Capítulo 25 - Mamãe

2.1K 107 23
                                    

- Katniss! - Eu ouço o grito vindo de muito longe. - Katniss você consegue me ouvir??

Palavras sussuradas. Vozes preenchem o ambiente e sons de luta ao meu redor.

Eu tento abrir os olhos, mas minhas pálpebras são pesadas de mais e eu não consigo. Sinto apenas um leve tremelicar nos cílios, mas poderia ser apenas o vento.

Corpos se ajuntam ao meu redor. Eu não consigo vê-los, mas posso senti-los. O calor que emana deles me envolve em uma bolha e a respiração de todos desce sobre mim como uma nuvem de vapor. Eu sinto meu corpo começando a suar, mas pode ser apenas minha imaginação.

Peeta... Eu penso vertiginosamente. Eu preciso ver Peeta. Meu bebê. Minha menina. Eu preciso ver o meu bebê! Eu não posso ficar deitada nessa cama, eu preciso reagir!

Eu me esforço. Obrigo cada músculo do meu corpo a se mover. Qualquer movimento. Mexer o dedo mínimo, abrir os olhos, fechar os punhos, qualquer coisa. Nada funciona. E quando desisto, a decepção se une a exaustão dos meus esforços infrutíferos e eu apago completamente.

A próxima coisa que tenho consciência é de abrir os olhos e não conseguir enxergar nada, não por causa da escuridão, mas sim da luz. Um jorro branco que inunda meus globos oculares e me impede de distinguir qualquer objeto ou formato ao meu redor. Então eu fecho os olhos novamente e conto até dez. Uma técnica que aprendi com o Dr. Aurelius.

Ao fim da contagem, sinto como se meus pensamentos estivessem novamente dentro do meu corpo. Agora, mesmo de olhos fechados, consigo sentir o colchão em que estou deitada, o cobertor fino que está sobre minhas pernas, tubos ligados ao meu braço e um aparelho de respiração conectado ao meu nariz. Meu primeiro impulso é arrancar tudo aquilo, então eu permaneco de olhos fechados e procuro me adaptar aos aparelhos que me mantém viva.

Abro os olhos mais uma vez. Ouço o leve bipe do cardiograma marcando meus batimentos antes de distinguir o resto do quarto, com suas paredes brancas, piso branco, tudo branco... Inclusive a cadeira onde minha mãe está sentada sem perceber que já acordei.

- Ei. - Eu tento falar com minha voz extremamente rouca. Eu percebo que ela está segurando minha mão e tento reforçar meu cumprimento apertando a mão dela, mas descubro que meus músculos estão tão fracos quanto minha voz. Apesar disso, minha mãe percebe.

- Katniss! Que bom que você acordou filha! Peeta está morrendo de preocupação! - Ela fala antes que consiga se conter.

- O que aconteceu? - Eu tento falar. - Quanto tempo?

- Aconteceram algumas complicações no parto. - ela responde evasiva. - Você perdeu muitos sangue...

- Meu bebê... - Eu murmuro com urgência transbordando em minha voz.

- Não se preocupe Katniss - Minha mãe me tranquiliza. - Sua filha está ótima. Eu tenho cuidado dela pessoalmente.

- Peeta? - Eu pergunto.

- Ele foi para casa algumas horas atrás. Não queria te deixar, mas precisava descansar então eu insisti até que ele fosse.

Eu assinto com a cabeça e então percebo que minha mãe ainda não me respondeu.

- Quanto tempo?

- Pouco mais de 24 horas. - Ela responde à contragosto.

Por algum motivo, a notícia não me incomoda tanto quanto eu achei que iria. O esforço para manter a conversação cobra o seu preço e eu tenho que fechar os olhos por um momento, quando os abro novamente minha mãe já não está lá. Em seu lugar, o homem mais importante da minha vida segura minha mão.

Jogos Vorazes - CicatrizesOnde histórias criam vida. Descubra agora