Miguel
Helena acordou em meus braços por todos os dias daquela semana. Não que eu seja o tipo de cara que dorme de conchinha, mas a verdade é que Lena quase sempre dormia em meu ombro e eu sempre acordava primeiro que ela, então eu já estava de pé quando ela abria aqueles lindos olhos amendoados.
Lena me encanta. Eu sei, é difícil de admitir assim, mas ela é maravilhosa. Nós não tínhamos a intenção de sermos aqueles casaizinhos que vivem grudados 24 horas por dia e se mudam para o apartamento do outro na primeira semana de namoro, principalmente porque nós dois precisamos trabalhar. O que acontece é que as nossas maratonas de série iam até bem tarde da noite e, seja lá em que apartamento nós tivéssemos nos reunido para assistir, acabávamos dormindo em algum ponto. Com tudo o que estava rolando, a verdade é que eu me sinto uma pessoa totalmente diferente nos últimos tempos. Seis horas de Arrow e/ou Flash por noite em dias de semana, que me obrigavam a trabalhar de dia e não à noite, como eu fazia; ter uma quase namorada, já que ainda não tínhamos formalizado nada; dois projetos novos que haviam chegado do trabalho; descobrir vários podres de um conglomerado enorme e precisar pensar em uma solução para o problema. Se somar tudo isso direitinho, você vai ver que dormir é uma coisa que tem se tornado bem escassa na minha vida. A verdade é que eu estou morto de cansado, mas feliz demais. Não mudaria nada disso.
Para melhorar, nós estamos na última temporada de Arrow e Flash disponíveis na Netflix. Vamos dar uma relaxada quando acabar, mas a data da nossa viagem está cada vez mais próxima e eu ainda estou atolado de trabalho. Por isso, agora estava eu com a cara enfiada no computador, digitando incansavelmente a linha de código que eu tinha para terminar. E o pior de tudo: ainda faltavam algumas boas horas para que Lena voltasse para casa.
Noto minha xícara de café vazia e abro a garrafa térmica para repor. Ela está perto de esvaziar também, mas vou pensar nisso quando for obrigado. Checo meu telefone por algo importante enquanto bebo, mas a verdade é que a única coisa que está ali é uma infinidade de mensagens do grupo dos meus amigos. Eles estão planejando alguma coisa para esse fim de semana enquanto reclamam por eu não ter dado nenhuma festa nos últimos dias. Eu argumentei que precisava dar um tempo já que o síndico ainda me olhava torto quando me encontrava nos corredores, mas a verdade é que eu não sentia vontade de receber a galera aqui em casa. Sim, eles são meus amigos e, sim, eu adoro uma boa farra, mas nenhum deles beija igual a minha garota. É por isso que enquanto ela estiver comigo é bem provável que eu pule várias sociais com eles e apenas aproveite a combinação pizza + vinho + séries + Lena. A constatação passa pela minha cabeça bem no instante em que surge a notificação de uma nova mensagem de Lena. Céus, ela parece ler meus pensamentos mais profundos.
"Gio não para de perguntar por você e o que eu tenho feito nas minhas noites de sexta"
"Conte à ela todos os detalhes ;)"
"Nem em outra vida. Tenho apreço pelos meus ouvidos."
Flagrei-me sorrindo para aquela mensagem, pois eu sabia exatamente como Lena estava revirando os olhos enquanto escrevia aquelas palavras. Por mais inusitado que fosse, eu também sabia que um sorriso havia brotado em seus lábios instantes depois.
Conhecer Lena era inevitável. Com o tempo que estávamos passando juntos, eu passei a perceber suas manias, seus gestos, o jeito que o cabelo dela se esparrama pelo lençol. É claro que eu também havia explorado cada curva daquele corpo e conhecia todos os pontos que faziam a cabeça dela girar. Fazia questão de aproveitar bem o nosso tempo juntos e o tempo que passávamos na cama era parte essencial da coisa.
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Lá em cima
RomansaHelena está como sempre quis: estabilizada, trabalhando numa agência renomada, com seu próprio apartamento e pensando seriamente em adotar um gato. Quando Miguel, neto de sua antiga e fofa vizinha de 83 anos se muda para o apartamento d...