Eram nove e meia da manhã, e eu não sabia quantos minutos eu havia dormido durante a noite. À julgar pelas minhas olheiras profundas, eu diria que foram menos de quarenta. Sabe, ela não está só acabando comigo por dentro. Está acabando comigo por fora também. Eu estou exausto, nenhuma garota me deixou nesse estado antes. Isso é novidade para mim, o que eu não consigo entender é: porque eu? Porque comigo? Tantas pessoas no mundo para se apaixonar e isso acontece justo comigo. Talvez seja um castigo, ou Deus só queira me mostrar o quão eu sou bobo quando estou apaixonado.
Estávamos todos sentados à mesa no restaurante do hotel. A única coisa que descia pela minha garganta era o café. Enquanto todos comiam, eu pesquisava o endereço do tal apartamento. Era em um lugar lindo e não muito longe de onde estávamos.
- A gente tem que ir em meia hora, temos que passar na locadora e achar a Nathália. - Lari disse colocando sua xícara sobre a mesa.
- Eu não sei se vou, eu não vim pela Nathália. Vim pela cidade. - Bea deu de ombros.
- Você não gosta mesmo da sua irmã, não é? - Caique perguntou a encarando.
- Eu amo minha irmã, mas ela veio porque quis. - Bea revirou os olhos.
- Então fica Beatriz! Você nunca se importou com a gente mesmo. - Lari se levantou e saiu andando.
- Vou falar com ela. - Caique se levantou e foi atrás dela.
Eu e Nathan ficamos olhando Bea, que estava séria e com os braços cruzados. Eu não entendia o porque, mas sentia que ela sabia mais do que aparentava saber. Esse jeito confiante de afirmar que Nathália está bem e que veio por escolha própria, é bem intrigante.
- Parem de me olhar assim! -esbravejou e eu e Nathan nos entreolhamos. - Argh...
Ela se levantou e saiu batendo os pés feito uma criança birrenta. Isso é bem estranho, ela não era assim antes de tudo isso acontecer.
- Ela sabe de alguma coisa. - Nathan arqueou uma sobrancelha.
- É, eu percebi. - suspirei.
- Precisamos descobrir o que. - assenti com a cabeça. - Agora não vamos investigar a Nathália, e sim a Beatriz.
. . .
Caique e as meninas foram até a locadora. Eu e Nathan resolvemos ficar e procurar alguma pista sobre algum tipo de contato entre Nathália e Beatriz. Ok, é errado. Mas eu preciso tentar. Nathan e eu subimos até o quarto das meninas e por sorte, a camareira estava abrindo a porta naquele exato instante. Eu e Nathan nos entreolhamos e corremos até o quarto.
- Oi, é... Esse é o nosso quarto, não precisa arrumar agora. - disse em inglês, pois eu não sei um pingo de francês.
- Quarto de vocês? - questionou franzindo o cenho.
- Sim. Nós estamos nesse quarto, e precisamos entrar agora. Fique tranquila. - Nathan disse sorridente e passando o braço pelo meu pescoço.
- Ah, desculpe. Já entendi, fiquem à vontade. - sorriu e arrastou seu carrinho até a outra porta.
Eu não acredito que ele fez isso. Olhei para ele e revirei os olhos, Nathan me empurrou para dentro do quarto e fechou a porta. O telefone de Bea estava sobre o criado-mudo, caminhei até lá e o peguei. E por total coincidência, havia acabado de chegar um sms. O telefone de Bea não tinha senha, então o peguei e abri o tal SMS.
" Valeu por avisar, vou para a Torre Eifel, deixem eles irem para qualquer lugar, menos lá.
Bjs, Nathy."Eu sabia!
- Nathan? - me virei para ele que vasculhava a bolsa dela.
- Oi. - ele me olhou.
- Ela está na Torre Eifel. - ele sorriu.
. . .
Eu não sabia se estava surpreso por Bea ter relação com o sumiço de Nathy. No fundo, ela sempre pareceu estar envolvida e saber mais do que nos fazia acreditar que sabia. Talvez seja a genética, lindas e misteriosas. Mas até agora, a única que não revelou seu lado misterioso foi a Lari.
Eu não acho que ela tenha algo sério ou muito menos mistérios. Ela parece ser comum, é uma garota legal e boa. Talvez ela seja diferente.
Eu e Nathan pegamos um táxi e seguimos para a Torre. Eu estava ansioso para vê-la e estava ainda mais para entender o que motivou ela a ir embora de verdade. Se fosse por mim, iria pedir desculpa e me afastar. Mas se não, porque não ficarmos juntos?
Eu não acredito que vim para a França por causa de uma mulher.
Descemos do táxi e eu paguei a corrida, andamos em passos largos até a torre. O chão coberto pela grama verde, o céu azul, crianças brincando e correndo e dezenas de casais fazendo piquenique e se beijando. A minha frente estava a enorme e famosa Torre Eifel, mas eu nem ligava para ela. Só queria encontrar Nathália. Varri o local com os olhos, procurando por aquele lindo e conhecido rosto. E nada.
- Paulo, ali! - Nathan apontou para uma menina sentada na grama e mexendo no celular.
Sorri vendo aquilo e rapidamente corremos até ela, era estranho saber que agora eu teria de encontrá-la. O que eu iria dizer?
- Nathália, até que enfim! - Nathan disse enquanto eu recuperava o fôlego.
- Ham... I no... - a garota nos olhou e balançou a cabeça.
Não era ela. Mas era alguém tão linda quanto. Parecida, talvez uma sócia. Eu e Nathan nos entreolhamos e ele fez umas maluquices tentando se desculpar. Nos viramos e começamos a andar à procura de nada e ao mesmo tempo da mulher mais incrível e doida desse mundo. Senti uma mão em meu ombro e me virei a encontrando.
A expressão séria e o punho fechado, seus olhos manavam raiva. Mas ela continuava linda e perfeita. Era ela, mal dava para acreditar.
- Como você me achou?! - perguntou ríspida.
- E-eu... Eu li o seu diário. - ela arqueou a sobrancelha boquiaberta. - E vi sua mensagem para Bea.
- VOCÊ FICOU DOIDO, PAULO? NÃO PODIA SIMPLESMENTE ME ESQUECER E DEIXAR PARA LÁ? QUAL É O SEU PROBLEMA? POR ACASO NÃO ACHOU QUE EU PUDESSE ESTAVA FAZENDO ISSO PARA O NOSSO BEM? - ela gritava.
- Nosso bem? - sorri incrédulo. - Bem só se for o seu! Nathália, eu não fico bem sem você!
- POIS FIQUE MAL! - ela olhou em meus olhos e eu engoli em seco. - Paulo, eu sei o que estou fazendo. Então não me atrapalhe!
- NÃO, NATHÁLIA! VOCÊ NÃO SABE! - gritei e ela deu um passo para trás. - Você está cometendo um erro vindo para cá e fugindo do que você sente por mim!
- Quem disse que eu estou aqui pelo o que eu sinto por você? - arqueei uma sobrancelha e ela suspirou.- Ok, é por isso! Mas não é apenas isso. Tem muita coisa envolvida, Paulo. Estou tentando te manter seguro.
- Como assim me manter seguro? - cruzei os braços.
- Paulo, vai embora. Volta para São Paulo e me esquece, ok? - suspirou.
- Não. Me fala, Nathália! - disse sério.
- EU NÃO QUERO FALAR. NÃO QUERO FALAR COM VOCÊ E MUITO MENOS TE VER. SERÁ QUE DÁ PARA SAIR DA DROGA DA MINHA VIDA? - gritou.
Balancei a cabeça tentando não acreditar que aquilo estava acontecendo. Ri fraco pensando no idiota que eu fui em ter largado minha carreira, minha casa e meu país, para vir até aqui ouvir isso. Nunca imaginei ouvir isso da boca dela.
Dei meia volta e caminhei até o ponto de táxi. Não estava com cabeça para discutir mais com ela. Eu não consigo acreditar que isso aconteceu. Nathan me chamava e pedia calma, mas eu não dei ouvidos. Nada me importava, nada me abalava mais, nada me faria voltar atrás.
Se ela me queria fora de sua vida, ela conseguiu.
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Te Vi Passar (VERSÃO FANFIC)
FanfictionPaulo não imaginava que toda sua vida mudaria quando uma garota aparentemente comum passou em frente ao café onde ele estava com seus melhores amigos. Uma garota cheia de mistérios e segredos, cujo ele fazia questão de desvendar, sem nem mesmo saber...