Capítulo 14

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Como promessa é dívida, não é mesmo? Aqui está  o capítulo bônus.  Espero que vcs tenham um ótimo feriado da independência. Eu, não tenho tanta sorte,  trabalho hoje.  Eu sei, é triste.  Mas pra vcs que vão ficar apenas descansando, aproveitem e se divirtam com a Yanna. Bjs!

Mais um dia transcorreu em que me dividi entre as aulas no colégio e estudar em casa. Nesta quinta-feira, não tinha que passar o dia inteiro na escola, o que era ótimo. Ainda bem que os turnos integrais se resumiam em apenas duas vezes por semana. Mamãe chegou do trabalho no mesmo horário de sempre. Fiquei no meu quarto fazendo o dever de casa até que ela veio me chamar para jantar.

         Enquanto era casada com papai, minha mãe sempre cozinhava o almoço e o jantar. Meu pai não abria mão de ter a comida recém-preparada independente se era dia ou noite. Esse costume mudou depois que ficamos apenas nós duas. Mamãe sempre chega cansada da jornada de trabalho na escola em que leciona e eu não me importo de fazermos apenas um lanche ou mesmo aproveitarmos a comida que sobrou do almoço. Claro, que às vezes mamãe preferia cozinhar o jantar, mas isso não era mais uma obrigação. Nesta noite, ela tinha optado por fazer uma macarronada.

          Quando entrei na cozinha o cheiro de molho de tomate que invadiu minhas narinas me fez perceber o quanto estava com fome. Só tinha feito um pequeno lanche no meio da tarde e agora eu estava faminta. Dá de cara com aquele espaguete vermelhinho com muito queijo na travessa acima da mesa me fez abrir um sorriso de orelha a orelha. Eu adorava massas e depois da última noite, eu estava mais do que disposta a descontar minha frustação em um prato enorme de macarrão. A comida sempre pode fazer milagres para o estado de espírito de uma pessoa. Eu só esperava que funcionasse comigo agora.

         Mamãe sentou-se comigo a mesa. Enquanto desfrutávamos da macarronada, que por sinal estava uma delícia, ela me contou do seu dia de trabalho. Mamãe tinha um aluno que fora diagnosticado com hiperatividade e déficit de atenção. Como professora dedicada que era, ela se preocupava com aprendizado do garoto mais do que de todos os outros alunos. Ao que parecia, o menino estava superando as dificuldades e se destacando nas aulas. A cada vitória dele, mamãe sentia como sua. Ela estava feliz com o seu progresso.

         Depois que ela me contou mais sobre desempenho desse aluno, aproveitei o momento para contar a ideia da Jess de fazermos uma festinha aqui em casa para comemorar o meu aniversário.

– Eu acho perfeito, querida! Eu também não acho bom a gente não celebrar mais um ano de vida seu. Eu mais do que ninguém nesse mundo tenho motivo para comemorar por Deus ter me dado uma filha tão linda e responsável como você. Pode dizer a Jess que ela pode contar comigo para a organização da festa – concordou logo.

– Eu não sei não, mamãe. A data do meu aniversário é apenas poucos dias antes da prova do vestibular. Eu devia estar concentrada em estudar e não em festas. Fora isso, teríamos que convidar o papai. Você ia se sentir bem com ele aqui de novo na nossa casa? – lembro a ela.

– Filha, eu não me importo que seu pai venha participar da sua festa de aniversário. Antes de ser meu ex-marido, ele é seu pai e merece e deve fazer parte da sua vida. E diferente do que você pensa, eu não tenho problemas em rever seu pai. Os nossos problemas ficaram no passado. Não somos amigos é verdade, mas estamos longe de sermos inimigos também.

– Mamãe, eu acho que nunca te perguntei isso, mas como vocês dois se apaixonaram? Você achou que ele seria sua alma gêmea como acredita existir a Jess? – pergunto.

– Ah, querida! Eu e seu pai nos conhecemos ainda no ensino médio. Naquela época, se chamava colegial. Ele estudava na mesma escola que eu. Ele era um rapaz bonito e atraente. Mas devo confessar que no começo ele não fazia meu tipo. Eu o achava pretensioso e convencido demais. Mas nós acabamos nos tornamos amigos e mais tarde, já fora da escola começamos a namorar e logo, nos casamos e tivemos essa filhota linda – conta, enquanto bagunça meus cabelos com uma das suas mãos.

         Eu sorrio para a brincadeira dela, mas não deixo de notar que ela não falou em paixão ou mesmo amor. Será que ela não tinha sido apaixonada pelo meu pai?

– Mãe, você não comentou nenhuma vez sobre estar apaixonada. Você não amava o papai quando se casou com ele? – a curiosidade me fez questioná-la.

A minha pergunta tirou o sorriso que mamãe também mantinha no rosto.  Por um minuto, ela ficou séria, com o olhar perdido. Parecia que ela revivia o passado, algo que era doloroso lembrar. Eu esperei que ela falasse alguma coisa. Não a pressionei.

De repente, ela descansou os talhares no prato e me encarou. Era perceptivo que ela refletia sobre o que iria me dizer.

– Querida, essa não é uma pergunta que seja fácil de responder. Sim, eu gostei do seu pai, se não, não teria me casado com ele.  Eu posso até dizer que o amei, mas paixão daquelas avassaladoras que te fazer perder a razão, que faz seu coração bater descompassado eu não vivi com seu pai – respondeu.

Meu queixo caiu diante desta revelação. Eu não imaginava que mamãe não tivesse se apaixonado perdidamente pelo papai. Pelo tanto que ela chorava e sofria com o temperamento difícil dele e pelo tempo que levou para se separar, eu acreditava que era a paixão, o amor que tinham a feito persistir no casamento por tanto tempo. Ela mesma vivia me dizendo que o amor era algo inacreditável e que eu deveria me apaixonar. Mas como ela pode me aconselhar isso se ela mesma não tinha vivido essa experiência.  Ou será que tinha?

A minha cara deve ter denunciado o que eu pensava porque mamãe continuou a dizer:

– Yanna, mais do que mãe e filha, nos considero duas amigas e você já não é mais uma garotinha, então eu vou responder o que você está se perguntando. Sim, eu já me apaixonei, já vivi uma paixão que me tirou dos eixos e me que fez acreditar que eu não poderia viver sem ele.

– Mas quando foi isso? Você acabou de dizer que conheceu o papai na escola e que depois vocês começaram a namorar e se casaram – digo chocada.

– Na verdade, querida, eu disse que comecei a namorar seu pai depois da escola, não durante. Durante o tempo de colégio, foi por outro garoto por quem eu caí de amores. Ele se chamava Fabrício e nós estudávamos juntos desde pequenos. Eu sempre fui interessada nele. Fabrício nunca foi deslumbrante aos olhos das outras garotas, mas para mim ele era incrível. Ele era inteligente, charmoso e o cara mais sensível que eu já conheci. Eu sempre quis chamar a atenção dele, mas ele só me notou quando já estávamos no último ano da escola. Quando ele me beijou a primeira vez foi como se eu tivesse sido enviada para outro planeta – relembra com ar sonhador.

Eu apenas fico ali sentada a mesa da cozinha, ouvindo mamãe descrever o romance com Fabrício. Ele realmente tinha virado o mundo dela de pernas para o ar. Toda a aflição, o nervosismo e ansiedade que eu sentia ao estar com o homem dos meus sonhos, ela narrou sobre os seus momentos  com este rapaz que eu nunca imaginei ter feito parte da vida dela. O que eu não entendia era o porquê dela ter deixado ele e ter se casado com meu pai.

– Mas, mamãe, porque você não se casou com ele ao invés do papai?

Mamãe novamente volta a ter o olhar fora de foco. O que quer que tenha acontecido era difícil para ela dizer. Ela estava triste.

– Querida, eu não me casei com ele porque... porque ele faleceu em um acidente no final daquele último ano. Toda a nossa felicidade foi retirada de nós por um bêbado que bateu na bicicleta que ele pilotava na volta da escola – pesar marcava o seu tom de voz.

Eu imediatamente me entristeci pelo o que mamãe viveu, pelo o que ela perdeu. Será que se Fabrício não tivesse morrido, ela hoje estaria casada com ele e feliz? Ela não teria passado tanto sofrimento e desgosto na relação com papai? Ela teria vivido o felizes para sempre que minha amiga Jess tanto busca? Essas são perguntas que nem eu e nem ela nunca teríamos respostas. Comovida por sua história, eu faço a única coisa que posso fazer. Eu consolo minha mãe com um abraço.

O Homem dos meus Sonhos (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora