Capítulo 23 - Gravidez

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- Como ela está? - Eu ouço uma voz masculina perguntando a distância. Minha mente me diz que eu conheço essa voz, mas não consigo dizer de onde.

- O físico está estabilizado. A pressão sanguínea voltou ao normal e os batimentos cardíacos estão constantes e rítmicos novamente. - Uma mulher responde. Eu sei que isso deveria ser importante, mas minha mente descarta a informação.

- E o resto? - A voz masculina pergunta e eu sinto o medo em seu tom. Por algum motivo eu quero me levantar e afastar toda preocupação dessa pessoa, mas tão rápido quanto a sensação vem, ela se vai, e eu continuo inerte.

O clima no quarto fica tenso quando a mulher hesita em responder.

- Eu não sei Peeta. - Ela finalmente diz. - É impossível precisar com certeza até que ela acorde.

Peeta. O nome tem o efeito de um furacão. Milhares de imagens preenchem meu cérebro e emoções extremamente conflitantes ocupam meus sentidos. Amor e ódio, segurança e perigo, dor e prazer. Tudo está ligado a esse nome. Um nome de olhos azuis e cabelos cor de trigo. A confusão é tão intensa que meu corpo se contrai em posição fetal e minhas mãos disparam para cobrir meus ouvidos tentando freneticamente abafar o mundo externo.

Eu sinto o calor de uma mão agarrando meu pulso esquerdo e instantaneamente começo a me debater desesperadamente tentando me libertar do meu agressor. Eu sei que as vozes estão dizendo algo, mas não quero escutar as mentiras que eles querem que eu engula.

Subitamente o meu agressor solta o meu pulso e firma meu corpo, segurando meu cotovelo e meu ombro. Um segundo depois sinto uma picada no braço e finalmente consigo o que queria desde o início. Todo o mundo externo desaparece.

Eu volto a consciência horas mais tarde e a primeira coisa que sinto é a maciez do meu cobertor. O meu cobertor. Consigo sentir fragmentos da colônia de Peeta e tateio pela cama ainda de olhos fechados à sua procura, mas não sinto sua presença. Abro os olhos e o encontro sentado em uma poltrona no lado oposto do quarto.

Ele senta com as pernas esticadas, os braços cruzados e a cabeça pendente sobre o peito, completamente adormecido. Seu cabelo loiro está desgrenhado e colado ao rosto pelo suor, suas roupas estão amarrotadas e ao seu lado, no chão, tem uma bandeja com um prato e uma caneca sujos de comida.

- Peeta... - Minha voz sai baixa e rouca, mas mesmo assim ele acorda instantaneamente.

- Oi amor... - Ele fala e eu sinto a cautela em sua voz antes mesmo que ele pergunte: - Como você se sente?

Milhões de respostas plausíveis passam em minha mente enquanto ele se aproxima e senta ao meu lado. Em meio a toda a confusão apenas uma palavra sai:

- Sede.

Mais que rapidamente ele se reclina e pega um copo cheio d'água que já estava a minha espera sobre o criado-mudo. Eu sorvo o conteúdo avidamente e o líquido chega a escorrer pelas laterais dos meus lábios.

- Melhor - Eu falo com um sorriso fraco. A voz já não tão rouca quanto antes. - O que aconteceu?

- Que tal você me dizer? - Ele pede. - Do que você se lembra?

Branco.

Eu forço minha mente a explicar os eventos anteriores ao meu sono, mas nada aparece.

- Eu não sei. - Eu sussurro.

Minha aceleração se acelera e o meu coração bate mais forte sem nenhum motivo aparente. O desespero começa a se espalhar em meu peito e eu sinto minha consciência se perdendo no mesmo vazio que engoliu minhas memórias.

Jogos Vorazes - CicatrizesOnde histórias criam vida. Descubra agora