Capítulo 3

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Meus olhos ainda pesavam de sono quando eu finalmente saí do quarto aquela noite. Vi no relógio que ficava na cabeceira da cama que eram quase onze da noite, e previ que aquela hora todos já haviam jantado e ido se deitar; quando digo todos, na verdade eu torcia para que a Eva já tivesse feito isso.
Passei pela sala e vi um portfólio com meu nome escrito e um pedaço de papel preso a ele, andei até a mesa em que ele estava, o examinando. Folheei suas páginas, descobrindo serem mais papéis que eu teria que analisar, e pus ao lado da minha pasta, que ainda estava parada no mesmo lugar em que eu havia deixado quando cheguei em casa.
Meu estômago roncou e eu percebi que só havia comido naquele dia um hambúrguer no estacionamento da lanchonete, aquilo realmente não me manteria alimentado por todas as horas que passei dormindo. Abri a porta da geladeira assim que cheguei à cozinha, vi um prato coberto com uma embalagem transparente e o tirei de cima dele, colocando-o no micro-ondas e apertando o número três. Deixei o aparelho fazer o resto, abri uma latinha de coca e me sentei à bancada de uma forma confortável o suficiente para conseguir tirar um cochilo enquanto a comida esquentava. Acho que esse fator ajudou bastante para que eu não caísse quando abri os olhos e vi a Eva parada no batente da cozinha.
— Eu... Oi. Desculpa, eu não queria te assustar — sorriu, tentando parecer confortável, mas eu sabia que ela estava desconcertada; suas mãos estavam inquietas e os alvos eram os cabelos, que sofriam com a grande pressão que ela colocava para arrumar uma franja tímida que insistia em tapar seus olhos. Eles estavam soltos e desciam pelas suas costas em cascatas; não eram longos demais, nem curtos demais, na verdade, na minha opinião, eles estavam na medida certa para serem puxados pelas minhas mãos sedentas que insistiam em tentar imaginar a textura dos seus fios, pelo qual eu já poderia ter uma ótima noção de serem macios o suficiente.
— Tudo bem, eu estava distraído — forcei minha voz a dizer depois de um tempo a analisando, e desci da bancada tentando não parecer desmazelado.
Eu sabia o porquê dela estar ali e sabia por que o clima estava denso, então apenas pus as mãos dentro dos bolsos enquanto balançava meu corpo para frente e pra trás, em uma movimentação inútil de tentar aliviar a tensão que se acumulava sobre mim a cada segundo que passava no mesmo cômodo que aquela menina. Eu havia a visto nua mais cedo, havia a visto transando, havia a visto gemendo; tinha ficado duro com aquilo, batido uma boa punheta pensando nela, e agora estava agindo como um adolescente de treze anos de idade que vê peitos pela primeira vez e não sabe como reagir. Parabéns, Crawford, você é um exemplo para a raça dos homens.
— Eu, hm, queria falar com o senhor se fosse possível, senhor Crawford... — ela começou, pondo os cabelos para trás da orelha em um movimento leve.
Estava visivelmente desconfortável, mas eu apostaria dizer que ela estava tentando achar um ponto para finalmente começar aquela torturante conversa que me faria lembrar dela, de seus gemidos e de sua nudez. Cocei a garganta para garantir que minha voz não sairia vergonhosamente falha.
— Tudo bem, mas, por favor, sem o senhor. Eu tenho vinte e nove, não quarenta e nove — sorri de lado, indo tirar o prato do micro-ondas, que apitava de um jeito incômodo para ser apreciado como uma música de fundo para aquela conversa.
— Eu queria me desculpar, de verdade, por hoje mais cedo. Eu não costumo fazer isso e não sei o que deu na minha cabeça para fazer agora — começou, em um tom que eu julguei ser sincero. Ela falava olhando em meus olhos e de certo modo eu gostava daquilo, me transpassava veracidade. — Eu seria hipócrita em dizer que nunca trouxe ninguém pra cá enquanto a Jessy e o Mike estavam fora, mas eu juro pelo meu emprego que o que houve hoje nunca ocorreu aqui dentro. Eu entendo se o senhor for dizer algo para seu irmão, e não o pedirei o contrário sabendo que errei. Apesar desse emprego ser muito importante. Eu me apeguei muito ao Arch e não gostaria de sair da vida dele com os pais dele me achando uma vadia de quinta. Só pediria para que o senhor... você — concertou, sorrindo de lado; era um sorriso triste, quase sofrido — conversasse com ele de uma forma sutil. Sei que traí a confiança deles e estou completamente arrependida por isso, ainda não sei como Aron me convenceu a fazer isso, talvez eu não seja realmente um exemplo de pessoa forte — seu tom agora era magoado, parecia haver uma história muito maior do que eu poderia imaginar por trás daquela simples frase, porém não ousei a interromper. Com um suspiro fraco, ela finalizou: — Só queria assegurar que isso não vai se repetir.
Seu discurso inteiro parecia sincero, apesar da sua voz às vezes transmitir mais do que ela estava realmente falando. Seus olhos me analisavam de uma forma meticulosa, como se quisesse saber o que se passava em minha cabeça. Ela inspirou profundamente, ainda esperando uma declaração minha, talvez temesse pelo pior, e eu resolvi não prolongar seu sofrimento.
— Eva, eu já tive sua idade, sei o que é fazer uma besteira e me arrepender depois. E acredite se quiser, eu ainda sei como é ter hormônios incontroláveis — ri baixo e a vi sorrir também, prendendo uma risada pela seriedade do assunto. — Eu não vou falar nada com a Jessy e o Mike, e não falaria mesmo se não tivesse essa conversa com você, apesar de ter ficado bastante aliviado com ela. Relaxa, ok? Eu não vim pra cá pra destruir seu emprego, e não vou fazer isso. Afinal, eu não posso julgar algo que também já fiz — admiti naturalmente, me surpreendendo como as palavras pareciam fluir perto dela.
A verdade é que eu poderia contar um ou dois casos na minha vida sobre sexo no trabalho e eu não poderia me arrepender nem um pouco disso. Eu era viciado por adrenalina, e a sentir fluindo por cada poro do meu corpo enquanto eu pulava de um penhasco ou fazia algo proibido não tinha comparação a nenhuma outra coisa que eu já fiz em toda a minha vida.
Sorri, dando fim ao meu discurso, e a vi respirar aliviada e num impulso acabar com o espaço que existia entre nós dois, enlaçando meu pescoço com os braços em um abraço apertado. Fiquei parado por um tempo por ter sido pego de surpresa, mas logo a abracei pela cintura, retribuindo o gesto de alívio dela. Meu nariz estava praticamente afundado em seu pescoço e um cheiro incrivelmente gostoso de hortelã com cidra invadia meus pulmões, me deixando satisfeito.
— Muito, muito, muito obrigada, senhor... Quero dizer... Matthew. — se corrigiu, me soltando e sorrindo aliviada.
Acompanhei seu movimento dos lábios com os olhos e assenti, em seguida voltando a pôr as mãos nos bolsos, sem saber muito bem o que fazer com elas, já que as mesmas ainda tinham curiosidade em descobrir todo seu corpo. Aquela menina estava realmente tirando a minha sanidade.
— Eu vou deixar você jantar em paz, obrigada mais uma vez — ela sorriu e saiu da cozinha antes que eu protestasse, não que eu fosse realmente fazer isso, afinal, o que eu diria?
"Hey Ev, o que acha de ficar aqui, me fazer companhia e depois transarmos em cima da bancada, porque eu não consigo parar de pensar em mim no meio das suas pernas e em você gemendo meu nome?"

Babysitter Of My NephewOnde histórias criam vida. Descubra agora