Ardilosamente Fatal

154 38 157
                                    

Heather havia acabado de me deixar no hotel simples em que eu tecnicamente estava hospedada. Havíamos nos despedido e eu havia dito que ligaria para ela assim que conseguisse um celular novo (o que vai demorar, sendo que eu não tenho dinheiro nem para ir comprar uma coxinha em uma lanchonete de esquina).

Fecho os olhos e paro em frente à porta do quarto em que eu estou com os falsos agentes e com Cat.

Engulo o resto de saliva que eu tenho, já que eu estou mais desidratada que as pessoas habitantes do inferno. Bato na porta duas vezes, e alguém abre no segundo toque. Esse alguém é Sam, que está com uma expressão desesperada em seu rosto. A expressão some quando ele me vê.

— Lucy? Você tá bem? — ele me pergunta, e eu me surpreendo que ele não esteja brigando comigo ou me expulsando por já ter fugido naquela hora. Como um impulso, eu abraço ele, que apenas retribui o gesto sem entender muita coisa.

Sinto as lágrimas se formando e caindo descontroladamente sob o meu rosto. Eu nunca fui do tipo que falou "Meu Deus, eu quero ter uma vida normal, coitada de mim e blá blá blá", já que eu sempre quis ter alguma coisa emocionalmente para viver. Agora, eu só queria que as coisas acalmem-se um pouco. Seria incrível se isso acontecesse.

— Okay, o que está acontecendo aqui? Quando Lucy voltou? — pergunta Dean, que aparece na sala junto com Castiel. Os dois me olham com um pouco de surpresa e depois ficam confusos.

Eu lembrei de Aaron, que perguntou se eu era uma 'caçadora novata'. Será que é isso o que Sam e Dean são? Caçadores?

— Deixe-a, Dean. Ela já passou por muita coisa e não precisa de qualquer pessoa incomodando-a mais ainda — disse o homem de sobretudo, que parece me olhar com uma certa pena. Depois disso ele desvia o olhar para Dean, que apenas concorda sem falar nada. Fico surpresa com isso, já que Dean parece sempre ser bem nervosinho. Realmente Castiel deve ter muita influência sobre ele.

Depois de me soltar do abraço, eu vou em direção ao "meu" quarto, sem falar com ninguém e sem fazer contato visual com qualquer pessoa.

Todos devem estar achando que eu tenho um desequilíbrio emocional tremendo ou algo do gênero. Quando eu entro no quarto, vejo Cat sentada na cama com uma expressão um pouco perdida, como se ela não soubesse guiar a si mesma para a direção certa. Os olhos dela encaram o nada, até que ela percebe que eu cheguei e Cat parece ficar um pouco mais desperta para a vida.

— Você não fugiu dessa vez — diz ela, com uma voz melancólica e irônica ao mesmo tempo. Fico pensando em qual seria a história dela com Kate, mas tenho vergonha de perguntar à ela sobre isso.

Cat sorri e se retira do quarto, para me deixar mais à vontade. Toco o colar que ela me deu, e alguns flashes vem na minha cabeça, como se fossem lembranças que eu nem sabia que estavam guardadas.

Na maioria, era só eu com um vestido do estilo da era vitoriana. Alguns flashes mostravam Catarina conversando comigo e outras em que nós duas estávamos nos divertindo em um lugar cheio de flores, um parque bem cuidado, talvez.

Sento na cama um pouco zonza e penso melhor. Será que realmente essa Kate seja eu, só que em outra vida?

Eu sempre acreditei em aquelas coisas de reencarnação, mas nunca soube que isso realmente era real. Como eu era naquela outra vida? Será que eu tive outras vidas além de Kate?

— Ok, arrume suas coisas. Nós estamos indo — disse Dean entrando sem qualquer aviso prévio no quarto em que eu estou.

— O que? Por que? Afinal, que coisas você quer que eu arrume? Eu não tenho nem um celular para acessar netflix — digo, com um sorriso forçado demais em meu rosto. Dean não consegue ser nenhum pouco simpático quando ele quer (ou até mesmo quando ele não quer).

Black Sea ❖ SupernaturalOnde histórias criam vida. Descubra agora