Na manhã seguinte, perdemos a hora do café da manhã. A presidente Paylor nos ligou para nos convidar a almoçar com ela. Nossa presença na Capital tinha mexido com os ânimos da cidade. Nós tomamos um banho logo cedo e fizemos check-out no hotel. Um carro estava nos esperando para nos levar a mansão presidencial.
Chegando lá, fomos guiados diretamente até a sala de jantar. A presidente já estava nos aguardando.
- Boa tarde! - Ela cumprimentou ao nos ver.
- Boa tarde, presidente. - Peeta respondeu, respeitoso.
- Não precisamos dessas formalidades entre nós Peeta. Vocês me conheceram quando eu nada mais era do que uma rebelde assim como vocês. - Ela respondeu. - Pode me chamar de Paylor.
- Sendo assim. - Peeta disse. - Boa tarde, Paylor.
A presidente sorriu e me cumprimentou. Então eu reparei que não estavamos sozinhos na sala de jantar. Uma linda menina estava sentada na mesa, nos observando de canto de olho, quando olhei na direção dela, ela se assustou e virou o rosto depressa. Ela tinha a pele extremamente branca e lindos cabelos dourados trançados sobre as costas.
- E quem é ela? - Eu pergunto, olhando para a garota.
- Katniss, Peeta, essa é Celestia. - Ela diz, fazendo um gesto para a garota se aproximar. Ela timidamente chega mais perto, mas sem falar nada. - Celestia Snow.
É como levar um tapa na cara. Involuntariamente eu recuo um passo. Como se o próprio nome fosse me atacar de alguma forma. Eu percebo imediatamente o quão injusta fui, pois vejo os olhos da pequena Celestia, que deve ter no máximo 14 anos, se encherem de lágrimas.
- Eu disse que ela não iria querer me ver. - Ela murmura quase chorando e esconde o rosto na blusa da presidente Paylor.
A presidente me lança um olhar irritado, mas no fundo sei que ela entende minha reação. Como sempre, Peeta vem ao meu socorro.
- Ei Celestia! - Ele fala, se aproximando da garota. - Não é nada disso, por que a gente não iria querer conhecer você?
- Por que eu sou neta dele. - Ela responde com a voz abafada. Peeta pega uma das mãos de Celestia e tenta fazer com que ela olhe para ele. Relutantemente ela tira o rosto das dobras da camisa da presidente. Seu rosto está molhado de lágrimas.
- E os nossos parentes definem quem nós somos? - Peeta pergunta, sério. - Me diga uma coisa Celestia, você concorda com as coisas que o seu avô fazia?
Ela nega veementemente com a cabeça.
- No início, eu gostava dos Jogos. - Ela admite olhando para os sapatos. - Mas depois a Paylor me explicou tudo... Eu não entendia, eu sinto muito.
Ela fala e começa a chorar de novo.
- Está tudo bem querida. - A presidente Paylor fala e a envolve em um abraço. - Não se culpe por coisas que você não pode controlar. Você era apenas uma criança, não entendia a real dimensão dos eventos. O que importa é que hoje você sabe a verdade e é contra os extintos Jogos Vorazes.
- Então... Você não me odeia? - Ela pergunta olhando diretamente para mim, que estive muda durante todo o tempo.
A semelhança dela com o avô é assustadora. O nariz, o formato do queixo. Aposto que ela tem as mesmas covinhas que o avô quando sorri. Mas é olhando eu seus olhos que eu vejo a maior diferença. A diferença que realmente importa. Enquanto o avô tinha um olhar de cobra, o olhar de Celestia é puro e inocente. O olhar de uma criança. O olhar que tinha a minha irmãzinha Prim antes da sua primeira colheita.
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Jogos Vorazes - Cicatrizes
Fiksi PenggemarApós a revolução, a vida em Panem está voltando ao seus eixos. A presidente Paylor tenta fazer com que a Capital e os Distritos se entendam em uma tentativa de manter a frágil paz conquistada, evitando a destruição total da raça humana. Novos prefei...