Capitulo 11

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Alexandro Veras:

-E você está Alex? Por que te observando há alguns minutos eu posso dizer com conhecimento de causa, você não me parece mais o mesmo. O que mudou, hã? O que essa loira aguada tem de especial? –Felícia fala com indignação. A pergunta feita por ela ecoa dentro de mim. Eu me desconheço completamente quando se trata de Micaela, mas eu sei que é desejo. Puro e bruto como foi todas as vezes que estive com uma mulher depois que Gabriela se foi. Não existe diferença a não ser a resistência de Micaela e o seu jeito de me desafiar que me deixa louco.

-Você está inventando Felícia. Não há nada de diferente em mim. Sou o mesmo, aquele que não enxergada nada além de mim mesmo que no lado esquerdo do peito bate um músculo que serve apenas apara funções vitais. Sentimentalismo barato não faz parte de mim; não mais.

-Eu sei que você é frio, é sombrio, Veras, mas não me peça para fingir que não vejo. Seu olhar é diferente quando você a olha. O olhar que eu desejei muitas vezes ter para mim.

-Para com isso, Felícia. Eu, eu... –não sei contextualizar a minha resposta. Não sei nem se tenho uma resposta para isso. Passo minhas mãos por meus cabelos e um inquieto domina meu corpo. Não quero mais continuar nessa conversa sem nexo para mim. Uma conversa onde eu não sei onde me encaixo de tão incerto que eu estou. Não tenho propriedade nem pelo sim muito menos pelo não e é isso que aquela diaba loira faz comigo: Desnorteia-me. Não preciso esperar para continuar essa conversa torturante com Felícia. Vejo meu amigo descendo seguido de Cassandra, as escadas que dá acesso ao escritório. Ele tenta fazê-la parar, mas ela se impõe e segue pela saída da lateral da boate. Se eu estou no limite do desespero, Dominique está sem nenhum controle. Ele soca a parede mais próxima e vejo os nós de seus dedos começarem a sangrar. Aproveito a situação nada boa do meu amigo e uso isso a meu favor.

-Felícia, se quiser ficar com suas teorias sem fundamentos, fique a vontade. Mas eu realmente preciso ir. Aproveite a noite.

-Como sempre, Alexandro. Não poderia ser diferente e esse sim é você. Um homem que se esquiva da verdade por que lhe dói, lhe machuca. Mas saiba você, não sou eu que vou esmiuçar essa pedra que você carrega no lugar do coração, mas haverá alguém que te deixará um bobo apaixonado e eu quero estar bem aqui para ver. –As palavras dela fazem meu peito saltar mais rápido. Eu sei bem o que ela fala por que já amei uma vez, agora não sei se tenho como amar de novo.

-Se isso for praga, quero dizer que tenho o corpo fechado. Nada disso pega em mim. –retruco saindo de perto dela e seguindo rumo a meu amigo.

-Talvez já tenha pegado e você nem se deu conta. –Não quero mais dar condição às sandices dessa mulher. Quero apenas chegar até onde meu amigo está e saber o porquê de tanta fúria. Dominique seguiu para o andar de cima e é lá onde eu o encontro.

-O que aconteceu homem? Por que tanta raiva? –abro a porta dando de cara com um Dominique possesso de cólera. O ambiente está todo revirado. O mesmo faz de conta que ninguém falou com ele e estilhaça um vaso de cristal que havia em cima de um aparador, no recanto da sala.

-Mais que porra é essa, homem? A quem devo mandar caçar por ter te deixado puto desse jeito?

-Não enche o saco, Veras... non peggio stasera, cazzo! –ele diz tentando controlar a fúria que emana dele.

-Se está até falando na sua língua nativa, o caso deve ser muito grave. Mas vou respeitar o seu tempo e esperar você vir me contar. Não quero ser responsável pelo desastre total da sua noite. –digo e me encaminho para sair, deixando ele sozinho com seus demônios.

-Não, espera!

-O que você quer porra. Se eu tento te ajudar você me limita, se eu quero deixar você com seus pensamentos você pede para eu ficar. Que inconstância é essa? –Ele não me responde, mas sei que Dominique Ferrato está na linha tênue entre o controle e o descontrole. Tive a oportunidade de presenciar algumas situações difíceis que meu amigo teve de passar; assim como ele esteve sempre do meu lado quando mais precisei de alguém. Mesmo negando ser necessário, eu agradeço o que Dominique fez por mim. Coisa que só quem é irmão faria. E nem precisa ser de sangue.

Verdades que Ferem-TRILOGIA VERDADES - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora