Coraticum

VII - Instruções

Encontro Verônica logo na porta da sala, me aguardando.

- Lena! - Ela praticamente grita, me abraçando. - Como você está? E as crianças?

- Estamos indo bem, eu acho. Deixei as meninas na creche e os meninos na escola. E o seu encontro de sábado?

- Estava sensacional, até a Virgínia me ligar desesperada. O André terminou com ela, acredita?

Não, não acredito.

Virgínia e André eram o par perfeito. Estavam noivos há mais de um ano e iam se casar no começo de setembro, em duas semanas.

- Sério? A Valéria não me disse nada.

- Ela só ficou sabendo no domingo. Já que ela estava na sua casa eu que tive que abandonar o Diego e levar nossa irmã mais velha para beber.

- Sinto muito. - Digo, com sinceridade.

- Nem me fala. Mas, a boa notícia é o Diego me convidou para almoçar com ele hoje. Foi incrível.

- Que noticia ótima, Ronie!

- Boa tarde, alunos. - Como sempre, o professor Henrique entrou na sala quase derrubando todo o material que tentava equilibrar.

A aula levou uma eternidade para passar.a cada dez minutos eu me perguntava se as crianças, principalmente as meninas, estavam bem. Esperava que sim.

Durante o intervalo, enquanto Verônica ia comprar um lanche, tomei uma decisão.

Eu precisaria me mudar, e rápido. Não havia possibilidade nenhuma de eu conseguir alugar um lugar se mal conseguia pagar a creche das crianças. Eu precisava dar um jeito.

- Alô, Marina? Estou ligando para perguntar como faço para entrar em contrato com a sua tia.

- Eu posso passar o seu número para ela e ela te liga mais tarde, pode ser?

- Pode sim, obrigada.

A vida é feita de escolhas. E eu escolhi não perder meus irmãos.

O segundo bloco de aulas se arrastou como o primeiro. Me despedi rapidamente de Verônica e do resto dos nossos amigos e corri para o carro.

Passei na creche e peguei as meninas. Elas pareciam bem e sorridentes. Depois, peguei os meninos. Embora não sorrissem, também pareciam bem.

- Desculpem a demora. Sei que vocês saem às seis, mas a moça da creche não me conhecia e precisei esperar ela chamar a dona para ver se eu era a responsável por elas. E como foi a aula?

- Foi normal. - Alex diz. - Me passaram um monte de tarefa de português.

Durante o resto do trajeto discutimos sobre o dia que tivemos.

Ao chegar em casa peço para os meninos começarem as tarefas, enquanto leio a agenda das meninas, esquento o arroz e a papinha e frito o frango. Depois do jantar, enquanto eles terminam a tarefa,  dou banho nas meninas e coloco Cassie no andador. Embora tenha praticado menos do que a irmã, ela parece bem mais ágil.

Os meninos tomam banho e assistem TV antes de dormir, enquanto eu aproveito para traduzir. Faltam apenas vinte páginas para terminar o livro atual.

As meninas dormem facilmente, quando as balanço no colo.

Já estou quase indo dormir quando meu celular toca com um número desconhecido.

- Alô. Quem é?

- Helena? - A voz do outro lado pergunta. - É a Pamela, a tia da Marina. Tenho que falar rápido. Minha sobrinha falou que você tinha interesse em ser uma acompanhante.