Babysitter Of My Nephew

Capítulo 15

Eu não lembrava como havia acabado naquele estado. O choro e a dor presa por anos, foram soltos com algumas palavras de uma conversa importante.

Acho que no momento em que chegamos ao fundo do poço percebemos que não tem mais pra onde ir. Às vezes é bom estar lá. Notar o quanto perdemos, para nunca mais cometermos os mesmos erros. Notar que a vida não é feita apenas de momentos bons, mas são esses que nos fazem querer continuar. Dar valor a isso. Dar valor as pessoas, relações, dar valor a cada minuto que respiramos. Nós nunca vamos saber o que pode acontecer amanhã, daqui uma semana ou um ano. Então cada segundo é importante. Cada emoção, gesto ou palavra tem um grande significado. Talvez um muito maior do que podemos presumir. Tomar cuidado e saber aproveitar cada um desses dons da vida, era o maior presente que podíamos ter.

Os dedos da Eva se enrolavam em meu cabelo e o deixava livre em seguida. E então de novo, e de novo, numa espécie de carinho ensaiado. Minha cabeça estava em seu colo e agora eu pensava sobre nós. Sobre o quão nossos passados haviam afetado quem de fato éramos agora. Quem nos tornamos. Mas o que seriamos sem eles? O que de fato nos tornaríamos se nada disso tivesse acontecido? O destino ainda nos traria aqui? Eram muitas perguntas e nenhuma resposta que eu pudesse dar com total precisão. Certas perguntas talvez não tivessem sido feitas para respondidas, apenas para existirem.

-A chuva parou. – ouvi sua voz dizer e direcionei meu olhar para seu rosto, que encarava a janela da sala. Havia parado, mas o frio ainda corroia nossos ossos.

-Vamos para cama. – me levantei e entrelacei nossos dedos, esperando o momento em que subiríamos a escada.

-Juntos?

A olhei receoso e incerto. A última coisa da qual eu precisava hoje era ficar sem ela.

-Eu espero que sim.

Um sorriso dela e meu alivio chegou.

-Eu também.

Optamos por deitar em seu quarto, o meu parecia muito menos acolhedor.

Deitamos sem pressa, ela se aconchegou em meu peito e eu me aconcheguei a ela. Céus, eu nem fazia ideia do quão bem aquela mulher me fazia.

xXx

Acredito que contar sobre nossos passados havia nos aproximado ainda mais. Agora eu e Eva realmente sabíamos onde estávamos nos metendo. Apesar de todas as cicatrizes que havíamos acumulado até aqui, as coisas estavam melhorando aos poucos.

No dia seguinte fomos até o hospital visitar seu amigo, Elliot, que não demorou a conseguir a liberação do hospital. Fiz questão de levá-lo até sua casa. Ele morava em um prédio nada luxuoso, mas extremamente acolhedor. O ajudei a entrar em casa e a se acomodar enquanto Eva falava com alguém do lado de fora, pelo celular.

Poucos minutos depois ela entrou acompanhada de um homem duas vezes maior que ela.

-Matt, esse é o Trevor. Ele e o Elliot são – ouvi Elliot resmungar "amigos" em minha direção, Eva continuou como se não tivesse o ouvido – namorados. Acho que vamos os deixar em boas mãos.

Trevor sorriu para mim e estendeu sua mão.

-É um prazer te conhecer, a Eva disse muito sobre você. – comentou, mesmo que agora já não olhasse mais em minha direção. Parecia muito mais preocupado com Elliot do que com qualquer coisa ao seu redor. Talvez tenha sido por isso que não viu quando Eva ruborizou e resmungou baixo demais para que qualquer um compreendesse.

-Já podemos ir.

Ri e cumprimentei Trevor e Elliot mais uma vez. Eles se olhavam com um carinho infinito, mas havia algo a mais ali. Havia um passado.

Descendo as escadas, fomos em direção ao meu carro, logo seguindo para casa.

-O que aconteceu lá em cima? – perguntei curioso.

-Elliot e Trevor se conhecem desde que nasceram. O Elliot sempre foi apaixonado pelo Trevor, mas eles dois vem de uma família muito conservadora. Acho que, mesmo que eu não tenha convivido com eles quando eram crianças, o Trevor também sempre o olhou com... Algo a mais. Entende? –sacudi a cabeça, indicando que sim – bom. Acontece que conforme o tempo passou, ficou ainda mais difícil para os dois esconderem o que sentiam um pelo outro. Eles passaram uma noite juntos e decidiram que iriam se assumir para a família deles. Esse era o plano inicial. Só que quando os dois chegaram em casa, o Elliot se assumiu para os pais, que o expulsaram de casa, mesmo sabendo que aquele ali era o filho deles. Mesmo sabendo que a opção sexual do Elliot nunca mudaria quem ela era. A pessoa incrível que ele ainda é. O Trevor não teve a mesma sorte.

-Pelo amor de Deus mulher, não para de falar agora. – a olhei com os olhos arregalados e ela riu para mim, me fazendo a imitar. Era impossível não sorrir com seu sorriso.

-O Trevor namorava uma menina na época. Quando ele chegou em casa ela estava lá, com os pais dela e os dele. Ela contou que estava grávida, por isso a reunião com as duas famílias. O Trevor ficou sem saber o que fazer, na verdade ele quase enlouqueceu. Nessa época eu já morava aqui e lembro bem o inferno que foi na vida dos dois. O Trevor não contou para a família dele, e a família da namorada dele quase exigiu um casamento. Eles chegaram a marcar a data e começar a preparar a cerimônia. Deus, eu lembro até hoje como o Elliot ficou arrasado. Foi de cortar o coração. – suspirou e me olhou quando eu estacionei em frente a casa do Mike e da Jessy. – Mas uns dois meses antes do casamento, o Trevor conversou com a noiva dele, e por incrível que pareça foi ela quem o incentivou a ir atrás do Elliot. Desde então eles ainda estão tentando se acertar. Os pais do Trevor não aceitam a relação deles, muito menos os do Elliot, mas o Trevor ainda mantém contato com a família, então é tudo muito difícil. Também tem a questão financeira. O Trevor trabalha para o pai, na empresa dele, e depende do dinheiro para ajudar a mãe do Tommy, o filho dele, a pagar todas as contas dele. O pequeno tem um problema de respiração e já passou por duas cirurgias.

Entrando em casa, passei uma das mãos pelos cabelos. Deus! Coitados desses dois. Odiava ver injustiças acontecerem.

-O Trevor trabalha com o que? – olhei para Eva, enquanto nos dirigíamos até a cozinha.

-Ele é advogado civil.

Franzi o cenho enquanto algumas ideias surgiam em minha mente.

-Acho que posso ajuda-lo.

Eva me olhou surpresa, com um sorriso brincando em seu rosto.

-Mesmo? Como?

-A Melissa está passando por alguns problemas com o ex dela. Ela se envolveu com um cara da pesada e agora não consegue se livrar dele. Ele está a chantageando. Quando ela foi até meu escritório, foi para isso, para pedir minha ajuda. Se eu falar com o Trevor, acho que ele pode me ajudar a ajuda-la. A fazer algo por ela.

Eva assentiu, mesmo com o cenho franzido, parecia confusa, mas ainda animada com a ideia.

-Posso ligar para ele agora mesmo se quiser.

-Me passa o número dele. Acho que podemos deixar esses assuntos pesados para segunda feira. Hoje ainda é sábado e quero ter um dia normal com você. Sem preocupações.

Abracei sua cintura, assistindo-a preparar duas canecas de chá para nós dois.

Um sorriso veio da parte dela, e eu fiz questão de beijá-lo. Descobri com o tempo que Eva era inteiramente gostosa. Até mesmo quando se tratava de sua companhia silenciosa. Ela era inteira feita para acalmar meu caos. E eu era inteiro feito do dever de fazê-la feliz.