meu pai ele não aceitou o meu cargo, acabou dizendo poucas e boas para o meu pai e o obrigou a restabelecer os cargos.
-E Mark? Nunca gostou dos negócios da família?-Pergunto curiosa e ela sorri triste.
-Não teve a oportunidade, Mark tem esquizofrenia e está internado em uma clinica no Alasca. A mesma que a minha mãe ficou.-Fico chocada.
-Sua mãe tinha esquizofrenia?-Pergunto.
-Apesar de não ter tido muito contato com ela eu tenho algumas lembranças que não alegam isso, mas meu pai sempre disse que sim e que era praticamente 'curada'. Quando Mark apresentou os sintomas nós levamos ele para fazer o tratamento, o único problema foi que ele não se curou igual minha mãe, ele não demostrava melhora e em um dia de stress ele atacou uma das empregadas da nossa antiga casa. Ela não morreu mas fez questão de conseguir ordem judicial de coloca-lo em uma clinica, tirando qualquer tipo de defesa da gente.
Levo sua mão até minha boca e a beijo com delicadeza, quando afasto a palma dela do meu rosto vejo um buraco cicatrizado bem no meio da mão e me assusto.
-O que?-olho para ela desentendia e ela me observa com atenção.-Jesus!
-Um ano e meio atrás, na pior época da minha vida.-Ela disse referindo-se as marcas.-E sua citação de Jesus é quase bem justa, apesar de eu não ter sido pregada na cruz e sim no chão.
-O que?-Me sento transtornada.-Como? Quem?-Pergunto sentindo uma dor forte dentro de meu peito e a puxo para mim em um abraço.
-Um sequestro, na antiga cidade em que eu morava, mataram o meu marido e deixaram Jared amarrado na beira da estrada. Eu fui encontrada em um galpão abandonado dois dias depois quase morta. Eric pagou a fiança que os caras queriam e eles contaram onde eu estava. Acho que foi a única vez que ele fez algo bom para mim.-Seguro seu rosto forte contra meus braços em uma tentativa de tirar todo aquele sentimento ruim que circulava nós duas.-Os caras foram presos uma semana depois em Las Vegas.
-Foi onde você perdeu o Jared?-Pergunto deixando uma lágrima escapar, mas limpando-a rapidamente para que Lana não visse.
-A família biológica do Jared queria tirar ele de mim a muito tempo, apenas esperaram a oportunidade perfeita no momento perfeito para conseguirem o que queriam.-Ela faz uma pausa.-E eu apenas deixei que acontecesse, não lutei por ele e acabei desistindo de tudo em volta de mim. As empresas ficaram por conta de Eric e Jared foi morar com a família biológica sem que eu pudesse falar nada, o único motivo de eu estar viva hoje se chama Rebecca Mader, a vadia que cuidou de mim por todos os dias desde a morte do meu pai, coisa que nem meu marido morto havia feito.
-Você era casada? Com um homem?
-Sim, por pura obrigação. Ele tinha um caso com toda a costa leste enquanto eu estava com o oeste.-Ela solta um risinho abafado.-Apenas por status, da minha parte e da dele, até chegamos a dividir namoradas em uma certa época.
-Céus!-Rio.-Isso é terrível.
Depois de rir eu apenas fiquei sentindo sua respiração bater contra meu ombro nu por longos segundos.
-Você vai correr agora?-"Oh amor, meu maior medo é de você correr quando descobrir a verdade sobre mim."
-Eu não vou a lugar nenhum desacompanhada de você.-Beijei o topo de sua cabeça.
-Eu só posso estar sonhando.-Ela afasta o rosto para olhar em meus olhos e eu aproveito a oportunidade para lhe dar um beijo feroz.
-Isso pareceu bem real para mim.-Digo cortando o beijo e me deitando por cima dela. Ela sorri largo para mim e voltamos a nos beijar.
Naquela manhã depois de tantas revelações eu e Lana fizemos amor, daqueles quentinhos e deliciosos, cheios de sussurros e caricias até que nos entregamos juntas a um esplendido orgasmo. Eu não imaginaria toda a história que se passava por trás dos olhos misteriosos de Lana quando a vi pela primeira vez, mas também não me imaginava fazendo amor com ela em uma manhã de domingo com a sensação de que aquilo era a coisa mais normal do mundo para nós duas e que fazíamos aquilo desde sempre. Como se por só hoje pertencêssemos uma a outra. A minha resposta eu já tinha, eu tinha medo era da resposta dela.
Eu era completamente dela, e a minha duvida era...
Será que ela também é minha?
E pior, será que ela ficaria após saber de toda a verdade?
Será?
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Apenas nós - Morrilla
FanfictionJennifer Morrison é uma renomada professora que depois de uns problemas pessoais resolve mudar-se de cidade e começar uma nova vida. Em seu novo emprego ela ganha o amor e carinho de todos os seus alunos rapidamente e acaba criando inimizade com a d...