Ain't no sunshine when she's gone
It's not warm when she's away
Ain't no sunshine when she's gone
And she's always gone too long
Anytime she goes away
Depois do show sai em disparada para o escritório do meu chefe. Eu realmente não conseguia acreditar que ele foi capaz de mentir pra mim sabendo que iria descobrir de qualquer jeito. E além do mais, como ele pôde me colocar para fazer uma apresentação dessas sabendo das coisas que eu passei a menos de um ano atrás?
- Entre. - ele disse com a maior plenitude do mundo quando bati na porta.
- VOCÊ É LOUCO? - gritei.
- Alice, - ele respirou fundo, colocou a folha em suas mãos de volta na mesa e tirou os óculos de leitura. - você precisa superar esse trauma. Só estou tentando te ajudar.
- ME AJUDAR? VOCÊ PELO MENOS SABE PELO O QUE EU PASSEI? - não consigo acreditar que ele acabou de dizer isso. - CARA, PRA AJUDAR UMA PESSOA VOCÊ NÃO FORÇA ELA A COISAS QUE ELA NÃO QUER.
- Alice, chega de exageros. - ele juntou as mãos num estalo e me encarou diretamente nos olhos. - Você podia ter evitado o que aconteceu apenas pagando a ele o que deve, mas o que preferiu? Exato, pagar com sexo.
- EU NÃO QUERIA, MAS ACABOU QUE FUI ESTUPRADA. POR ACASO SE LEMBRA DISSO?
- Não grite comigo. - a seriedade dele me deixou desconfortável. - Não se defendeu por que não quis. Agora com licença que tenho coisas mais importantes pra fazer.
- O quê? - As definições de ignorância foram atualizadas. - Não acredito nisso. Eu não posso acreditar nisso.
- Saia. - e então colocou os óculos de novo, me desmerecendo completamente.
Fui à porta e me virei uma última vez.
- Me demito.
Saí e fui correndo até o quarto de Angie. Lágrimas estavam ameaçando cair na hora que cheguei na sua porta, nem pensei em bater. Apenas entrei.
Deparo-me com uma montanha coberta por um lençol se movimentando lentamente e com sons baixos de gemidos de uma voz rouca masculina.
- Com licença. - ignorei a situação e peguei minhas coisas, coloquei meu casaco de pele, meus saltos, fechei minha mala e antes de sair me despedi da minha melhor amiga.
- Onde você vai? - ela disse entre gemidos.
- Me demiti. - e me retirei.
- Alice, como assim? - ela tentou se desvencilhar do homem em cima dela mas eu já estava no corredor batendo a porta atrás de mim.(...)
Agora estou em casa, me empanturrando de palha italiana que comprei na feira quando saí da boate pela última vez na minha vida. Estava passando O Castelo Animado, um filme que não vejo faz um pouco mais de dez anos mas que hoje senti necessidade de ver, não por que um dos protagonistas - o Howl - é simplesmente um gato, e nem por que ele é fantasticamente foda, o verdadeiro motivo é por que a última vez que eu vi esse filme foi quando meus pais se divorciaram e minha mãe me abandonou por um cara qualquer. E eu fiquei na sarjeta, do mesmo jeito que estou agora.
O peso do Gareth nas minhas pernas já estava começando a fazer efeito, então me levantei e fui até a cozinha pegar alguma bebida. A caminho de casa passei no mercado também e enchi a geladeira para um final de semana inteiro. Abri a porta do refrigerador e uma luz clara refletiu pelo cômodo inteiro, pego uma garrafa de Absolut Vodka e um copo, encho-o até a boca e devolvo a garrafa para o seu devido lugar.
Volto pra sala e me jogo no sofá, viro a bebida inteira garganta abaixo e limpo a boca com as costas da mão. Ponho o copo em cima da mesinha de centro e deito minha cabeça no encosto do sofá. No momento em que o Howl fica estressado por ter pintado o cabelo de preto, a vodka ja estava começando a surtir efeito. Minha cabeça estava rodando já, eu amo essa sensação mas é uma pena que passa rápido, então me levantei e fui para o banheiro. De frente para o espelho, peguei o demaquilante e um pedaço de algodão, retirei toda a maquiagem pesada e encarei meu rosto nu.
A campainha tocou e eu quase morri com o susto. Deve ser o Pat. Estava realmente precisando falar com ele. Saio correndo pra sala e paro em frente a porta, observo pelo olho mágico para ter certeza de quem é e abro-a.
- PAT. - gritei me jogando nos seus braços. - Eu preciso de um ombro amigo.
- Bom, meu gaydar percebeu isso e eu trouxe sorvete, uísque e brownies. - ele disse levantando uma sacola preta.
- Me dá o uísque e os brownies, você fica com o resto.
Patrick me empurra para fora do caminho e entra no apartamento. Vou atrás dele e nos sentamos juntos no sofá.
- Que filme é esse? - ele pergunta me passando a garrafa de uísque.
- O Castelo Animado, apenas o melhor filme dos tempos. - tiro o lacre e dou um gole na bebida.
- Esse cara aí é bem gato, apesar de ser um desenho. - Pat aponta para Howl e eu aceno concordando com ele.
- Pois é. Me passa os brownies. - estico o braço pra pegá-los mas Patrick dá um tapinha na minha mão.
- São para depois.
- Depois?
- Nós vamos pra Pink Elephant, baby.
- Patrick, talvez você não tenha percebido, mas... Eu tô pobre, sem ingresso e sem vontade.
- Ai, baby. Calma. - Pat revirou os olhos. Patrick eu estou calma. - Já tá tudo preparado, comprei os ingressos semana passada com um boy, mas acabou que a gente brigou e fiquei com as entradas. Então conte isso como um agrado.
- Tá mas e a minha vontade? - voltei a sentar no sofá apoiando os pés na mesinha.
- O que houve, Ali? - ele afastou um pouco o rosto do meu e olhou nos meus olhos. - Tu sempre tá no pique pra festa. Você chorou?
- Eu me demiti. - dei de ombros. - Já era tempo.
- Se demitiu? E como você vai saciar essa vagina louca que você tem?
- Homem é o que não falta, Patrick.
Ele soltou um riso fraco e eu dei mais um gole no uísque.
- Que horas são? - perguntei ao meu melhor amigo.
- Hmmm. Vai dar 21h. - ele respondeu checando no relógio.
- E que horas é lá na Pink?
- Começa umas onze, mas sei lá se você não quiser não iremos. Hoje estou a sua mercê. - ele sentou ao meu lado e deitou no meu colo.
Enquanto fiquei fazendo um cafuné nos cachos ruivos de Pat, pensei se deveria ir ou não. Bom, o conforto aqui em casa estava garantido, mas se eu continuar aqui é bem capaz de eu acabar chorando a noite inteira. Acho que prefiro sair.
- Vamos então.
Patrick vira o rosto pra mim e me encara com olhos duvidosos.
- Tem certeza?
- Não me faça mudar de ideia.
Me levanto deixando Patrick deitado no estofado de couro rachado e vou até o meu banheiro tomar uma ducha fria pra esfriar a cabeça, quando termino entro no quarto e paro em frente ao meu guarda-roupa.
Tiro a toalha do corpo e coloco uma lingerie de renda preta, abro a porta do meu armário e aprecio as bolsas ainda não abertas de variadas marcas de luxo. Inspiro e sorrio, a fragrância da riqueza.
- Pat, quê que você acha de eu por o vestido longo preto transparente, com uma calcinha de cintura alta preta lisa, um sutiã preto de renda e por cima um casaco de pele rosa? - disse pegando as bolsas referentes as roupas.
- Nossa amiga, por quê você me chamou aqui mesmo? - ele riu e se jogou na cama assim que chegou no quarto. - Coloca aí pra eu ver.
Peguei a calcinha de cintura alta e tirei a que eu estava usando, coloquei a outra e entrei no vestido. Ele tinha duas fendas gigantescas que iam do inicio de ambas as coxas até o final. Vesti o casaco e peguei meu coturno preto, não saio sem ele.
- Meu amor, fiquei sem ar. - Pat abanou o rosto enquanto me olhava de cima pra baixo. - Você vai ser a mais falada da festa inteira.
- Não posso negar, adoro. - Imitei o tom de voz dele e me joguei na cama ao seu lado. - Me maqueia?
- Bientôt, mon amour. (Com prazer, meu amor)
Puxei a caixa de maquiagem para perto de nós e então Patrick começou a trabalhar. Fiquei quase 40min parada em uma posição tão desconfortável que meu braço adormeceu, mas quando abri meus olhos e me olhei no espelho, aquela com certeza não era eu.
- Caralho. Quem é essa?
- Tá maravilhosa, Alice. Vai causar na festa hoje. - ele me interrompeu e guardou a caixa.
- Bom, deixa eu só arrumar meu cabelo e nós vamos. - dividi meu cabelo no meio e fiz duas tranças embutidas, uma de cada lado. Dei uma última checada no espelho e fui para a sala pegar minha bolsa.
Pat já estava sentado no sofá com uma garrafa de uísque na metade. Tirei a bebida da mão dele e esvaziei-a em quatro goles.
- Vamos? - e limpei os cantos da boca.
- Só um minuto... - ele disse e pegou os brownies, dividiu igualmente entre nós, três para mim e três para ele.
Comi um e os outros dois fiquei segurando enquanto saía do apartamento. Tranquei a porta, já ouvindo os miados de Gareth implorando para não ser deixado sozinho, por um segundo pensei em ficar por amor ao meu gato. Mas assim que comecei a descer as escadas decidi por fim ir a maldita Pink Elephant. Enquanto mastigava o resto dos brownies eu tentava não tropeçar nos degraus com o meu vestido nos próximos oito lances de escada, e Patrick continuava rindo da minha falta de equilíbrio natural.
Pat já tinha terminado a parte dele, então ficou com a tarefa de encontrar um táxi que nos levasse até a Barra. Limpei as minhas mãos e engoli o último pedaço desse paraíso que a muito tempo eu não comia, e então avistei um carro amarelo que parou na nossa frente e nós entramos. Meu melhor amigo dizia o endereço para o motorista ao mesmo tempo em que eu pegava o meu celular para mandar uma mensagem rápida que eu sabia que iria me arrepender assim que enviasse.
"Parece que vamos nos encontrar mais cedo do que eu esperava. Pink Elephant 00h. Esteja lá."
Enter.Fala meus amores!
Tudo bom com vocês? O que estão achando do livro até agora? Não esqueçam de favoritar os capítulos e deixar seus comentários nas partes que mais gostaram viu! É sempre bom ver que o nosso trabalho está agradando alguém.
Mamãe ama vocês, um beijo.
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Diário de Alice
RomanceVício (do latim victium, que significa falha ou efeito[1] ) é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Ela não quer saber de nada. Ela é furacão, tempestade e terremoto, tudo ao mesmo tempo. T...