Capítulo 1 - Prólogo

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"A escuridão nos assusta. Ansiamos pelo conforto da luz, pois dá vida e forma às coisas. Permitindo-nos reconhecer, definir o que há diante de nós. Mas, na verdade, do que temos medo? Não da própria escuridão, mas da verdade que ela esconde."



No momento em que abri a porta fui atingida pela lufada de vento frio que trouxe consigo o odor de ferrugem e sal. De imediato soube que algo estava errado. Primeiro, por que as luzes da casa encontravam-se apagadas. Segundo, o silêncio assustador, que me causou um arrepio de puro pânico. Talvez papai e mamãe estivessem saído. Isso justificaria a quietude e escuridão.

Tomada por um surto repentino de coragem, entrei hesitante, tateando a parede em busca do interruptor. Quando finalmente achei-o, tentei acender a lâmpada, mas sem sucesso. Aparentemente a energia havia acabado.

– Mãe? Pai? – chamei de maneira cautelosa.

Neste momento algo no chão fez com que meus tênis escorregassem. Franzi os cenhos em estranheza. Parei e abri a bolsa em busca do celular. Sabia que havia um aparador próximo à porta. Se apoiasse a bolsa em cima do aparador, seria mais fácil para encontrar o celular e se o fizesse poderia usa-lo como fonte de iluminação.

Quando dei dois passos, o tênis derrapou novamente e caí de costas no chão. A queda dificultou minha respiração. Puxei o ar com força e senti meus pulmões arderem. Algo quente ensopou minhas costas, levantei devagar ao mesmo tempo em que lágrimas de dor saíam por meus olhos. Mais uma vez tentei respirar. Neste momento a luz acendeu e vi com clareza as coisas ao meu redor.

Tentei gritar, mas não consegui. Tentei levantar e correr, mas minhas pernas pareciam terem sido feitas de borracha.

Havia sangue nas paredes da sala e os corpos de papai e mamãe estavam no chão. As cabeças separadas dos respectivos troncos. A poça de sangue no chão contrastava com a luz vinda do lustre de cristal com gotas penduradas na ponta. E em meio ao sangue que ensopava o tapete havia um facão cuja lamina era de cerra.

A vertigem me atingiu em cheio. A luz apagou novamente e mergulhei na escuridão.

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