Dedico esse capítulo a todos aqueles que já perderam alguém, seja recentemente ou há mais tempo.
E dedico também a você, que continua sendo umas das minhas pessoas favoritas no mundo, mesmo que agora tenha se transformado numa estrelinha como tantas outras, que iluminam nosso céu. Sinto sua falta.
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As primeiras 24 horas depois da cirurgia são críticas. Cada respiração que se dá, cada fluido que expele são meticulosamente gravados e analisados, celebrados ou lamentados.
Mas e depois das 24 horas? O que acontece quando o primeiro dia vira o segundo e as semanas viram meses? O que acontece quando o perigo imediato passou, quando as máquinas são desligadas e as equipes de médicos e enfermeiras se foram?
Cirurgia é quando você é salvo, mas pós-operatório, depois da cirurgia, é quando você se cura. Mas e se você não se cura?
O objetivo de qualquer cirurgia é a recuperação, sair melhor do que estava antes.
Alguns pacientes curam-se rapidamente e sentem alívio imediato. Para outros a recuperação é gradual. E passam meses e até anos para você perceber que não dói mais. Então o desafio depois de qualquer cirurgia é saber esperar. Mas se você consegue passar pelas primeiras semanas e meses, se você acredita que a cura é possível, então você pode retomar a sua vida... Mas é um grande "se".
*
Eu estava em lugar onde havia muito verde. Árvores médias e pequenas, arbustos, e um pequeno jardim, com flores de todos os tipos. Rosas, violetas, girassóis... Olhei mais ao fundo, e constatei que era o quintal de uma casa, muito grande por sinal. O sol iluminava tudo que estava ao seu alcance. Ouço duas risadas, mas não consigo identificar de quem são. Ao virar, me deparo com dois garotinhos sentados em uma árvore não muito alta. Eles conversam animadamente entre si, e sorriem bastante. Aquela risada gostosa de crianças.
Ao notarem minha presença, eles imediatamente descem da árvore, e correm em minha direção. Parece que estão apostando uma corrida, sorrio grande com a cena. Eles se aproximam, e posso observá-los melhor. Eles aparentam ter seus 4 anos. Ambos têm o cabelo na altura dos ombros e olhos bem claros. O garotinho um pouco mais alto tem cabelos escuros, usa uma camiseta azul com várias estrelas estampadas, juntamente de um jeans claro e tênis brancos. O mais baixo tem cabelos claros e se veste da mesma forma, exceto pela camiseta que é cinza com listras pretas.
Eles agarram minhas pernas como se suas vidas dependessem disso, e acabam me derrubando no chão.
- Mamãe! Mommy! Você chegou! - Falam ao mesmo tempo, e eu arregalo os olhos. - A gente não sabia que você ia voltar hoje! - Murmuram abafados, por terem suas bocas em minhas pernas.
- M-mamãe? Como assim mamãe? - Questiono intrigada. - Vocês devem estar me confundindo com alguém meni-
- Confundindo mommy? - Pergunta o de cabelos escuros, levantando o olhar. - Mas você é a nossa mommy! A maaaais incrível de todas! - Abre os bracinhos, como se representasse minha importância. - Como a gente ia confundir?
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Anatomy
Fanfiction"Estamos todos danificados, ao que parece. Alguns de nós, mais que outros. Carregamos o dano desde a infância e então, já adultos, causamos tanto quanto recebemos. Definitivamente, tudo que fazemos é causar dano. Aí então, começamos o negócio de con...