não entendo porque em face de sombras é sempre a morte que você vê, e não minha silhueta espirituosa.Mas eu tenho consciencia
dos teus olhos vazios
da tua boca que me chama
pelo nome da irmã que já morreu
eu sinto a tua ausencia
e pelejo porque não sei sobreviver
sem você aqui do lado
e pareço falecida
amargurada e desvalida
pois teus gestos são tão vagos
costumavam ser mui claros
costumavam me querer
não há justificativa
pra castigo tão tremendo
mesmo juntos não te ter
eu nem posso destilar meu ódio
jogar os teus discos fora
ou chorar até morrer
que se tu me largou
não foi por vontade
só posso lembrar da felicidade
limpar o vômito
e cuidar de você
agora tua íris marrom se perde
nem sequer me reconhece
não gosta mais de glacê
não se encanta mais por jambo
ou pelos meus quadris fartos
não se esgueira pelos quartos
nem espera pela chuva
nem procura o que comer
quando dá três da tarde
de domingo
café com beiju e colo
se enrrolar nos meus cabelos
até a hora de rezar e se benzer
e confessar nossos pecados
eu olho nosso retrato
eu não sei o que fazer
as vezes eu quero me pendurar na parede
nunca mais aparecer
eu nem quero mais saber
do nascer do sol parindo o dia
não aguento essa agonia
porque eu não sei mais ser
e esqueço nossos remédios
e de ligar pros meninos
e me compadecer dos pobres
e nem tento espairecer
fico presa nessa maldição desgraçada
procurando por você
e catando nossos pedaços
eu tenho nojo dessa gente imunda
que diz que você já foi
porque as vezes eu percebo
teu cuidado
e o sorriso abobalhado
que tu sempre fez quando me vê
---2017---