A chegada em Beacon Hills

1K 58 16
                                    

Depois de resolver problemas com um metamorfo no Arizona, meu pai e tio Dean decidiram seguir pelo país em busca de um novo caso. E lá estava eu, Emily Winchester, mais uma vez sentada no banco detrás do Impala 67 contra a minha vontade.

Como muitos sabem, a fama dos Winchesters é inigualável. São conhecidos no mundo todo como os melhores caçadores que já existiram em toda a história. Afinal, quem seria capaz de começar e, meses depois, terminar o Apocalipse? Os irmãos Winchester, é claro.

Confesso que nunca gostei muito dessa vida, afinal, qual adolescente gostaria de viver tendo como companhia somente seu pai e seu tio doido? Aliás, meu sonho era poder frequentar uma escola e ficar nela por pelo menos um ano letivo, coisa que nunca consegui fazer. Por que? Pergunte aos irmãos Winchester.

– Se continuar com essa cara feia seu rosto vai ficar enrugado que nem de uma velha antes do trinta. – disse meu tio me olhando pelo espelho.

– Não tô nem aí. – respondi curta e grossa. – Para onde estamos indo?

– Beacon Hills, uma pequena cidade ao norte da Califórnia. – respondeu meu pai lendo o jornal.

– O que é dessa vez? Wendigo? Esfinge? Pokémon?

– Na verdade nós não sabemos ainda. – respondeu me entregando o jornal. – Tem muitas coisas estranhas acontecendo ao mesmo tempo.

– Besta de Beacon Hills revelada: Jaguar. Corpos somem misteriosamente de necrotério. Arruaceiros invadem a Eichen House e causam apagão. – li para mim mesma e devolvi o jornal para meu pai. – É, a coisa tá feia.

– Mas seja lá o que for nós vamos chutar a bunda deles! – exclamou tio Dean animado.

– Dean! – disse meu pai olhando para o irmão com um olhar reprovador.

– O que? Ah, tá. Foi mal aí, baixinha. Nós vamos chutar o traseiro deles. Tá bom assim, Sammy?

Aqueles dois às vezes eram muito engraçados. Era quase impossível não rir do conflito de estilos dos dois. Enquanto meu pai era um cara "certinho" e estudioso, tio Dean era completamente o oposto. Ele falava e fazia o que queria sem que ninguém o enchesse o saco. E mais, ele bebia tanta cerveja quanto um camelo bebe água, o que o fazia ficar ainda mais engraçado.

– Ainda falta muito pra chegar? – perguntei me debruçando nos bancos da frente.

– Chegaremos em mais ou menos uma hora e meia. – respondeu papai.

– Aff, até lá vou morrer de tédio. – e voltei a me recostar, desanimada.

Uma hora e meia passou tão rápido quanto uma corrida de tartarugas. Eu estava cansada e morrendo de fome. Para completar, a bateria do meu celular tinha ido para o espaço e o carregador portátil estava zerado. Foi então que passamos por uma placa onde estava escrito ''Bem-vindos a Beacon Hills'' e foi aí que me animei.

A cidade não era lá grande coisa. Era pequena, mas até que era bonitinha. Passamos pelo hospital, a delegacia e a escola secundária, onde jovens da minha idade conversavam despreocupados no pátio que, pela hora, deduzi que deveriam estar no horário da saída. Como eu queria estar lá entre eles, que fossem meus amigos, mas isso ia depender do tempo que levaríamos naquele lugar.

Tio Dean dirigiu mais uns cinco minutos e estacionou no McDonald's para que pudéssemos fazer um lanche. Hambúrguer, bacon, batata frita, refrigerante... era tudo o que o meu estômago queria. Depois de comer partimos para o hotel para descansar um pouco, pois mais de doze horas de viagem matava qualquer um. Tio Dean deitou na cama e dormiu feito um bebê, já meu pai preferiu tomar um banho e eu fiquei no quarto me lembrando da imagem daquela escola.

Será que às vezes ser normal era tão difícil? Para Emily Winchester a resposta com certeza era sim. Afinal, não é só o fato de ter nascido em uma família de caçadores que mexe com a minha cabeça. Já pararam para se perguntar sobre a minha mãe? Não? Mas com certeza você já deve ter ouvido falar nela.

Minha mãe é Ruby, um demônio que tio Dean assassinou com as suas próprias mãos. E não, você não está errado, eu sou uma híbrida entre um demônio e um humano, ou seja, sou sobrenatural. Se eu tenho poderes? é claro! Mas felizmente estão sob controle após anos e anos de treinamento.

Papai saiu do banheiro secando o cabelo com uma toalha. Vestia uma camisa branca e calça jeans de cor escura. Ele foi até a bolsa, pegou um pente e veio em minha direção.

– Me ajuda? – perguntou me entregando o pente com um sorriso no rosto.

– Ok. – respondi pegando o objeto. Meu pai sentou-se na cama e eu comecei a pentear o cabelo dele, que por acaso eu amava. Porém os pensamentos sobre "tentar ser normal" continuavam a martelar em minha cabeça sem parar. Eu queria ter coragem para dizer alguma coisa, mas infelizmente antes de falar já sabia a resposta.

– Parece que esse caso vai demorar um pouco pra ser resolvido. – disse ele enquanto penteava seus cabelos castanhos e lisos. – Parece que a cidade tem um combo de atividade paranormal. Vamos ter que investigar e pesquisar muito.

– Pai. – eu disse parando de pentear o cabelo do mesmo e desviando o olhar ao som do ronco sinfônico de tio Dean.

– O que? – e se virou para mim, ficando preocupado ao ver o meu rosto entristecido. – O que foi, querida?

– Será que não podemos ficar aqui em Beacon Hills por um tempo? Eu queria... queria poder estudar na escola, fazer amigos. É o meu último ano, você sabe, e eu...

– Querida, você sabe que eu e seu tio não podemos parar de caçar. São os negócios da família, então não tem como...

São os negócios da família. – repeti com deboche, irritada. – Quando vão achar uma desculpa melhor?

– Acredite, eu não queria que você estivesse envolvida nessa vida, mas não tem outra opção. Pelo menos não agora.

– E quando vai ter outra opção!? – perguntei me levantando já impaciente. – Quando eu for uma velhinha caquética? Ah, não, esqueci! Eu sou meio demônio, não vou ficar velha!

– Ei, eu tô tentando dormir aqui! – exclamou tio Dean enfiando a cabeça debaixo do travesseiro.

– Quer saber? Eu tô cansada! Será que é tão difícil entender que eu só queria ter uma vida normal? – Lembra quando eu disse que meus poderes estavam sob controle? Esqueçam. Tudo dentro do quarto começou a tremer. Eu estava perdendo o controle.

– Emily, filha, se acalma, ok? – implorou meu pai se levantando com a palma das mãos viradas para mim. – Vamos sentar e conversar, vai ficar tudo bem.

– ME DEIXA EM PAZ! – gritei em alto e bom som. De repente meu pai saiu voando em direção à parede e saí correndo dali com lágrimas nos olhos para o lugar mais distante que podia.

Hybrid: Um demônio em Beacon HillsOnde histórias criam vida. Descubra agora