Capítulo 12

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[Música do capítulo: Even My Dad Does Sometimes - Ed sheeran]

O cheiro de café se alastrava pela casa de forma que até mesmo o segundo andar estava impregnado com seu aroma. Meu estomago roncou e percebi que a corrida havia feito com que minha frustração saísse dando lugar para algo bem maior, minha fome.

Desci as escadas ajeitando a gravata e sorri para o Mike ao chegar à cozinha, Eva estava concentrada em fazer o lanche de Arch e assim ficou insignificante a minha entrada.

-Matt você pode levar o Arch e a Eva para a escola, por favor? Estou atrasado para uma reunião importante.

Bom, eu poderia, e faria isso, mas porque forças divinas isso precisava ser logo hoje?

-Claro, é caminho para onde eu estou indo. – na verdade não era.

-Ótimo, vejo você mais tarde. –pegou suas chaves do carro e a maleta, se despedindo do Arch ao sair.

Um silêncio estranho e incomodo se apossou do cômodo, até mesmo Arch parecera perceber e não havia motivos para isso em sua concepção. Se o problema era falta de comunicação, isso não faltou durante todo o caminho até sua escola. Ruas, esquinas e sinais, meu pequeno sobrinho parecia empenhado em destruir qualquer barreira que fosse imposta pelo mudo de nossas bocas.

-Vê se não tagarela tanto na aula. – zombei-o enquanto ele descia do carro com sua mochila e sacola de papel.

-Tio... Elas adoram. –piscando como se fosse o maior conquistador de todos os tempos, seguiu para dentro da escola, logo encontrando seus amigos.

Sem conter a risada, voltei a dar partida, fazendo com que todo o esforço de Arch fosse destruído. Lá estava ele de novo, sólido como uma rocha, imposto entre nós como o muro de Berlim, construído em pouco tempo como o mesmo, com a mesma força de separar as famílias, ele separou nossos sentimentos e comunicação e impediu que qualquer um atravessasse para o outro lado. Até que enfim eu decidi que não seria capitalista ou socialista, tampouco ia ficar sobre o muro esperando sua derrubada.

Estacionando no acostamento, olhei-a enquanto retirava o cinto.

-Eu não sei qual o problema que sempre aparece entre nós dois quando se trata de comunicação, mas está bem claro que isso não ajuda nenhum de nós. – respirei fundo e apertei o lábio inferior com o indicador e o polegar, sem quebrar nosso contato visual, que havia se estabelecido assim que tive sua atenção ao parar o carro - o que aconteceu? Me diz. Fala comigo Eva.

Seus olhos pareciam mais claros que o normal, como se fosse apenas questão de tempo até que todo interior dela se deteriorasse e fluísse para fora, transformando-a em uma só novamente ao finalmente se libertar.

-Eu não entendo o que estou sentindo. –admitiu e suspirou, desviando o olhar pela primeira vez. Suas mãos brincavam com seus dedos, os entrelaçando, numa briga interna que apenas ela entendia, mas que eu também travaria batalhas para entender. – é tudo muito confuso. Eu sempre me virei bem, eu fui o que precisava ser, minha própria mãe, pai, tutora. Eu estava bem, mas então você chegou e tudo isso aconteceu. Eu não tenho rumo, penso nisso o tempo todo e você me faz sentir estranha. Querida... – suas bochechas estavam coradas, e um pequeno sorriso surgiu em sua boca. – Eu passei por muita coisa Matt. Minha família, de onde eu vim, tudo foi destruído e eu fiquei sem nada. Até que você apareceu. E então nada mais fazia sentido. Meus planos não deram certo e... –cobri suas mãos com uma minha a incentivando a continuar. Eu queria ouvir. Queria ajuda-la, por Deus eu queria. – e todo o resto começou a dar.

Babysitter Of My NephewOnde histórias criam vida. Descubra agora