Playing with fire
You know you're gonna get hurt tonight
And you're out on the wire
You know we're playing with fireA garrafa com um álcool de cor âmbar já estava quase acabando, assim como a sobriedade do William. Desisti de beber logo depois da terceira dose de tequila, e agora estou fumando meu segundo cigarro. Faz uns dez minutos que estou encarando o céu estrelado e tentando descobrir que horas são, mas como dizia minha mãe "Você não tem e nunca vai ter noção de tempo.".
- William você não acha que já está bom de bebida por hoje? - indaguei olhando-o pelo rabicho do olho.
- Não.... Eu acho que sim. Só mais uma que aí eu juro que vou dormir. - ele respondeu quase derramando o copo de uísque enquanto terminava de enchê-lo.
- Will, já tá bom até demais. Vou te levar pra cama. - levantei da cadeira empurrando-a para trás e dei a volta na mesa até parar atrás dele.
- Que privilégio você me levar pra cama. - sua voz sai embriagada.
Reviro meus olhos e posiciono meu braço embaixo do William, puxo-o para cima e ele se levanta. Ajudo-o a sair da cozinha e virar o corredor até chegarmos na porta do seu quarto, ele gira a maçaneta, cambaleia e se joga na cama.
- Sua ressaca vai ser um porre amanhã. - bufo.
- Vai mesmo. - ele suspira. - Me faz um favor Alice, prepara um Nescau bem forte pra mim.
- Claro, Vossa Excelência. - finjo uma reverência . - Quer que eu traga uma companhia para você passar a noite também?
- Até que não seria ruim. - ele começa a tirar os coturnos e a jaqueta. O seu abdomen aparece por um nanossegundo, chamando atenção dos meus olhos.
Viro para voltar a cozinha e parar de encarar o corpo esculpido por Michelangelo que pertencia ao homem deitado na cama. Entro novamente no cômodo revestido de paredes brancas e me direciono a geladeira. Abro a mesma, sentindo uma brisa gelada bater no meu rosto, pego a caixa de leite e o pote de Nescau. Encontro uma caneca limpa em cima do balcão e misturo o achocolatado nela. Deixo os ingredientes fora da geladeira e volto para o quarto do William, encontro-o jogado na cama apenas de calça e meias. Meu Deus.
Repouso a caneca em cima da mesinha de cabeceira e sento na cama, ao lado do corpo jogado sobre o edredom azul escuro.
- Fiz o Nescau. Já vou embora. - falei secamente, desviando meus olhos do seu tórax.
- Como assim? - ele se levanta e senta. - Você não vai cumprir o desafio?
- Creio eu, que não vou conseguir. - Não vou mesmo.
- Eu te ajudo. - ele riu mostrando covinhas. - Deita aqui. - e deu dois tapinhas do lado da cama.
- Você está bêbado, só vai piorar as coisas.
Will pega a caneca da cabeceira e bebe todo o leite achocolatado em três goles, observo seu pomo-de-adão subir e descer enquanto dá as últimas goladas. Ele devolve o recipiente para o lugar onde estava e me olha com um meio sorriso.
- Deita logo Alice.
- Você é patético. - bufo e sento na cama ao seu lado. - Pra quê era o Nescau?
- O açúcar sobe no cérebro e a glicose elimina o alto teor de álcool. - ele bate o dedo indicador na testa e pisca com um olho. - Resumindo, acaba com a ressaca.
- Ah. - tiro os meus saltos e deito no lençol, com o meu rosto virado para ele. - Vamos ver algum filme?
- Eu acho que não. - ele riu maliciosamente.
William tentou pular em cima de mim, mas consegui sair do caminho antes de seus braços me envolverem. Minha bolsa caiu fazendo um barulho estrondoso no chão e ele riu da minha reação. Ele tem que parar com essa provocação.
- Chega de brincadeiras. - passo a mão pelo meu vestido, arrumando-o no meu corpo. - Vamos logo pra sala.
Deixei Will sozinho no quarto e fui até a sala, sentei-me no sofá de couro e peguei o controle remoto. Cruzei as pernas e liguei a TV, uma voz conhecida começa a cantar no fundo durante uma briga entre dois homens. Mudo de canal e encontro o filme perfeito: Mr.Nobody.
- William! - gritei. - Você tem que ver esse filme.
Ouço alguns passos ecoarem pelo corredor e vejo um vulto passar rapidamente na minha frente e se jogar no sofá ao meu lado. Seu braço repousado sobre os meus ombros e o outro está apoiando o seu rosto.
- Você precisa parar com isso se quiser que eu passe a noite aqui.
- Parar com o que? - ele faz cara de inocente.
- Com isso! - faço um gesto com a mão apontando pro seu corpo.
- Ah, quer que eu ponha uma blusa? - William ri.
- Se não for difícil. - rolo os olhos.
Ele pega uma blusa jogada no chão e veste, viro meu rosto de volta para tela e começo a prestar atenção no filme.
- Então... - Will interrompe minha concentração.
- O que é?
- Sobre o que é esse filme? - ele vira o rosto pra mim.
- Um cara de 115 anos que no futuro é entrevistado, só que ele começa a contar sobre a vida dele e ah. Você vai entender quando começar a assistir. - bufei.
Ele estala a língua e volta com o rosto para a TV. Ficamos assim por alguns minutos até que ele diz:
- Vou dormir. Você vai dormir aonde? - e se levantou do sofá ajeitando a roupa.
- Aqui no sofá mesmo. - deitei ocupando o espaço onde ele estava sentado. Hm, está quentinho.
- Ok então, boa noite. - sua voz soou um pouco decepcionada, o jovem se virou e foi para o seu quarto. Me deixando sozinha na sala.
Passaram-se umas duas horas, o filme já havia acabado e eu estava vendo uma série da MTV sobre pares ideais. Pura idiotice. Isso não existe.
Comecei a sentir frio e decidi ir até o quarto do William para pegar um cobertor e as minhas coisas. Chegando lá me deparo com um corpo jogado na cama, sem camisa, sem calça, apenas de cueca. Engulo em seco e continuo andando.
Vou até o armário a procura de algo pra me cobrir durante a madrugada. Sem sucesso, rodeio o quarto e encontro um embaixo do defunto. Tento puxa-lo, retira-lo debaixo mas foi uma missão sem progresso. Desisto e acabo me deitando do seu lado.
- Olha as merdas que você me obriga a fazer. - sussurrei, tentando não acorda-lo.
Me viro pro lado contrário dele e evito encostar qualquer parte do meu corpo nele, bom, nem todas. Fecho os meus olhos e sinto o sono pesar. E por fim sou levada por Morfeu.
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Diário de Alice
RomanceVício (do latim victium, que significa falha ou efeito[1] ) é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Ela não quer saber de nada. Ela é furacão, tempestade e terremoto, tudo ao mesmo tempo. T...