Capítulo 14

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Micaela Valadares

Deixei as coisas irem longe demais

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Deixei as coisas irem longe demais. Deixei-o tocar aonde eu não permite ninguém mais depois de André. Dois anos erguendo um muro para um simples desconhecido e arrogante querer derrubar. Ainda está aqui, só não sei dizer o quão firme está. Alexandro é intenso de uma maneira que jamais vi, mas que hoje tive o privilégio de sentir essa intensidade. Foi algo impar para mim, um complemento para tudo que carrego dentro de meu ser. Um homem com um temperamento selvagem, mas que carrega singeleza. Alexandro Veras é uma contradição em forma de gente. Eu tive tudo que esperei dessa noite e me entreguei como há muito eu não me entregava. Seu peito sobe e desce denotando um sono profundo que ele está entregue. Seu rosto sereno nem parece o homem que transpira arrogância por onde passa. Digo isso pelo pouco que conheço desse ser e em nenhum momento ele demonstrou modéstia, mas eu vi esse lado oculto que ele mesmo querendo negar tem consigo. Em meu momento de admiração, minha mente grita para que eu saia daqui. Eu sinto minha vulnerabilidade emergir rasgando minha armadura e mesmo minha parte emocional aflorada, meu racional grita em alerta: "Foge! Foge! Salve esse músculo que bate no seu peito e você insiste em crer que não se trata de um coração. Se ficar declare perca total todo de esse muro que você ergueu escondendo que tem sentimentos."

Um desespero bate dentro, pulsante forte em meu coração que fica até difícil engolir o bolo que se forma na minha garganta. Deixo a cama em que até pouco tempo acolheu-nos nas mais quentes formas de prazer. Alex... Alex... Fica estranhamente fácil pronunciar seu nome de maneira intima. Uma intimidade que foi regada a muitos gemidos, uma entrega impar para mim, contudo encerra aqui. A vontade de desvendar as facetas desse homem que mais parece um pecado em forma humana, ainda está acesa em mim, mais os riscos são altos e eu não quero pagar esse preço para conhecê-lo de verdade. Saio do meu transe e sigo para o banheiro; olho no celular e vejo que são 04h20min da madrugada. A boate deve está fechando e lembro que deixei meu carro lá. Já dentro do banheiro tomo um banho rápido e antes mesmo de me vestir eu solicito um UBER. O tempo que ele levará para chegar será o tempo que me visto e desço.

Não. Nunca fui de olhar para trás nas noites em que sai com Rafael, mas Veras parece que veio para quebrar minhas regras. Estou agora junto à porta e minha visão é perfeita daqui. Um belo homem, completamente exposto em sua nudez, que mesmo adormecido consegue arrancar de mim os mais obscenos pensamentos e vontades. Queria acordá-lo com minha boca. Queria vê-lo ganhar vida com meu toque, mas decido que o que eu queria eu já tive e isso bastaria. Saio do quarto dando adeus a tudo que imaginei que me bastaria e crendo estar imune a ele. Na portaria do prédio se encontra o mesmo senhor de cabelos grisalhos, seu olhar me acompanha desde que sai de dentro do elevador e ele me chama como se tivesse um segredo ame contar.

-Desculpe te incomodar, dona?

-Micaela. Micaela Valadares.

-Pois bem. Eu não sou curioso, mas hoje tive um espanto em ver o senhor Veras trazer alguém aqui. Dois anos que trabalho neste prédio e muita das vezes eu presenciei a tristeza daquele homem. O senhor Veras demonstrou sua solidão em momentos de embriagues e eu o ajudava a subir para a sua cobertura. No dia seguinte a arrumadeira que só vem três vezes por semana, era solicitada por ele. Alguns objetos e até cadeiras de seu apartamento estava em cacos e pedaços. –ele me fala e mesmo sabendo que Alexandro é um homem quebrado, eu ainda consigo me admirar por que não fazia noção do quanto.

Verdades que Ferem-TRILOGIA VERDADES - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora