Capítulo 16

9 2 0
                                    


-Deveríamos viajar. – constatei depois de um tempo em silêncio.

No início da noite decidimos que seria bom sair para respirar um pouco de ar puro. Andando, seguimos até um restaurante no Hyde Park. Nos sentamos nas mesas do deque, observando a estrutura e beleza do local.

Uma risada gostosa veio dela, e eu me peguei sorrindo junto.

-Por que acha isso?

-Porque eu quero conhecer o mundo. Assim como quero conhecer você. Cada local precioso escondido. Cada curva desconhecida. Cada parte remota que não é tão bem valorizada quanto deveria. – sorri, porque há essa hora eu já não saberia mais distinguir se falava dela ou... Do que eu estava falando além dela?

-Quando eu concluir o ano na escola... Podemos traçar uma rota. – um suspiro longo tomou o lugar do seu sorriso – Eu tenho o dinheiro que o banco transferiu da conta da minha mãe para a minha quando ela morreu. Tenho certeza de que ela gostaria que eu usasse esse dinheiro para viver de verdade. E eu já vou ter feito dezoito até lá.

Segurei suas mãos sobre a mesa, nossos olhares se encontraram nesse instante.

-Eva, você nunca mencionou por onde anda o seu pai. Quando... Os policiais ficaram com você... Depois o que aconteceu?

-Meu pai chegou para me buscar na delegacia, mas ele já sabia, acho que até antes de acontecer, que íamos acabar daquele jeito. Minha mãe teve depressão quando nova, depois distúrbios emocionais e ela sofria de síndrome do pânico. –suspirou e ajeitou os cabelos, numa tentativa de acalmar a si mesma – quando você convive tão de perto com alguém com problemas emocionais, você aprende a valorizar a saúde mental. Muitas pessoas acham que tudo e qualquer coisa ligado a emoções e sentimentos é algo controlável, mas não é. Esse... Senso comum em que as pessoas vivem acostumadas a julgar, acaba prejudicando e tornando ainda mais difícil uma recuperação psicológica. –levanta os ombros – eu tento não culpar outras pessoas, minha mãe fazia muito esforço apesar disso. Ela era feliz. Feliz de verdade. Na maior parte do tempo.

Assenti e respeitei sua pausa quando ela decidiu tomar um pouco de fôlego e encarar a paisagem

- Ele e eu ficamos juntos por um tempo. Nunca conversamos sobre o que aconteceu com a minha mãe. No final, pouco tempo antes de eu decidir sair de casa, ele vivia outra vida, com outra mulher, que eu ouvi dizer estar grávida dele. Ele raramente ia em casa, aparecia poucas vezes, nunca perguntou como eu estava. Foi como se ele tivesse se transformado em outra pessoa. Uma completamente diferente. Completamente desconhecida por mim.

-Nunca mais se falaram desde então?

Eva apenas negou, se recolhendo em seu mundo quando o garçom trouxe nossos pratos.

Tentei, apenas tentei, por alguns segundos me colocar em seu lugar. Perder minha mãe, e de certa forma meu pai, ficar completamente sozinho e desamparado no mundo. Vir parar em outro lugar, desconhecido, ser acolhido na casa de estranhos... Parecia surreal para mim.

O resto do jantar foi com conversas amenas e reconfortantes. Não queria leva-la para um caminho perigoso e tortuoso. Eu tinha muitas coisas a dizer sobre seu pai, mas nada que fosse ajudar em sua situação no momento, então eu apenas me calei.

Voltamos para casa de táxi, abraçados, como um casal.

A monotonia com ela nunca seria entediante

Quando chegamos em casa, peguei meu notebook para rever alguns emails sobre a empresa, achando ter pensado em algum assunto relacionado a nova estratégia da equipe, mas acabei me concentrando no email que o Trevor tinha me enviado como resposta.

-Tudo bem? Você parece preocupado. – Eva perguntou, assim que entrei em seu quarto com o notebook em mãos. Ela estava parada perto de sua escrivaninha e retirava os brincos e acessórios numa calma invejável.

-Ainda vou descobrir. O Trevor quer marcar uma reunião de emergência comigo e com a Melissa. Ele disse que descobriu coisas das quais só pode dizer pessoalmente.

-Ok... Isso é preocupante. –constatou enquanto retirava as meias e os tênis, seguindo em minha direção ao acabar.

Deixei o computador de lado para que pudesse abraça-la, deitados em sua cama.

-Preciso resolver isso. A Melissa pode ter sido uma vaca quando terminamos, mas ela era minha amiga antes. E eu sei que ela usa esse escudo de ironia pra não se deixar afetar pelos outros.

-Talvez até pela própria dor.

-Eu não duvido disso. –parei por alguns segundos antes de prosseguir –posso fazer uma pergunta?

Eva sorriu ao apoiar o queixo em meu peito. Acariciei seus cabelos, enquanto ela fechava os olhos em deleite.

-Até três se continuar com esse carinho.

Ri e temi acabar com nosso clima ao exteriorizar minha duvida.

-E quanto ao Aron? Seu namorado. Ex namorado. –me corrigi e não tirei os olhos do seu rosto. Sua paz não parecia ter sido abalada.

-Ele é... Um jovem com muita coisa para aprender. –levantou os ombros, falando como se existisse uma diferença grande de idade entre eles. Me repreendi pelo pensamento. Ela sabia que eles tinham idades próximas ou similares. Mas ela realmente tinha mais maturidade do que ele. – principalmente a respeitar o espaço de uma mulher quando ela diz não para ele. Mas eu não o culpo. Ele cresceu achando que era assim que tinha que ser, foi ensinado assim pelos pais. Deve ser difícil reagir quando uma menina simplesmente diz que não quer mais. Quando o jogo se inverte o ego masculino sente.

Ri, pois sabia que era verdade.

-Vamos dormir. Temos um longo dia amanhã.

-Nós temos?

Assenti, sorrindo suspeito. Arranquei uma risada gostosa dela, enquanto nos levantávamos para escovar os dentes e trocar de roupa.

Em alguns minutos estávamos embolados em sua cama novamente.

E era assim que eu desejaria ficar por muito tempo.

N.A.: Fim da att tripla meus amores, não deixem de comentar! 

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 30, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Babysitter Of My NephewOnde histórias criam vida. Descubra agora