Eu nunca imaginei vê-la assim. Indefesa, amedrontada. Ela não parecia ser esse tipo de garota. Mas eu estava ali. Para a defender, tirar seus medos. Ela podia contar comigo. Me sentia incapaz de deixá-la sozinha de novo. Mesmo que fosse por um único segundo.
- Nathália... - me aproximei e me ajoelhei a sua frente tirando suas mãos.
Ela escondia um rosto lindo com uma grande mancha vermelha. Molhado por lágrimas que escorriam por suas bochechas. Ela havia perdido aquele lindo brilho no olhar. E saber que tudo isso foi culpa daquele covarde, me deixava louco. Eu queria sair dali e socar ele até que ele estivesse sem vida.
Mas não podia deixá-la sozinha.
Ela agora não parecia a antiga Jericó. Com muralhas altas e guardas atentos. Parecia um bairro comum e indefeso. Ela olhava em meus olhos e clamava por ajuda silenciosamente.
- Me deixa... Por favor. - abaixou a cabeça e fungou.
- Não, olha para mim. - segurei em seu queixo e a fiz olhar em meus olhos. - Quem é ele? Porque ele fez isso?
- E-eu não quero falar. - disse baixo.
- Ele já fez isso antes? Ele te ameaçou? - ela continuava chorando em silêncio. - Nathália me responde!
- Sim. Ele já fez... Mas... Ele estava bêbado, então eu deixei para lá. - confessou e desviou o olhar para o chão.
- Deixou para lá? - perguntei, incrédulo.- Como assim? O cara te bate e você deixa passar?
- Olha se você vai ficar me julgando, é melhor me deixar sozinha! - ela cruzou os braços.
- Estou tentando te ajudar. - segurei em seus joelhos.
- Não é o que parece! - riu sarcástica.
- Nathália... Desculpa. - mexi em seus cabelos.
- Nathy.
- O que?
- Me chama de Nathy! - disse ainda sem me olhar.
- Como quiser. - sorri. - Então, me diz porque ele...
- ...podemos não falar sobre isso? - interrompeu e finalmente me olhou, apenas assinti. - Obrigada.
- Eu só tenho uma pergunta. Não é totalmente sobre o que aconteceu lá. - ela suspirou e assintiu. - Você ama ele?
Ela me olhava estranho, parecia pensar. Talvez nem ela mesma tenha se perguntado isso alguma vez na vida ou classificado seus sentimentos como amor. Talvez ela não saiba o porquê está passando por isso ou porquê justo ela.
A maioria das coisas na nossa vida podem ser evitadas. Você só precisa identificar no começo quando aquilo pode te fazer sofrer.
Talvez, ela nem mesmo tenha percebido que eu só quero o seu bem. E me acha um completo intrometido que só quer saber de sua vida. Mas não. Eu só quero conhecê-la e fazê-la confiar em mim. Talvez nem eu possa classificar meus sentimentos como amor, mas sei que é algo que chega bem perto disso.
- Eu não sei. Nem mesmo sei porque estamos juntos. - ela desviou o olhar para o chão.
- É. O amor é complicado. - balancei a cabeça.
- Na verdade, o amor é uma nova forma de se redescobrir. - sorriu fraco e mordeu o canto da boca.
"É uma nova forma de se redescobrir". Essa frase vaga livremente pela minha mente. Não sabia o porque, mas essa frase estava mexendo comigo tanto quanto ela mexe.
- Paulo?! - Caique chamou.
Olhei para ele e Larissa estava atrás do mesmo, respirando ofegante. Não demorou muito para que ela corresse para os braços da irmã. Usava um macaquinho preto, soltinho no corpo e saltos baixos. Deixei as duas conversando e caminhei até Caique que estava soado e com uma macha vermelha no rosto.
- O que aconteceu? - perguntei virando o rosto dele para ver melhor.
Estávamos sendo iluminados pela luz fraca de um poste na calçada um tanto distante, era complicado ver alguma coisa ali.
- Eu briguei com aquele babaca. - suspirou. - Como ela está?
- Acho que está melhor agora. - olhei de relance para ela.
Sorria fraco enquanto a irmã acariciava seus cabelos e falava algo que não era possível se ouvir.
- Ela bate bem. A boca do infeliz estava sangrando. - ele riu fraco. - Eu deixei ainda mais.
- Ele mereceu. - Caique concordou com a cabeça. - Onde já se viu, bater em uma mulher linda dessas?
- Ou em qualquer uma outra. - Caique deu de ombros. - É um covarde mesmo... Foi só eu chegar e ele trancou o cu. Não deveria estar entrando nem ar.
- Olha a zoeira... - dei um tapa fraco em sua cabeça e ele riu. - Nathan? Cadê?
- Estava tentando controlar a Bea. Ela me ajudou a bater no otário. Paulo, essas meninas devem ser lutadoras de UFC e a gente não sabe. - me olhou com os olhos arregalados.
- Para de falar besteira. - empurrei ele de leve.
- Caique! - Nathy chamou e ele saiu andando em sua direção.
Caminhei em passos lentos logo atrás dele e ela levantou o abraçando. O mesmo correspondeu e Larissa se levantou do tronco e limpou as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Coloquei a mão sobre seu ombro e ela se virou para mim.
- Vocês estão bem? - sussurrei para ela.
- Sim. Obrigada por tirar ela de lá. - agradeceu sorridente.
- Não foi nada. - sorri.
- ME SOLTA, NATHAN. PORRA! CADÊ MINHA IRMÃ?! - Bea apareceu gritando e Nathy foi até ela.
- Bea! - Nathan chamou.
- Beatriz, calma. Eu estou bem! - Nathy segurou suas mãos. - Ei?
- NATHÁLIA EU VOU MATAR AQUELE VAGABUNDO! - ela gritava.
- Sem gritos. Olha para mim e se acalma. - segurou o rosto da irmã. - Está tudo bem, respira!
- Tá, eu parei. - suspirou e mexeu nos cabelos.
- Que menina hein... - Nathan parou ao meu lado e cruzou os braços. - Fortinha!
- Não é nada. Ela é magrinha, Nathan. - franzi o cenho e Lari se juntou as irmãs.
- Eu sei. Estou falando de força mesmo. Caramba, cada tapa que ela me deu... - passou a mão pelo braço fazendo cara de dor.
- Eu disse que elas lutam UFC e a gente não sabe. - Caique sorriu vitorioso.
- Concordo! - Nathan riu.
- Bobos. - ri fraco olhando elas.
. . .
- Tem certeza que está tudo bem? - perguntei enquanto caminhávamos para fora do galpão.
- Sim. Eu já vou para casa. - ela sorriu fraco.
Obviamente, depois da confusão, a festa acabou. Eu e os meninos insistimos em ficar com elas até que todos fossem embora, para garantir a segurança. Não somos lá lutadores profissionais, mas damos para o gasto.
- Eu posso te levar, se quiser. - me ofereci.
- Não quero incomodar.
- Você nunca incomoda. - sorri e ela também.
- Então... Eu vou aceitar, olha a responsabilidade hein! - ela riu fraco.
- Eu sei bem como cuidar de uma mulher. - ela arqueeou as sobrancelhas e corou.
- Vou pegar minha bolsa. - ela riu e saiu andando.
Que mulher...
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Te Vi Passar (VERSÃO FANFIC)
Fiksi PenggemarPaulo não imaginava que toda sua vida mudaria quando uma garota aparentemente comum passou em frente ao café onde ele estava com seus melhores amigos. Uma garota cheia de mistérios e segredos, cujo ele fazia questão de desvendar, sem nem mesmo saber...