Capítulo 2 - O loiro que rondava sua casa

181 13 0
                                    

O tempo parecia querer fechar

O dia se dissipava e a noite começava a aparecer. Os postes de iluminação da rua acendendo gradativamente e iluminando às calçadas. As nuvens, mesmo densas e carregadas de chuva, não pareciam ser tão pesadas assim; Pedro decidiu abrir mão do guarda-chuva, dessa vez.

Se preparando para ir até a casa de Amanda, ele ainda estava pensativo sobre os números.

"Não tem como números aparecerem do nada na pele das pessoas, certo?" ele pensava. Depois da ida de André em sua casa, a ideia de que tatuaram os números durante a festa de Amanda foi descartada.

- Como diabos essas coisas apareceram do nada...? - Ele dizia pra si mesmo. - E pra piorar, não tenho como pedir ajuda com isso pra qualquer pessoa.

Por um instante, deixou a questão de lado para sair antes que a chuva apertasse, terminando de amarrar seus cadarços e pegando a chave da porta.

- Estou indo. - Ele bateu a porta e seguiu rua a dentro.

Os dois eram vizinhos; Amanda morava no final da Rua e Pedro no início dela, o que era bem prático nas saídas que davam juntos.

A rua era extensa e com casas bem separadas umas das outras, o que facilitava muito o convívio da vizinhança. Morar perto, mas não perto demais. As casas variavam entre si em cor, mas não diferenciavam-se muito. Talvez os vizinhos tenham dividido o contato de um arquiteto barato ou coisa do gênero. Não era importante, de qualquer modo.

Não haviam muitos carros estacionados do lado de fora e os próprios moradores pareciam muito silenciosos. "Talvez seja a época do ano." Pedro pensou. Uma vizinhança de classe média geralmente não costuma ficar em casa em época de festas ou final do ano. Feriadões sempre são bem aproveitados por quem tem poder aquisitivo.

Então, talvez seja esse o motivo da rua estar tão deserta.

Andando naquela extensa rua, Pedro sentia as gotas de chuva caírem em seu rosto e, como quem se entrega, ergueu sua cabeça para sentir o chuvisco sob sua pele.

Pedro gostava de observar as pequenas correntes d'água que se formavam no asfalto e escorriam até os bueiros pela calçada. Acompanhava seu trajeto até o ponto final, por mais que isso parecesse banal para ele.

Até que a chuva começou a apertar.

- Droga... - Arfou com desgosto.

Ele olhava de um canto para outro procurando algum lugar coberto para se proteger da chuva que caia com força. Achou um beco; o espaço entre dois prédios de 4 e 5 andares onde as varandas dos apartamentos bloqueavam a chuva.

Melhor que nada, certo?

Naquele pequeno espaço escuro, o espaço era tomado por entulho e coisas esfarrapadas; provavelmente entulho da vizinhança com preguiça de levar para um lugar mais adequado. Mais a fundo, avistou num velho sofá com o estofado arrebentado, um homem loiro e alto se afundava no pescoço de uma mulher que estava com seu tomara-que-caia quase escorregando pelos ombros dela.

Os dois faziam movimentos bruscos, como quem gosta de voracidade; nos intervalos de chuva, conseguia-se ouvir o som da boca do rapaz contra a pele da moça.

- É sério, cara?... - Ele revirou os olhos, virando sua atenção para o asfalto.

Pedro se incomodou com a ideia de vouyerismo forçado. Não sabia como poderia chegar para o casal e dizer "estou tentando fugir da chuva, podem diminuir o ritmo enquanto estou por aqui?" de maneira educada.

Voltando às correntes d'água que o distraiam enquanto os dois se atracavam no fundo daquele beco, reparou em um líquido escuro misturado naquela água toda, o qual seguia até dentro do beco onde estava.

Sete [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora