Início das Explicações

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Ao acordar, sinto o meu corpo fraquejar e se eu não estivesse já presa em uma cadeira dentro de um círculo estranho, certeza que eu iria cair no chão. Analiso o lugar onde eu estou: um quarto de hotel que tem duas camas e uma decoração simples porém simpática. Pelo quadro que fica pregado na parede, posso jurar que esse é o hotel da Willoe, uma antiga amiga da família. Esse quadro foi eu que pintei e dei para Loe no natal passado. Ela disse que iria guardar com carinho na decoração de um dos seus quartos.

Voltando ao meu estado de amarrada em uma cadeira: como eu disse eu estou dentro de um círculo estranho que eu tenho certeza que foi tirado de algum daqueles filmes de terror. Não é por nada não, mas Jane amava filmes de terror. Ela gostava dos antigos, os clássicos em preto e branco ou aqueles famosos da década de 80.

Lembro dos falsos agentes retardados. Ok, pode ser uma coincidência ou quem está me mantendo presa aqui são aqueles dois, e eu vou participar de algum ritual satânico que venda a minha alma para o diabo.

Calma Lucy, calma. Isso não está acontecendo. Você está dormindo e vai despertar com a Jane ao seu lado.

Está tudo bem.

Escuto o barulho da porta se abrindo e em um segundo percebo que é aquela mulher loira de novo. Finjo que ainda estou inconsciente e fecho os olhos, escutando ela ter uma conversa civilizada comigo:

— Você me abandonou — diz ela, com a voz rouca e um pouco tremida. O sotaque britânico dela parece acompanha o ritmo melancólico da sua fala. Talvez ela conheça uma irmã gêmea que eu nunca vi na vida, ou talvez ela também faz parte do grupo de fugitivos do hospício —, eu devia esperar isso. Caramba, Kate! Você me tornou imortal e me abandonou, muito obrigada! Eu passei duzentos anos procurando por você e tentando saber se realmente você havia morrido. E você está aqui em Indiana curtindo uma vida boa como Lucy Maxwell.

A voz dela que já estava por um fiapo agora desaparece. Ela está chorando. Por minha causa. Ou por causa da Kate, mas talvez essa tal mulher seja eu então dá no mesmo de qualquer jeito. Eu ainda não compreendo o que está acontecendo, e mesmo sentindo uma leve pena da mulher que está em lágrimas, ainda queria saber o que diabos está acontecendo.

Sabe, eu nunca fui muito religiosa. No máximo, eu ia aos domingos na igreja com minha vó, mas somente em ocasiões especiais ou quando eu fazia alguma merda e tinha que me redimir (com Deus ou sei lá o que). Mas agora, eu estava rezando. Rezando para qualquer ser superior fazer com que eu conseguisse um álibi perfeito para me livrar desse perfeito grupo de malucos.

— Agora eu acredito quando dizem para não confiar na filha do diabo — diz a mulher, sussurrando as palavras para que ninguém escutasse. Não adiantaria de nada mesmo, já que somos só ela e eu no hotel da Loe mesmo.

Respiro profundamente, buscando alguma saída para o pequeno problema que eu havia arranjado. Eu ainda estava com a minha roupa da noite anterior, e com alguns ferimentos que essa mulher havia me causado. Já estava de manhã e tenho certeza que Teresa deve ter ficado preocupada comgo. Ela age como uma mãe (e tia, ou de vez em quando avó) e eu sempre admirei muito ela por isso.

Escuto a porta abri mais uma vez e percebo que são os dois agentes (ou sei lá o que eles são).

— Ela ainda não acordou? — ouço o agente Young perguntar. Ele parecia ter uma voz calma e eu não me surpreenderia se ele revelasse a si mesmo como algum anjo caído. Lucy, você está ficando doida. Já está falando que nem os loucos que te ssequestraram.

— Ela já acordou, só está fingindo está desmaiada porque está com medo da gente — disse a loira, fazendo pouco caso da minha situação. Bufo e levanto o rosto, e o agente Wayne joga água em mim. Água que eu devo dizer, ardeu a minha pele mais do que deveria. Será que tem pimenta naquele líquido?

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