A cor do Natal

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Era natal. A data que comemorava simbolicamente o nascimento de Jesus. Francamente, eu não costumo ter costumes religiosos. Ler orações em latim são o suficiente, para usar contra demônios (mesmo que eu não precise).

Lembro-me das maneiras em que eu já comemorei o natal. Antigamente, quando se tinha riquezas e uma posição alta perante à classe, a família mais rica convidava outras famílias ricas para selar mais um ano de sucesso, manter os aliados próximos, e os inimigos mais próximos ainda. Natal era a melhor época para fechar negócios indiretamente, para que o fluxo de ouro continuasse. Eu havia sido convidada para passar  o natal em um daqueles casarões antigos, cenários clássicos para um perfeito filme de terror. Os vestidos formosos que exibiam luxo, as bebidas caras e as pessoas fúteis. Eu achava divertido, já que era engraçado ver todos cometerem tantos pecados na data do natal. Adultérios, assassinatos, inveja, gula, orgulho do que está em sua posse...

O último natal feliz que eu tive, lembro-me que foi com uma empregada, em 1857. Anos antes de conhecer Cat. Nessas datas que eu passava com a loira, não tinha como se divertir, já que as pessoas que nos cercavam eram tolos que não sabiam como viver da maneira correta.

Enfim, seu nome era Rosetta. Seus cabelos e olhos eram negros, sua pele morena semelhante à minha, seu sorriso era caloroso, e as conversas que tínhamos eram adoráveis. Foi com ela que eu pude perceber indepentende de qualquer classe ou posição, pessoas eram pessoas. Elas poderiam ser boas ou ruins, ou na maioria das vezes, ambos.

Rosetta tinha uma vida sofrida demais para alguém tão boa. Ela representava a alegria constante e a pureza de uma criança inocente. Todos a tratavam como se ela fosse alguém inferior à eles, o que era claramente ridículo. Foi nessa época em que eu dei um dos meus surtos e exterminei (mais de uma vez) uma cidade inteira, ou quase uma cidade inteira.

Era deprimente como os humanos tratavam sua própria espécie como inferiores. Se eles soubessem que não são eles que estão no topo da cadeia, surtatiam. Típico. Alguns grupos de religiosos rezam tanto para que Deus abra seus olhos para as verdades que é escondida deles, mas não sabem que se encararem a cruel realidade, vão chorar como bebês.

A morena, além de ser linda, alegre e pura, perdoava todos por seus pecados. Era como se ela fosse a misericórdia em pessoa. Todas as vezes que eu estava prestes a assassinar qualquer alma viva, ela praticamente me dava uma palestra reflexiva sobre como aquilo não valia a pena.

Nos natais, quando todos iam dormir, nós íamos para o porão e tomávamos metade do estoque de vinho, compartilhando histórias engraçadas e constrangedoras. Ela cantava músicas com sua bela voz, e nós dançávamos ali. Lembro de uma vez em que ela acabou dormindo, e quando eu a olhava, parecia estar contemplando a face de um verdadeiro anjo. Um anjo machucado e forte, que irradiava luz em seus olhos escuros.

Incrivelmente, Rosetta me surpreendeu ainda mais. Ela era uma neflim, e estava fugindo assim como eu, todos esses milênios. Chegava a ser até irônico eu compara-la com um anjo, e na verdade ela de fato ser algo do gênero. Não sabia a causa de toda essa serenidade que a mesma possuía, conseguindo perdoar a todos que lhe fizeram mal, Rose afirma que nesses anos todos de perseguição, ela aprendeu a valorizar os que passavam pelo seu caminho. Aprendeu com essas pessoas, que a fizeram sentir-se melhor sobre ela mesma.

Era lindo.

Infelizmente, uma das mortes que eu causei pelos meus poderes chamou atenção das criaturas, que caçaram-nos, porém nunca chegaram a me achar. Rosetta, por outro lado, foi no caminho oposto ao meu e a perdi de vista. Eu tentei localiza-la por anos, sem sucesso. Obviamente a neflim não queria ser achada, e eu respeitei o direito de ela fugir sozinha.

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⏰ Última atualização: Dec 29, 2016 ⏰

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