- Katniss! - Eu ouço o grito vindo de muito longe. - Katniss você consegue me ouvir??
Palavras sussuradas. Vozes preenchem o ambiente e sons de luta ao meu redor.
Eu tento abrir os olhos, mas minhas pálpebras são pesadas de mais e eu não consigo. Sinto apenas um leve tremelicar nos cílios, mas poderia ser apenas o vento.
Corpos se ajuntam ao meu redor. Eu não consigo vê-los, mas posso senti-los. O calor que emana deles me envolve em uma bolha e a respiração de todos desce sobre mim como uma nuvem de vapor. Eu sinto meu corpo começando a suar, mas pode ser apenas minha imaginação.
Peeta... Eu penso vertiginosamente. Eu preciso ver Peeta. Meu bebê. Minha menina. Eu preciso ver o meu bebê! Eu não posso ficar deitada nessa cama, eu preciso reagir!
Eu me esforço. Obrigo cada músculo do meu corpo a se mover. Qualquer movimento. Mexer o dedo mínimo, abrir os olhos, fechar os punhos, qualquer coisa. Nada funciona. E quando desisto, a decepção se une a exaustão dos meus esforços infrutíferos e eu apago completamente.
A próxima coisa que tenho consciência é de abrir os olhos e não conseguir enxergar nada, não por causa da escuridão, mas sim da luz. Um jorro branco que inunda meus globos oculares e me impede de distinguir qualquer objeto ou formato ao meu redor. Então eu fecho os olhos novamente e conto até dez. Uma técnica que aprendi com o Dr. Aurelius.
Ao fim da contagem, sinto como se meus pensamentos estivessem novamente dentro do meu corpo. Agora, mesmo de olhos fechados, consigo sentir o colchão em que estou deitada, o cobertor fino que está sobre minhas pernas, tubos ligados ao meu braço e um aparelho de respiração conectado ao meu nariz. Meu primeiro impulso é arrancar tudo aquilo, então eu permaneco de olhos fechados e procuro me adaptar aos aparelhos que me mantém viva.
Abro os olhos mais uma vez. Ouço o leve bipe do cardiograma marcando meus batimentos antes de distinguir o resto do quarto, com suas paredes brancas, piso branco, tudo branco... Inclusive a cadeira onde minha mãe está sentada sem perceber que já acordei.
- Ei. - Eu tento falar com minha voz extremamente rouca. Eu percebo que ela está segurando minha mão e tento reforçar meu cumprimento apertando a mão dela, mas descubro que meus músculos estão tão fracos quanto minha voz. Apesar disso, minha mãe percebe.
- Katniss! Que bom que você acordou filha! Peeta está morrendo de preocupação! - Ela fala antes que consiga se conter.
- O que aconteceu? - Eu tento falar. - Quanto tempo?
- Aconteceram algumas complicações no parto. - ela responde evasiva. - Você perdeu muitos sangue...
- Meu bebê... - Eu murmuro com urgência transbordando em minha voz.
- Não se preocupe Katniss - Minha mãe me tranquiliza. - Sua filha está ótima. Eu tenho cuidado dela pessoalmente.
- Peeta? - Eu pergunto.
- Ele foi para casa algumas horas atrás. Não queria te deixar, mas precisava descansar então eu insisti até que ele fosse.
Eu assinto com a cabeça e então percebo que minha mãe ainda não me respondeu.
- Quanto tempo?
- Pouco mais de 24 horas. - Ela responde à contragosto.
Por algum motivo, a notícia não me incomoda tanto quanto eu achei que iria. O esforço para manter a conversação cobra o seu preço e eu tenho que fechar os olhos por um momento, quando os abro novamente minha mãe já não está lá. Em seu lugar, o homem mais importante da minha vida segura minha mão.
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Jogos Vorazes - Cicatrizes
FanfictionApós a revolução, a vida em Panem está voltando ao seus eixos. A presidente Paylor tenta fazer com que a Capital e os Distritos se entendam em uma tentativa de manter a frágil paz conquistada, evitando a destruição total da raça humana. Novos prefei...