Prólogo

794 54 21
                                    

Prólogo:
-Estamos bem meu amor. Hoje foi mais uma consulta e o nosso garotão está forte e saudável como o pai dele. A única queixa que temos é a saudade que está insuportável mais tirando isso, está tudo bem.
-Eu prometo parar, minha vida. Essa é a última vez que passo tanto tempo longe de vocês. Não sinta-se sozinha nessa mar de saudades; estou morrendo aos poucos longe de você e do nosso filho. –meu peito afunda nesse sentimento ingrato. Minha mulher está grávida de sete meses e nessa reta final de sua gestação eu tive que me ausentar mais que o normal. Essa profissão que a vida escolheu me colocar, está sendo mais difícil do que um dia imaginei; depois que conheci Gabriela, ou Gabi como carinhosamente a chamo, não faz tanto sentindo sair e passar tantos dias fora de casa; mais a situação só piorou depois que Deus resolveu nos presentear com o nosso Miguel. O acompanhamento é muito pouco de minha parte e a culpa me consome dia após dia por não ser presente nessa fase importante, tanto para mim como para ela.
-Estou voltando agora do shopping. O cinema estava lotado e a sessão que pegamos foi a última. Confesso que nos perdemos no tempo olhando mais mimos para o nosso baby. –Ela fala e é o que tomo por conforto nesse momento; o som da voz de Gabriela tem o poder de me acalmar nesses tempos difíceis que tenho passado; eu não escolhi essa vida e sim ela que me escolheu e por loucura do amor que Gabi sente por mim, ela simplesmente me aceitou sem nenhuma exigência. -Essa madrinha doida que arrumamos vai estragar nosso filho. Ângela é um doce de pessoa e toda vez que vê algo que lembre o Miguel, ela compra e pronto! Ela faz uma pausa e penso em perguntar o que está havendo mais ela retoma com sua voz rouca. Eu conheço a mulher que tenho, sei o que ela está sentindo agora por que é exatamente o que estou sentindo também.
-Meu amor... estou louca de saudades de você. –ela para e suspira. –Quero sentir o seu cheiro, sua pele colada na minha e o suor de nossos corpos depois de fazermos amor.
-Não faz isso amor, não faz isso comigo! –Ela para e escuto o som da buzina do carro. Ela certamente está dirigindo, coisa que eu reprovo pelo seu estado avançado de gravidez mais não irei dizer nada dessa vez.
-Desculpe Alexandro. Eu não quero te atormentar com minha insensatez diante dessa distância. –Ela fala mais antes que eu a corrija em seus pensamentos errados eu escuto mais uma vez sua buzina.
-Gabriela, o que está acontecendo?
-Não sei. Um carro quer me ultrapassar e acho que o motorista não está ébrio. Faz um tempinho que percebo que ele vai aos limites da via; como se mal conseguisse guiar o carro.
-Escute, eu quero que você estacione o carro e espere esse louco passar por você.
-É exagero meu amor. Estou dirigindo devagar e com cuidado redobrado. Nada vai acont... –Um barulho invade a linha. O som que ecoou pelo meu telefone celular veio tão forte que eu tive que retirar o mesmo da orelha. A angustia me domina e o sentimento de incapacidade brada dentro de mim.
-Gabriela, fale comigo. Gabi... Gabi... Gabriela eu preciso saber se está tudo bem. Fale comigo meu amor, fale comigo! O desespero me consome a cada segundo desse silencio torturante.
******
Eu sinto muito Sr. Veras. Tentamos de tudo para salvarmos a vida da sua esposa e do seu filho mais foi em vão. O foi grave a falta de socorro imediato foi o que agravou ainda mais seu estado. Eu lamento.
-Lamenta? –Falo me empossando do colarinho do jaleco do médico; a raiva pelo sentimento de culpa grita no meu peito.
-O fato de você lamentar a morte da minha esposa e do meu filho inocente não os trará de volta. Não venha tentar me confortar com palavrinhas feitas não irá sanar a dor que meu coração sente agora. –solto o homem amedrontado e ando de um lado para o outro.
-AAAAAAAAAAAA... –Grito. Quero acordar desse pesadelo que estou vivendo. Quero ir juntamente com eles por que eu se que a partir de hoje minha vida não será completa. A ferida que foi aberta com a partida da minha família jamais sanará.

*****

Dois meses que eu perdi o sentido de viver. Dois meses que minha existência se dá apenas por eu não ter a coragem de sabotar o modo vegetativo que chamo de vida. Diante do tumulo que guarda o dois seres que tomou de mim o meu respirar e me ensinou a amar, eu peço apenas forças para seguir nesse caminho que traço dia após dia, mesmo sem sentido, mas eu vou vivendo. Não sei aonde chegarei. O que sei é que minhas orações ao divino lá em cima me de o mais rápido possível a oportunidade de estar novamente com a minha família. Eu só quero a morte como recompensa por ter deixado a minha mulher tanto tempo só, assim como sei que esse desejo será o meu troféu.

Verdades que Ferem-TRILOGIA VERDADES - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora