Capítulo 1 - O Menino Arrogante

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A morena se esforçava para rasgar o último daquela pilha de corpos bolorentos, esfolando-o até à carne à procura daquela pequena e singela chave; um total de uma centena e meia de mortos até o momento e ainda nada. O descuido dos prisioneiros com a única lâmina do lugar fez com que a moça tivesse mais trabalho do que deveria e aquela faca de açougueiro quase sem fio não estava mais trabalhando tão bem quanto a horas atrás... Muita sujeira, pouca praticidade.

Por alguns picos de sanidade, ela se perguntava o que ela estava fazendo com aqueles homens e o que ela estava fazendo com ela mesma; completamente ensanguentada, selvática, suja, histérica... Ela fazia tudo sorrindo. Aquele sorriso macabro e perturbador, de orelha a orelha, mas o pior de tudo naquele episódio não era aquela expressão doentia estampada em seu rosto, mas sim sua risada...

Ela parecia se divertir com o sangue, com os ossos e com a poeira. Depois da quinquagésimo segundo morte, poderia-se dizer que a morena... "Pegou o jeito da coisa" e levou na esportiva.

O cheiro do lugar estava insuportável.

Sua roupa, agora, não passava de trapos sujos pelo sangue e pela terra seca daquela cárcere; ela passou a ignorar o fedor com o tempo. Após estraçalhar o último dos vários homens, jogou-o na menor pilha ao lado do portão de ferro que a segurava lá dentro.

— Cento e quarenta e cinco... — Ela falou em tom baixo, exausta. — Cento e quarenta e cinco...

E assim, Pedro, ainda um pouco tonto, abriu os olhos.

Acordou com uma enxaqueca insuportável, sentindo pequenas marteladas em sua cabeça. Imagens da festa de Amanda rodavam em sua cabeça em gradativos borrões. Algumas poucas coisas vinham com nitidez, lembrando do ritmo de algumas músicas, das luzes improvisadas feitas com celofanes à frente das lâmpadas e dos rótulos desgastados de algumas garrafas que proporcionaram o enjoativo e repulsante gosto seco de álcool agora em sua boca.

— Merda... — Franziu as sobrancelhas. — Bebi demais. — Levou sua mão até a testa.

Levantando-se da cama numa velocidade quase mórbida, pôs os pés no frio piso laminado de madeira, sentindo precisamente o movimento de seus membros que fraquejavam junto às pontadas incomodas em seu ombro esquerdo. Parou, pouco grogue, virado para a parede bege do quarto, sem nenhum pensamento nítido em mente; definitivamente uma manhã normal de Domingo.

As pontadas de seu ombro estavam realmente incômodas.

Alongava-se com lentidão; um braço de cada vez. Foi em direção ao espelho ao lado de sua cama. Sua aparência estava medíocre; seu cabelo curto cabelo castanho desgrenhado não estava mais bagunçado que o normal, seus olhos de mesma cor envoltos em olheiras escuras. Demorou para que estranhasse o número 7 tatuado em negrito. Um número, na cor preta na altura de sua clavícula, passando precisamente pelo ombro e chegando até parte do peito... Sua percepção retardada pela ressaca, deu alarme.

Seu cérebro processou a informação.

Fitou o número em seu ombro por dois momentos...

Pedro entrou em pânico.

— Eu vou morrer. Minha mãe vai me matar. Eu vou morrer. — Ele fitava perplexo seu tatuado ombro enquanto repetia as duas frases em forma de mantra. — Eu vou morrer...

Sentou-se na cama com as duas mãos em reza sobre a boca, que logo as usou para esfregar, perplexo, seu rosto.

Tentava se acalmar; respirava fundo e contava até seis, nunca passando desse número... Repetia "Meu Deus" mais vezes do que podia contar. Ficando em silêncio, começou a olhar ao redor do quarto e, logo, pegou bruscamente seu telefone e discou. Demorou um pouco para que atendessem.

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