A Thousand Miles

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Making my way downtown
Walking fast
Faces passed
And I'm home bound
Staring blankly ahead
Just making my way
Making my way
Through the crowd

Era meio dia quando acordei, o barulho de metal contra metal agredia meus ouvidos, e quando abri os olhos parecia que o sol resolveu se aproximar mais da minha janela.
- Meu deus. - sussurro e viro a cara, tapando meu rosto com o cobertor.
- Acorda dorminhoca. - Patrick cantarola enquanto cozinhava algo no fogão.
- Pra quê acordar... - não consegui terminar a frase pois já estava roncando.
- Ah não Alice, você vai acordar sim. - ouço seus passos e então ele arranca o cobertor de cima de mim. - Agora voltando ao assunto... ACORDA DORMINHOCA.
- A dorminhoca aqui pra você ó. - e ergo meu dedo do meio pra ele.
     Me levanto do sofá e arrasto meus pés até o banheiro, fecho a porta atrás de mim e paro em frente a pia.
     Apoio minhas mãos na beirada de porcelana e me encaro no espelho sujo, estou toda borrada de maquiagem. Não devia ter dormido assim.
     Uma parte do meu cabelo está amassada por ter sido o lado que me apoiei para dormir, uma linha vermelha de batom escuro está espalhada pela minha bochecha porque provavelmente passei a mão na boca para limpar a minha baba.
     Liguei a torneira na água fria e joguei direto no meu rosto, esfreguei o sabonete líquido pelos meus olhos, nariz e testa, deixei a boca por último já que o batom estava espalhado pelo resto da cara.
     Fechei a água e me despi, entrei na ducha e liguei o chuveiro. Deixei o líquido cristalino limpar todas as minhas impurezas e leva-las pro ralo, tirar todo o cheiro de homem e suor que eu tinha no corpo por causa da noite de ontem, e apagar todas as más memórias que me restavam.
     Depois disso saí do box e me enrolei em uma toalha. Voltei para a frente do espelho e peguei meu secador de cabelo, preso em um gancho na parede de linóleo.  Liguei o mesmo e comecei a secar minhas mechas castanho-avermelhadas até ficarem apenas úmidas.
     Desliguei o secador e prendi meu cabelo em um coque alto, sai do banheiro e comecei a andar até o meu quarto quando ouço um miado.
- Ai meu Deus! - pego a bola de pêlos no colo e o aninho entre meus braços. - Mil desculpas Gareth!
      Meu pé havia atingido o rabo do pobre gato, já é a quinta vez que isso acontece na semana. Beijo sua testa e o coloco no chão novamente.
     Entro no quarto e lembro que tinha jogado todas as minhas roupas fora, bufo e volto para o banheiro. Pego as roupas que estavam jogadas no chão do mesmo e me encaminho devolta para o quarto.
     Me visto rapidamente e sinto um pouco de repulsa por estar usando a mesma calcinha por dois dias seguidos - já que ainda não tinha lavado as outras, ainda bem que vou fazer compras hoje.
     Corro até a cozinha e avisto Patrick tirando um prato de porcelana da prateleira, ele pega a panela e despeja um ovo frito em cima do prato. Eu me arrasto até o balcão e pego um banco alto para sentar na frente dele, Pat coloca o recipiente na minha frente e diz:
- Bon appétit.
- Merci. - respondo.
     Pego um garfo em um copo onde ficam todos os talheres que uso diariamente e corto o ovo em quatro partes, acabo o café da manhã em menos de 2 minutos.
- Nossa que fome, sua cavala. - ele retira o prato e o coloca em cima da pia. - Então o que vamos fazer neste belo dia?
- Eu tava pensando da gente ir pro shopping. Assim, eu joguei todas as minhas roupas fora sabe? - dou de ombros.
- Sei... - ele senta no balcão de frente pra mim e apoia o rosto nas mãos. - Vamos que horas?
- Ah, pode ser agora. - me levanto e vou até a mesa de jantar para pegar minha bolsa.
- Agora?! Mas eu nem tomei banho querida.
- Você não tá fedendo e aposto que tomou banho ontem antes de ir na festa. - me direciono a porta e paro em frente a mesma esperando Pat vir.
     Ele veio arrastando os pés e pragueando baixinho, eu abro a porta e o deixo passar na frente, por fim eu saio fechando a mesma atrás de mim e produzindo um eco pelo corredor.
[...]
     Entramos no shopping de braços entrelaçados e com um sorriso estampado em nossos rostos, alguns paravam para nos olhar melhor ou para comentar algo sobre nós mas eu apenas ignorava. Ao contrário de Pat.
- Nossa que povo escroto, só sabe fofocar. - resmunga baixinho.
- Falem mal ou falem bem, mas falem de mim. - cito uma frase famosa.
     Patrick revira os olhos e aponta para uma loja:
- Essa loja deve ser mara! - e então sai correndo em direção a ela.
     Ando até a vitrine da mesma e observo as peças de roupa colocadas em exibição, havia uma jaqueta jeans muito bonita até. Com apenas um objetivo atravesso a porta de vidro aberta e vejo Patrick segurando três cabides com três tipos de roupa diferentes e dando saltos de alegria.
- Olha isso Ali! Tem tanta coisa que ficaria legal em você. - ele exclama.
- Verdade, mas eu queria só uma coisa.
- Posso ajudar? - um jovem aparece do meu lado com as duas mãos apoiadas na cintura.
- Sim, eu gostaria de comprar a jaqueta jeans que está em exposição na vitrine.
- Ótimo. Qual o seu tamanho? - ele me olha de cima para baixo me devorando com os olhos.
- GG. - pisco para ele. - Gosto de jaquetas largas.
- Claro. - ele sorri de lado e então some dentro de uma porta de madeira.
     Continuo procurando por algo que combine com a jaqueta e encontro uma legging rasgada preta, vou até o vestiário e entro em uma cabine.
     Retiro a minha roupa e coloco a calça, ela realça algumas curvas minhas então acho que vou levar.
      Depois de pôr as minhas vestes, retorno ao saguão da loja e me deparo com o jovem que foi buscar a jaqueta pra mim.
- Aqui está. - ele a levanta na minha frente. - Quer ajuda para experimentar?
- Claro. - sorrio amarelo.
     Estico meus braços e deixo o jovem passar o tecido pesado por eles e larga-lo sobre meus ombros.
- Então - dou uma voltinha. - como estou?
- Maravilhosa. - ele sorri, me olha de baixo para cima e vice-versa. - Vai levá-lo?
- Acho que sim. Quanto custa? - ajeito o casaco no corpo e me olho no espelho.
- Está R$179,90.
- Ótimo. - corro até a minha bolsa e entrego o dinheiro vivo ao atendente. - Depois leva pro caixa pra mim por favor? Obrigada - tento ler seu crachá. - Marcelo.
     Saio sorrindo da loja e esqueço que Patrick permaneceu lá babando pelas roupas masculinas. Volto para dentro da mesma, pego Pat pelo braço, dou um último adeus a Marcelo que me olha embasbacado e puxo meu amigo para fora da loja.
- Ok, comprei um item já. Faltam trinta.
- Uhu. - Patrick finge animação. - Aquele cara que te atendeu tava te engolindo com os olhos amiga. E ele era gatinho tá?
- Sei.
     Saio andando no meio da multidão sem esperar o gay desesperado por amor me acompanhar, algumas vitrines me chamam a atenção mas nenhuma se ressaltou tanto até que eu vi um brechó. Sim, eu sou apaixonada por um brechó.
      Corri até o mesmo e passei pela porta de vidro que fez um sininho tilintar. Uma senhora saiu de trás de um balcão e me acolheu com um sorriso quente.
- Boa tarde, senhorita.  O que deseja?
- Gostaria de ver as suas roupas mais abusadas e chamativas. - brinco.
       Ela ri e faz um sinal para eu segui-la, paramos em frente a uma arara cheia de cabides com roupas brilhantes, pretas, escuras e sensuais, mas o que mais me chamou atenção foi um vestido preto que ia até a metade das coxas e atrás fazia uma cauda de sereia, todo de renda e sem manga.
- Posso experimentar esse? - pego o cabide onde o vestido está pendurado.
- Mas é claro! Os vestiários ficam no lado esquerdo da loja.
     Vou até onde a senhora apontou e entro em uma cabine, despo-me e vejo meu reflexo no espelho, Deus como estou magra. Visto o traje que escolhi e saio da cabine, me deparo com Patrick procurando por mim e então se virando com a boca aberta ao ver o vestido que escolhi.
- Meu Deus do céu Ali. Acho que você acabou de encontrar a cura gay.
      Eu rio e vejo alguém parar na entrada da lojinha, ergo meu olhar e percebo quem é. Raphael.
- O que você está fazendo aqui? - digo com desprezo.

Diário de AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora