As semanas de maio passaram em uma velocidade surpreendente, a escola não parecia mais uma selva com pessoas desconhecidas que me olhavam de cima a baixo, parecia que os colegas estavam se acostumando com minha presença e quando alguns souberam que minhas matérias estavam adiantadas, isso foi um grande motivo para esclarecerem dúvidas, o que acabou me aproximando de algumas pessoas da turma, inclusive Mark, que insistia que eu era uma "nerd de carinha bonita". Algumas vezes tomávamos café juntos no intervalo, outras ele me acompanhava pela borda da praia até à praça perto da floricultura.
- Você tem que fazer novas amizades, conversar com meus amigos, eles iriam adorar você.
- Eu não "tenho que" fazer nada.
Ele sempre me convidava para ir a alguma festa das pessoas da sala ou lual com os amigos da turma dele, mas ainda não me sentia a vontade com a presença da Raquel e mal conhecia aquele grupo de amigos, preferia acreditar que aquele ano passaria rápido e que logo eu não estaria mais no ensino médio.
Por enquanto eu gostava da presença dele, sempre simpático e engraçado, fazia questão em saber se eu estava bem.
A melhor parte do dia era quando eu estava na floricultura, dona Rute quase não estava por lá, em alguns dias ela ficava mais em casa, no andar de cima, os momentos que ela aparecia eram marcados por broas de fubá, cafés e geleias de diferentes sabores no jardim da casa. Geo passava a maior parte do tempo comigo na floricultura, era bom estar perto dele, eu me sentia em casa, os dias eram marcados por risadas e memes, algumas semanas eu ia em uma ou outra das festas alternativas que ele frequentava, Alicia de vez em quando ia para loja fazer companhia, ela era agradável e muito educada, mas presenciei algumas brigas intensas entre os dois.
Dona Rute concordou em deixar o espaço do quintal destinado como lar temporário do cachorro, que ganhou nome carinhoso de Mello, mas o lar temporário durou pouco, porque ela se afeiçoou ao cachorro e ele passou a fazer parte da rotina da loja. Tudo parecia caminhar bem, a cada dia eu percebia que não era tão ruim estar morando em uma cidade nova, o Rio era gigantesco e trazia várias novas possibilidades.
Na última semana do mês, tudo estava seguindo seu rumo, era uma quinta-feira e apesar do inverno estar começando, o dia estava quente, me levantei e segui a mesma rotina, café da manhã com a família, o trajeto seguindo pela praça onde dava para observar o mar, cheguei em aula e me sentei no fundo com fones de ouvido, Mark chegou logo depois, me cumprimentou e sentou na cadeira a frente, a aula era de literatura e estávamos discutindo Grandes sertões, de guimarães rosa, apesar de muitos presentes na aula não gostarem de literatura brasileira, eu não fazia silêncio nem por um minuto se quer, quando a professora propunha pontos de discussão. Posteriormente, tivemos um horário vago, Mark ficou na sala tagarelando e trocando ideia sobre a programação do fim de semana, também permaneci na sala rolando o feed, meus amigos me mandavam mensagens sem parar, meu aniversário se aproximava e eu era conhecida na minha cidade pelas festas mais insanas. Eu ri baixo quando pensei que se Mark ou Geo soubessem disso eles não acreditariam.- Ta rindo de que? - ouvi Mark falar do outro lado da sala
- Eu realmente estou sendo observada né... - respondi, Mark e os outros dois colegas se aproximaram, Renan e Daniel sempre estavam com Mark, mas eu nunca me aproximava muito das "panelinhas" da escola, Renan tinha 1,73, era um homem negro com o cabelo raspado dos lados, usava um piercing no septo e tinha algumas tatuagens nos dois braços e era bastante estiloso, Daniel era um pouco mais alto que Renan, tinha cabelos pretos e olhos castanhos, era um homem branco, e usava óculos, também tinha aquele ar de uma pessoa popular e um estilo admirável.
- De vez em quando falamos de você, mas é uma mulher de poucas palavras - Renan fala e se senta na cadeira ao meu lado