IX - Encontros

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Observo meus olhos bem maquiados no espelho uma última vez, antes de sair do banheiro do mercado.

Precisei sair de casa com meu costumeiro uniforme de recreadora e parar em um mercado, para me arrumar apropriadamente.

Agora, com um vestido vermelho agarrado ao meu corpo e um batom da mesma cor, eu estou começando a repensar minha decisão. Talvez isso seja exposição demais.

Mas não seria justo deixar Henrique sozinho.

Termino de prender minha sandália preta, cheia de tiras brilhantes, no carro, do lado de fora do endereço que Henrique me passou.

Vejo-o caminhar para fora do prédio, à minha procura. Seu terno preto está impecavelmente passado.

- Boa noite. - Digo, descendo do carro.

- Uau. - Ele fala. - Você está melhor do que imaginava.

- Obrigada. Vamos?

Não sei qual o nome exato do carro de Henrique. Mas o símbolo da BMW me dá uma ideia geral de seu valor.

Passamos o caminho em silêncio, seu nervosismo é perceptível pela forma como ele tenta afrouxar compulsivamente o nó da gravata e no suor que escorre de sua testa.

Paramos em frente ao Planalto, um dos salões de festa mais caros da cidade. Ao menos foi o que ouvi dizer.

Henrique abre a porta para mim e, em uma tentativa de acalmá-lo, ajeito sua gravata.

- Calma, amor. - Digo, preparando-nos para o que está por vir. - Vai dar tudo certo.

Henrique sorri levemente para mim, embora não pareça convencido.

Caminhamos de braços dados até nossa mesa, onde alguns casais já nos aguardam.

- Henrique, não vai nos apresentar sua acompanhante? - Uma mulher loira pergunta, o veneno quase escorrendo pela sua boca.

- Claro. Que grosseria a minha. - Ele responde. - Essa é Helena. Amor, esses são Lívia, Pedro, Denise, Augusto, Fabiana e Guilherme.

São muitos nomes e, provavelmente, só vou me lembrar do Pedro e da tal Denise.

- Muito prazer. - Digo, sorrindo.

Passamos quase meia hora bem, sem nenhum problema ou imprevisto. Quase.

- Olha, se não é o meu ex-marido favorito!

De repente, a atitude desesperada de Henrique ao me contratar, passa a fazer sentido.

A mulher que nos encara, Silvana, imagino, deve passar todas as tardes em academias. Apesar da idade ela ostenta uma pele impecavelmente maquiada e longos fios negros que a fazem parecer uma modelo.

- Silvana. - Henrique diz, cumprimentando-a. - Helena, essa é a Silvana. Silvana, essa é Helena.

Ela me encara por alguns segundos, e quase posso ver seus olhos faiscando de raiva.

- Boa noite, Henrique.

O rapaz que surge ao lado dela parece ser mais jovem do que eu. Ele é muito magro e alto, mas sem características mais marcantes. Poderia chamá-lo de mediano, mas talvez medíocre fosse mais apropriado.

Seu braço está entrelaçado na cintura de Silvana e, imediatamente, deduzo que é o secretário por quem ela deixou o marido. Uma péssima escolha, na minha opinião.

Henrique parece paralisado, encarando a ex-esposa e seu namorado.

- É um prazer conhecê-los. - Digo, em seu lugar. - Amor, você não disse que precisava fazer uma ligação? Eu te acompanho.

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