II - Decisões

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* Capa: Verônica Arjona Magnoli / Ronie.

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- Eu não sabia que você tinha irmãos.

Por favor, cale a boca.

- Eu também não, Verônica. São meninos? -Pergunto para a tal Denise, ainda tentando compreender todas as notícias recentes.

- Bom, venha conhecê-los. Talvez isso te ajude a decidir melhor.

Mais rapidamente. Foi o que ela quis dizer.

- Claro. - Respondo, seguindo-a.

Afinal, o que eu poderia fazer? Correr para fora da delegacia, talvez. Sim, definitivamente seria uma possibilidade. Mas eu pensaria nisso até o fim dos meus dias.

Quando ela abre a porta, tenho vontade de chorar.

Há dois garotinhos no sofá.

O maior está sentado, visivelmente cansado, dobrando pequenos pedacinhos de papel em aviões. Seus olhos, tão azuis quanto os meus, se focam em mim com tanta intensidade que quase me encolho. Tenho uma vontade imediata de arrumar seu cabelo loiro despenteado.

Ele parece tão magro. Tão pálido. Tão frágil.

O menor está deitado, dormindo com a cabeça apoiada nas pernas do irmão. Seu cabelo é mais escuro e comprido, passando das orelhas.

O maior sacode lentamente o menor, fazendo-o acordar, assustado. Ele tem os olhos mais azuis do que os do irmão, mas encara silenciosamente o chão e se recusa a olhar para mim.

- Helena, esses são Alexandre e Heitor. Crianças, essa moça é irmã de vocês.

A tal Denise se dizia assistente social, mas não estava dando assistência nenhuma. Na verdade, estava tornando momentos delicados em verdadeiros desastres.

- Oi. - Minha voz saiu tão baixa que precisei recomeçar. - Oi. Eu sou a Helena. Como vocês estão?

Me aproximo lentamente, agachando e ficando na altura deles.

- Melhores. - O mais velho fala, quase tão baixo quanto eu. - Nós comemos umas bolachas. - Ele esclarece.

- É mesmo? Espero que tenham sido gostosas. E qual de vocês é o Heitor? - Pergunto, olhando para o menor, que se limita a esconder o rosto atrás do irmão.

- É ele. - Alexandre explica. - Ele não gosta de falar com estranhos. Com ninguém, na verdade. A gente vai morar com você? Agora que a mãe morreu e o pai foi para a cadeia?

Não pude evitar me levantar.

- Eu... Eu já volto, tá?

Saio correndo da sala, largando as duas crianças e as três mulheres lá. As outras pessoas na delegacia me encaram enquanto eu desmorono em lágrimas e soluços.

Quero voltar para lá. Quero abraçá-los e dizer que tudo vai ficar bem, que vou protegê-los.

Mas não posso.

Mal tenho como me sustentar e não sei nada sobre criar uma criança, quem dirá duas.

- E então? - Denise pergunta. - Posso pegar a papelada?

- Que papelada? - Pergunto, esfregando meus próprios braços, tentando me forçar a parar de tremer.

- Você é a única parente viva que conseguimos contatar. Não há mais ninguém. Só você pode assinar os papéis de liberação para que eu possa levá-los para o orfanato.

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