O PEQUENO CERVO não foi o suficiente para saciá-lo e aquele sangue selvagem deixou um gosto desagradável em sua boca nas primeiras horas do amanhecer, causando uma desconfortável insatisfação que o acompanharia pelo restante do dia. Frustrado, era a palavra que o definia bem após a refeição e, caminhar em meio as dezenas de adolescentes, era como se quisesse forçar seus limites, descobrir até que ponto seu autocontrole iria e o quão salvos os humanos estariam.
Os pensamentos deles eram invasivos demais, poderia muito bem ter escolhido não os ouvir, mas continuava por pura diversão. Ver sua imagem pelos olhos humanos era uma atividade que o entretinha: as costas largas escondidas pela jaqueta de grife, o sorriso mínimo em seus lábios que o deixava com um ar de superior e atiçava a curiosidade alheia; porém havia um único motivo para aceitar ser bombardeado com aqueles pensamentos: depois de tanto tempo nas sombras, Alec quase se esqueceu de como costumava ser admirado por aqueles seres.
Ele gostava da sensação.
Ajustou os óculos escuros que usava para proteger os olhos sensíveis e puxou um papel abarrotado do bolso, desdobrando-o como se tivesse alguma dúvida de qual seria seu primeiro horário. Ele havia arquitetado tudo com antecedência, mas preferia manter as aparências de um aluno novo e perdido. Indagava-se a quem aquela máscara estaria enganando.
Um suspiro pesado escapou.
Nunca em todos os anos de sua morte imaginou que retornaria a andar pelos corredores de um colégio, tentando se mesclar com aquilo que não condizia com sua realidade. Qualquer um que o conhecesse de verdade consideraria cômico, por falta de palavras melhores; patético, completou sua linha de raciocínio. Por que estava em Haven Heights? Lembrou-se do fio de luz dourada que o chamava em meio a escuridão e calou seus próprios pensamentos como se alguém pudesse lê-los.
Pela primeira vez desde que se tornou aquilo, Alec estava buscando refúgio no sol que o odiava.
Seus olhos ardiam.
Olhando ao redor, ele não poderia negar que estava curioso após ver a energia apenas como um espectro nos pensamentos do pescador, e o horror que se instalou nos olhos escuros provou que era algo que iria valer a pena. E ele a viu ali, pelos olhos dos outros – mas sempre como um vulto de cabelos prateados, uma aparição que os deixava admirados. Tudo o que conseguiu juntar foram fragmentos da sua presença.
O professor não estava na sala e grande parte dos alunos conversavam entre si, fazendo com que o burburinho matinal preenchesse a sala, porém silenciaram-se assim que Alec cruzou a linha da porta; em compensação, a onda de pensamentos que seguiu o silêncio quase o nocauteou. Precisava desligar seus sentidos para conseguir ouvir os seus próprios, mas ficou tão inebriado por sua presença que, nos primeiros milésimos de segundo, esqueceu o que estava fazendo ali.
A energia era humana, mas se destacava em meio as demais como um farol em meio ao mar tempestuoso, trazendo um sentimento inquietante que ia além de uma simples nostalgia. Era um vazio antigo que se traduzia em saudade de algo que ele nunca poderia recuperar, um sentimento que tentou sufocar inúmeras vezes ao longo dos anos por se sentir tão fraco quanto um humano.
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𝑳𝒖𝒂 𝒅𝒆 𝑺𝒂𝒏𝒈𝒖𝒆【Saga Anoitecer】
VampirSaga Anoitecer: Lua de Sangue BASEADO EM THE VAMPIRE DIARIES, POR L.J. SMITH Haven Heights nada mais era do que uma pacata cidade do interior onde todo mundo se conhecia e nunca tinham novidades extraordinárias, por isso quando Anastásia voltou dep...