Capítulo 26

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Clarke

"Tudo o que ouvi em seguida foi um barulho de tiro."

Meus olhos estavam fixos no meu pai. Senti um cheiro de pólvora invadir meu nariz e uma fumaça passar perante meus olhos. O tempo tinha parado por causa de meu desespero e eu via as coisas acontecendo três vezes mais devagar. Pisquei algumas vezes para que as lágrimas presas em meus olhos finalmente caíssem. Vi meu pai soltar a arma que segurava e ela quicar ao cair. Ele já não tinha Lexa sobre seu domínio mais, pois agora seus braços estavam soltos em volta do corpo. Em suas costas uma mancha vermelha se formou em sua roupa. Com passos nem um pouco firmes, ele se virou em minha direção e caiu de joelhos. Tinha o olhar fixo em minhas mãos e foi só assim que percebi o que havia acontecido. Meu corpo tinha ganhado vontade própria e por impulso usei a arma de Bellamy, que Octavia havia me dado antes de chegarmos aqui. Eu tinha matado meu próprio pai. Quando esse pensamento tomou conta de minha mente, larguei a arma e olhei para minhas mãos. Fitava elas estendidas na frente de meu corpo. Tremiam muito. Voltei a olhar meu pai, que ainda estava na mesma posição, com os olhos arregalados não acreditando no que via e me incriminando. Ele caiu no chão. Lexa passava as mãos por seu corpo, parecendo não acreditar que ainda estava viva. Ela olhou meu pai no chão, a poça de sangue ao lado e só então encontrou meu olhar.

Clarke.

Mesmo de longe, vi em seus lábios ela pronunciar meu nome. Não aguentei mais segurar e chorei. As lágrimas escorriam ferozmente por minhas bochechas. Vi ela andar rápido em minha direção e parar na minha frente. Acho que ela não sabia o que fazer. Após alguns segundos, levou as duas mãos até meu rosto, limpando minhas lágrimas. Eu não conseguia falar nada e ela respeitou meu momento. Me envolveu em seu abraço e me puxou para seu corpo. Passei meus braços em volta de seu pescoço e afundei meu rosto nele, sentindo seu cheiro, enquanto ela acariciava meus cabelos. Por mais que eu estivesse destruída naquele momento, Lexa me trazia paz. Parei de soluçar, o desespero diminuiu e apenas chorei de leve. Ficamos assim por uns minutos até que ela desceu suas mãos para minha cintura, nos afastando. Seu olhar estava fixo no meu, dizendo que não me deixaria. Seus olhos percorriam os meus, tentando me decifrar e me passar tranquilidade. Lexa entrelaçou nossos dedos e se virou, procurando alguém. Indra estava ao longe mas se aproximou quando Lexa chamou.

Arrume tudo. Partiremos em algumas horas.

Indra assentiu e saiu. Lexa se virou de novo para mim e depois percorreu os arredores com os olhos.

Venha.

Franzi a testa sem entender. Achei que iríamos embora, mas ela me puxou pela mão até um lugar afastado. Já não via mais o centro do acampamento onde tudo aconteceu e nem ouvia vozes. Só silêncio. Lexa soltou minha mão e se sentou embaixo de uma grande árvore, encostando sua costas no tronco. Ela me olhou e fez sinal para que eu me sentasse ao seu lado. Assim o fiz, mas sem encará-la. Apenas fiquei ao seu lado, fitando o nada. Ela virou a cabeça em minha direção e se aproximou, passando um braço em volta de meu corpo, fazendo com que eu ficasse aninhada ao seu. Apoiei meu rosto em seu peito. Lexa pegou minha mão, fazendo carinho nela.

Estou feliz por você estar bem. Tive medo de te perder. De não te encontrar.

Ela beijou o alto de minha cabeça demoradamente e continuou.

Sinto muito pelo o que aconteceu hoje. Me desculpe por te fazer escolher entre mim e seu pai.

Fechei meus olhos e uma lágrima escorreu por um deles. Um nó se formou em minha garganta e eu não disse nada.

Está tudo bem Clarke, não precisamos falar disso até que você esteja pronta. Só queria que soubesse que eu sinto muito e que sou muito grata por você ter salvo a minha vida. Queria que não tivesse sido nessas circunstâncias, mas obrigado.

Clexa Em Um Novo MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora